Narjarie Gomes é nordestina e resolveu, há menos de um ano, se mudar para a Califórnia, Estados Unidos, com a família, e ela encontrou uma maneira criativa para animar a filha, a pequena Maria Lis, 5 anos, que estava com dificuldades de adaptação: escrever recados nas refeições da menina! "Escrevi por ela ter chorado de saudades, outra vez, porque ficou triste quando não entendeu a aula em inglês", conta.
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Mas não é só isso! Todas as mensagens também chegam acompanhadas de muito acolhimento e diálogo. "Para refletir, converso sobre a mensagem durante a refeição, e sempre pergunto como poderíamos resolver. Tem dias que ela embarca na conversa e não para. Tem dias que não. E tudo bem ser assim. Talvez um dia ela nem lembre do que tinha na cozinha, na mesa, no prato ou na mensagem, mas sei que lembrará com carinho desse momento e das nossas conversas. E é isso que realmente importa pra mim", afirma. Sobre a alimentação, ela comenta. "Ela sempre comeu bem, mas fazer esses pratinhos, fortaleceu ainda mais a relação dela com a alimentação saudável. Ela aceita as verduras com muito mais entusiasmo agora", diz.
Em entrevista exclusiva a CRESCER, a mãe contou em detalhes de onde surgiu a ideia de escrever mensagens no prato da filha e como, aos poucos, conseguiu ajudar a pequena a superar seus medos e dificuldades.
"Morávamos em Natal, no Rio Grande do Norte, e decidimos nos mudar para Califórnia, nos Estados Unidos, no início desse ano. Foi tudo muito impactante para ela: mudança de país, de escola, de rotina, de ambiente familiar... e, junto com isso, o coronavírus. Ela sempre foi uma menina muito doce, meiga, divertida e confiante. Sempre mantive uma educação para ela com muito respeito, empatia e afeto. Porque é nisso que eu acredito fortemente. Então, meses depois da nossa chegada aqui, fui notando algumas mudanças de comportamento dela: gatilhos de choro sem um motivo aparente, regressões comportamentais, como voltar a chupar o dedo e o medo que ela tinha ao sair do meu colo.
Comecei, então, a fazer alguns desenhos nos pratinhos na hora das refeições para anima-la. Notei que ela ficava encantada e sempre pedia para repetir os desenhos nas próximas vezes. Depois, passei a escrever algumas palavras. E ela continuava empolgada! Conversava durante o dia e me esforçava para acolher todo aquele turbilhão de emoções que ela passava. Não foi nada fácil.
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Em agosto ela entrou para a escolinha, já que o ano letivo só se inicia nesse peróodo por aqui. No modo on-line mesmo. Notei que ela já havia melhorado bastante e que, com a aula, ela estava ainda mais alegre. Mesmo assim, continuei escrevendo algumas mensagens no prato. Com o tempo, percebi que ela ficava recuada assistindo às aulas e, às vezes, começava a chorar por não entender o inglês. Foi aí que me veio a ideia de escrever mensagens positivas na hora das refeições. “Eu acredito no seu potencial”; “Você é capaz”; “Eu amo ser sua mãe”; “Você é importante”, para que ela lembrasse o quanto ela é amada, feliz e importante. A escolha da frase é baseada em algum assunto do nosso cotidiano: medo, saudade, tristeza, sentimento de incapacidade e por aí vai.
Estamos colhendo bons frutos dos nossos diálogos. A professora dela recentemente falou com meu esposo e disse que ela estava indo muito bem na aula e que havia notado melhora na participação, além de confiança em responder as perguntas. No nosso relacionamento como família também. Ela já conseguiu vencer alguns medos e ama a hora das refeições. Tem dias que conversa sem parar, outros não. Mas eu não forço. Digo apenas que estarei disponível quando ela quiser. Eu sempre busquei validar os sentimentos dela. Sempre quis compreender a razão daquele comportamento. Acredito que o mundo precisa ouvir e se conectar mais com as crianças. A sociedade já adoeceu demais por falta atenção na infância. E também, pela perpetuação da educação punitiva e pouco respeitosa.
Fiquei muito feliz pela repercussão dos pratinhos. Eu realmente não esperava. Eu nem pensava em postar. Mas, uma vez, conversando com minha irmã sobre como estava sendo pesado emocionalmente, falei da minha ideia de escrever no prato da Maria Lis e disse que estava me ajudando. Na hora, ela disse que eu precisava compartilhar e que, talvez, ajudasse outras pessoas também. E foi como ela disse! Muitas mães vieram me agradecer pela inspiração. Disseram que começaram a fazer nas suas casas. Uma me disse que quando o filho viu começou a chorar e abraçou ela. Outra disse que conseguiu fazer a filha comer a fruta no café da manhã. E teve gente fazendo até para si mesmo! Achei demais! Pedagogos, psicólogos, nutricionistas e pediatras vieram falar comigo também, parabenizando pela alimentação saudável, a conexão e a didática. Eu realmente não esperava e fiquei feliz! Acho que afeto, amor, respeito e empatia nunca são demais nessa vida."
from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Educacao-Comportamento/noticia/2020/10/brasileira-que-mudou-para-os-eua-ajuda-na-adaptacao-da-filha-com-mensagens-nas-refeicoes.html