Tuesday, June 22, 2021

Ganho de peso e cardápio mais pobre: as mudanças na alimentação das crianças durante a pandemia

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O aumento de peso das crianças durante a pandemia é uma das mudanças que mais preocupa pediatras atualmente. De acordo com o pediatra e nutrologista, Mauro Fisberg, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) o assunto é um dos temas de discussão da Sociedade Brasileira de Pediatria. “Temos conversado sobre o assunto com frequência e chegamos a uma estimativa, com base em observações, de que o aumento relativo de peso nas crianças foi, em média, de 5 a 6 kg durante a pandemia. O fato de o Brasil não ter realizado Censo nem a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) no ano passado tem sido um obstáculo para que tenhamos uma real dimensão do problema, mas é algo que tem sido notado em consultórios e hospitais”, afirma Fisberg.

O açúcar é o vilão da obesidade infantil (Foto: Thinkstock)


 

De acordo com o pediatra, entre as crianças que tiveram aumento de peso no Brasil, existem dois grupos bastante diversos. “Em famílias em que a situação financeira era boa e se manteve estável, os lanches, doces e telas, tornaram-se uma forma de ‘aquietar’ as crianças que ficaram sem escola ou atividade física. Isso levou ao aumento do sedentarismo e do consumo de alimentos altamente calóricos. Por outro lado, temos famílias que enfrentaram dificuldades financeiras durante a pandemia. A perda da merenda teve um impacto negativo tremendo na alimentação dessas crianças e também para os pais, que precisaram encontrar maneiras de incluir no orçamento uma refeição a mais para os filhos. Isso fez com que muitos não tivessem alternativa a não ser recorrer aos alimentos mais baratos disponíveis nas prateleiras, que geralmente são gordurosos”, explica o pediatra.

Fisberg ressalta ainda que a chance de compartilhar mais refeições em família, na maioria dos casos, acabou não sendo suficiente para compensar as desvantagens na alimentação das crianças durante a pandemia. “Percebemos que não adianta deixar os pequenos em casa com os pais, esperando que sigam seu exemplo à mesa, se os adultos estão trabalhando e têm, eles mesmo, dificuldade de se alimentar direito, por causa da sobrecarga na rotina e/ou dificuldades financeiras. Apenas um número pequeno de famílias teve condições para melhorar a nutrição nesse período”, afirma.

Apesar do efeito negativo da pandemia na dieta das crianças, é possível recuperar a saúde nutricional, de acordo com o pediatra, especialista em nutrição infantil, Robert Murray, da Universidade de Ohio. “Essas perdas de nutrientes podem ser corrigidas com mudanças na rotina e na dieta das crianças. Nossa pesquisa mostra que o sistema imune se recupera rapidamente com uma dieta adequada, diminuindo o risco de infecções e outras doenças diminuem e colocando as crianças de volta no caminho de um desenvolvimento saudável”, diz.

Para Murray, não há grandes mistérios em relação aos pontos principais para colocar a alimentação dos pequenos de volta nos trilhos. “A volta às aulas presenciais já vai melhorar a nutrição de muitas crianças. Além disso é importante que as elas tenham tempo livre para brincar, o que gasta energia, e fácil acesso a opções de lanches saudáveis, como frutas. Para os pequenos que são seletivos, oferecer o alimento de diferentes formas, ainda é a melhor opção. Se seu filho não come brócolis, por exemplo, tente colocar um pouco de queijo em cima para ver se ele será mais bem aceito. E, para os adultos, continua sendo essencial ser o exemplo ao se alimentar da maneira que você gostaria que seu filho estivesse comendo”, afirma.

Os pediatras Robert Murray e Mauro Fisberg foram entrevistados durante o Summit da Abbott, evento que reuniu especialistas em nutrição e debateu como ela pode contribuir para um crescimento infantil ideal.



from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Saude/noticia/2021/06/ganho-de-peso-e-cardapio-mais-pobre-mudancas-na-alimentacao-das-criancas-durante-pandemia.html