Esta semana (em que escrevo) estou exausto. Até para escrever isso precisei de um tempo para criar coragem. Assumir o cansaço e suas consequências dá vergonha. Durante esta semana, todos os dias, já sem ideias criativas para brincar com os meus filhos, também sem vontade de jogar jogos de tabuleiro, jogos de carta, montar quebra-cabeças, desenhar e conversar sobre algo lúdico, liberei o tablet. E lá ficaram por uma semana assistindo a vários desenhos, joguinhos... De vez em quando, eu supervisionava, mas, confesso, sem muita força, porque dizer não cansa mais ainda.
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Cheguei a dizer ao meu filho que a pior parte de ser pai é ter de dizer não várias vezes ao dia para eles. Fui na internet procurar alguma coisa sobre o tema, e uma das primeiras piadas que encontrei foi: “Decidi que não quero mais ter filhos, amanhã de manhã vou contar para eles”. Achei bem-humorado, mas nem consegui rir. O cansaço era tanto que até para rir eu não tinha força.
Foi uma semana devastadora, onde não consegui olhar para a casa. O tempo todo notícias de assassinato de jovens negros, os dados da pandemia crescendo, descaso por um lado, convites a protestos de outro, mobilização para ir às ruas mesmo no meio da pandemia... e as crianças com a cara no tablet. Noto os dois mais ansiosos, ariscos, respondendo a tudo com gritos e, às vezes, pulando de um lado para o outro sem motivo e sem a característica lúdica dos pulos em tempos de sossego. Eles não cabem em si. A agonia aumenta. Penso em conversar com a minha esposa, mas nem isso consigo.
Essa foi a pior semana da pandemia. Agora que ela passou, eu vejo como foi importante para uma decisão: não deixar a história me atropelar. Não abrir mão de continuar lutando por uma vida saudável mesmo em meio a tanto caos. A semana seguinte começa, acordo um pouco mais cedo, olho pela janela. As crianças acordam meio sonolentas, olho para elas, coloco um café e, naturalmente, vem um sorriso. Estamos recomeçando. E será assim.
Um dia de cada vez. Eu olho para as crianças, elas olham para mim e, depois de um silêncio, alguém faz uma piada e a gente dá uma gargalhada. Um pouco de leveza aparece. Coloco o café, e agora, não mais uma gargalhada, um breve sorriso. Estamos recomeçando. E será assim. Um dia de cada vez.
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LÁZARO RAMOS É ATOR, APRESENTADOR, DIRETOR E ESCRITOR, CASADO COM A ATRIZ TAÍS ARAUJO E PAI DE JOÃO VICENTE, 8 ANOS, E MARIA ANTÔNIA, 5
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