Quando a covid começou a se espalhar, diversos hospitais em diferentes países passaram a separar as mães com teste positivo de seus recém-nascidos, na tentativa de proteger os bebês. Mas um novo estudo publicado na JAMA Pediatrics descobriu que essas crianças podem ser amamentados e, inclusive, ficarem com suas mães, mesmo que elas tenham covid, sem um risco aumentado de contrair o vírus. “A maioria de nós acreditava que era a coisa certa a fazer — mas manter a mãe e o bebê juntos é que era a coisa certa a fazer. Amamentar era a coisa certa a se fazer”, disse Cynthia Gyamfi-Bannerman, especialista em obstetrícia e medicina fetal materna no NewYork-Presbyterian/Columbia University Medical Center. “Encorajamos as mães a usarem máscaras, lavar as mãos e limpar os seios antes de amamentar”, completou.
Ela, que é autora da análise retrospectiva, disse que os pesquisadores observaram 101 bebês nascidos de mães que testaram positivo para covid na cidade de Nova York, quando era o epicentro da epidemia de coronavírus nos Estados Unidos. Na época, os especialistas não entendiam tanto sobre o vírus quanto agora. Mesmo assim, o hospital onde ela trabalhava nunca separou recém-nascidos de mulheres com covid. Em vez disso, os médicos incentivaram a lavagem das mãos, o uso de máscara e a amamentação após "higiene apropriada". Dos 101 recém-nascidos, o estudo descobriu que não havia “evidência clínica” de uma mãe transmitindo o vírus ao bebê, o que é conhecido como transmissão vertical. “Não estamos dizendo que não há transmissão vertical ou que é impossível. Para a maioria das mulheres, elas deveriam pelo menos ter certeza de que não precisam ser separadas de seus bebês. A probabilidade de transmissão naquele ambiente com as precauções adequadas — máscaras, higiene das mãos e dos seios — é muito baixa”, afirma.
Isso significa que a mãe e o bebê não precisam passar os primeiros dias do pós-parto em dois quartos diferentes, o que pode ser prejudicial para o desenvolvimento do bebê e seu relacionamento inicial. “Dados como este estão de acordo com o que tem sido nossa experiência no mundo real”, disse Hyagriv Simhan, professor do departamento de obstetrícia, ginecologia e ciências reprodutivas da Escola de Medicina da Universidade de Pittsburgh, que não participou do estudo. “Isso nos ajuda a entender que o contato materno com o recém-nascido em geral pode ser realizado de maneira segura, o que é ótimo, e deve ser tranquilizador para as mães”, completou, em entrevista ao Today Parents.
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CONTATO MÃE E FILHO
O contato próximo entre a mãe e o recém-nascido é importante para fortalecer a conexão entre os dois e pode levar a mais sucesso na amamentação. “Os benefícios emocionais e físicos do contato mãe-recém-nascido são numerosos em termos de conexão emocional no início da paternidade. É importante para facilitar a amamentação”, esclareceu o professor.
O Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas compartilhou sua política, que foi atualizada em agosto, e também recomenda manter a mãe e o bebê juntos, mas reconhece que pode haver casos em que separá-los pode ser melhor: "Embora os dados ainda estejam surgindo e os efeitos a longo prazo ainda não sejam totalmente compreendidos, os dados sugerem que não há diferença no risco de infecção por SARS-CoV2 para o recém-nascido, independentemente de o recém-nascido ser cuidado em um quarto separado ou permanecer no quarto da mãe. É importante ressaltar que qualquer determinação de manter os indivíduos com infecção conhecida ou suspeita de SARS-CoV-2 e seus bebês juntos ou separados após o nascimento deve incluir um processo de tomada de decisão compartilhada com o paciente, sua família e a equipe clínica", escreveu.
Os especialistas também esperam que essas descobertas amenizem os medos que as mães grávidas podem sentir quando se submetem ao teste de covid antes do parto. “Quando há uma recomendação de separação é um verdadeiro desestímulo. Portanto, remover essa advertência, permitindo o contato materno, oferece alguma garantia", finalizou.
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