As dinâmicas de funcionamento da criação de um filho realmente mudaram muito. Mães com cargas de horários que às vezes impossibilitam sua presença em alguns momentos, assim como os parceiros. Pais que ocupam funções que muitas vezes não eram ocupadas por eles... E quando falo desse assunto, não é apenas sobre as questões emocionais, afetivas, sobre termos a serem usados ou distribuição de tarefas. Novos temas se apresentam para este novo tempo. Algo que não tinha pensado até então, mesmo sendo um pai participativo, como a questão do banheiro em locais públicos.
Agora com uma filha e tendo a oportunidade de sair com ela, o momento do xixi ou do cocô para uma criança que já não usa fralda, ou mesmo que a use e que tenha a necessidade de trocá-la, é uma nova batalha a ser enfrentada. Assim como vários pais, me vi com a minha filha querendo fazer suas necessidades e não tinha ambiente para que eu pudesse trocá-la. Não tinha o banheiro da família no local onde eu estava, e não me senti confortável em entrar com ela no banheiro masculino. Me escondi num pequeno canto, me direcionei ao meu carro pra conseguir trocar a roupa dela, deixando a conta do restaurante aberta sob olhares desconfiados do garçom, troquei a roupa e retornei. Já tive situações em que isso não foi possível por não estar de carro e tive de pedir ajuda, mas ainda assim com certo desconforto.
Me vejo então aqui escrevendo uma coluna para falar sobre o banheiro da família, que é um ambiente importante e que faz parte dessa nova dinâmica do mundo. Outras convocações são feitas pelos nossos pequenos: a pequena Maria me convida a pentear seu cabelo de vez em quando. Eu, sem prática nenhuma, me esforço o máximo possível. Mas, vendo o rosto de satisfação dela ao perceber esse contato, a mão, que não é nada habilidosa para prender o cabelo, para fazer trança ou até mesmo desembaraçar, vai ganhando novo funcionamento.
Evitei tirar fotos dela nos meus primeiros resultados de penteados porque estava um pouco fora de ordem, mas me arrependo, porque a cara de satisfação dela era grande. Ela um dia até disse: “Nossa, um penteado diferente!”. Para minha falta de habilidade, foi um convite muito gostoso e uma interação inesquecível para ela e para mim. O pequeno João, já mais agitado, me convida a pular pelo sofá e escalar lugares, coisas que acabam sendo um desafio, devido a uma operação do menisco que faz atrapalhar o joelho, e a coluna, que já não é tão boa por causa da vida sedentária. São desafios, não são impeditivos. Esses pequenos momentos, essas pequenas memórias que se formam fazem parte de um novo mundo que estamos escrevendo e que é muito bom e prazeroso.
Hoje escrevo aliviado sobre paternidade, não reclamando de ausência, mas contando dos prazeres e ganhos que essa relação mais próxima e afetiva nos proporciona. Mas, ainda assim, fica o meu pedido: mais banheiros de família.
Lázaro Ramos é ator, apresentador, diretor e escritor, casado com a atriz Taís Araújo e pai de João Vicente, 7 anos, e Maria Antônia, 3.
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