Moro no Rio de Janeiro desde que o Rocco tinha 40 dias. Pois é. Ele nasceu em São Paulo, como havíamos programado, mas, na maternidade mesmo, recebemos a notícia de que meu marido apresentaria um programa ao vivo no Rio, todos os domingos. Então, teria de estar por lá aos sábados e em mais algum dia da semana para gravar chamadas. Tive de deixar meu puerpério de lado e levantar acampamento, porque não me imaginava longe durante três dias da semana, ainda mais com um bebê recém-nascido.
Rocco chegou em fevereiro; nos mudamos em março. Obviamente, a adaptação não é algo simples. Essas duas cidades são muito diferentes. Eu diria até que são complementares. Aos poucos, comecei a entender o estilo de vida carioca e a frequentar a praia. Lembro da primeira vez que fui e, inocentemente, pedi uma cadeira e um guarda-sol para alugar. Em oito minutos, já estava de volta no carro, com o bebê aos berros. Ele odiou pisar na areia e não parava de chorar. Todo mundo em volta estava olhando – não tem coisa pior, né? Aí, desisti e fui embora. Desde esse dia, já se passou mais de um ano e meio e ainda não consegui convencê-lo a ficar na praia.
É muito louco tentar entender a cabecinha deles. Eu mostro para ele como é gostoso, rolo na areia. Já levei todos os brinquedos, a prima... Tudo com o objetivo de ajudá-lo a pisar e ficar ali, de boa. Já o coloquei na areia algumas vezes e deixei chorar um pouco para ver se passava. Nada. Então, também desisti de fazer isso. Me dá muita peninha forçá-lo.
Um dia, o vovô deu a ele uma cadeirinha de praia azul, que tem um guarda-sol acoplado. Ele fica ali com os pés encolhidos. Nem encosta no chão. A última tentativa foi deixá-lo de sunga, tênis e meia. Com todos em volta olhando, para variar (também, já não estou nem aí), mas não adiantou.
É algum tipo de aflição. Ou seria um trauma de outra vida? Depois, já começo a achar que errei em algo, que ele fica muito em casa, é um menino todo limpinho. Enfim, nossa mente vai pirando. É lógico que eu sei que isso um dia vai passar. Ou será que existe mesmo algum tipo de fobia de areia? O que me conforta é que, quando estou na luta (sim, às vezes, ele chora e crava as unhas em mim para eu não largá-lo), algumas mães que estão por perto, cujos filhos estão como pequenos croquetes empanados, aproximam-se e dizem que o pequeno delas também era assim, até que foi passando.
+ Como tirar areia da praia da roupa de banho das crianças
Quando pensei em escrever sobre isso na coluna deste mês achei um assunto meio bobo, algo do cotidiano, mas sei que ainda terei de lidar com muitos outros “medos” por aí. Tem o tal do monstro embaixo da cama, o escuro e muitos outros que não farão o menor sentido, mas, mesmo assim, precisarei aprender a respeitar e a ser solidária. Vou ter de me inserir no mundo dele para dar o suporte de que precisa para vencer seus próprios desafios.
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