Wednesday, March 25, 2020

Gestantes relatam medo em meio à pandemia de coronavírus: "Deixei até de fazer exames"

grávida; medo do parto; (Foto: Thinkstock)

 

 

 

A orientação é clara: quem puder, fique em casa! Em meio a tentativa de conter a pandemia mundial de coronavírus, as pessoas estão isoladas. Mas e quem está na reta final da gravidez? Como manter-se tranquila com a possibilidade de dividir o mesmo hospital com pessoas suspeitas ou infectadas? CRESCER ouviu gestantes para saber como está a preocupação com o Covid-19 e o momento do parto.

"Estou muito apreensiva. No final da gestação se faz necessária a ida frequente ao hospital, porém, estou evitando. Me preocupa não estar realizando o devido acompanhamento nessa reta final, deixei até de fazer exames. Ouvi alguns boatos que os obstetras estão antecipando o parto devido a pandemia. Vou consultar minha médica e ver qual é a opinião dela. Dizem que é aconselhável adiantar, pois, daqui alguns dias, o pico de contaminação será enorme. De verdade, minha cabeça está girando. Queria parto normal, mas não sei mais." (Vera Lucia Nogueira Martins, 39, pedagoga, de São Paulo - DPP: 8 de abril)

"Estou mega ansiosa e preocupada. Moro com meu marido e com minha filha de 7 anos. Estamos isolados no apartamento há alguns dias e confesso que estou paranóica em sair de casa. Essa semana tenho cardiotoco e a última consulta com o meu obstetra antes do parto. Por mim, não iria! Tenho 40 anos, sou asmática e tenho hipotireoidismo. O medo é ir para a maternidade e ter alguém doente lá. Trazer algo para casa, sabe? Pensar que minha família ficará tempos sem conhecer meu filho. Sabe aquele mix de sentimentos? Outra coisa que me aflige muito é que ficarei sem minha filha por três dias. Terei que deixar em revezamento com a minha sogra e cunhada. Já liguei duas vezes para a maternidade. Eles restringiram visitas e não teremos o Espaço Família para assistirem ao parto, mas acho bem válido. Agendei meu parto para o dia 28, optei pela cesárea, pois, além da asma, o que me preocupa é que o bebê não encaixou até agora e estava bem alto. Estarei de 39 semanas e 3 dias. Esperar pelo parto normal com essa pandemia toda, também acho que ficaria ainda mais surtada. Vai que as coisas piorem, não sei." (Tatiana Pires Vasconcelos, 40, analista jurídico, de São Paulo)

"Estou com medo. Meu parto seria dia 2 de abril, porém, com o auge da pandemia que será mais ou menos nessa data, meu esposo e eu resolvemos antecipar. Vou fazer cesárea com 38 semanas. Até mesmo porque sou do grupo de risco, pois tenho pressão alta. Estamos tomando todos os cuidados. Meu médico assegurou que o hospital é mais seguro do que em outros lugares, mas meu medo é o depois. Como será? Então, preferimos passar esse caos em casa, com nossas filhas. Não teremos visitas, sem previsão de liberar. Meus pais já estão na quarentena conosco, pois minha mais velha tem apenas 2 anos e precisarei deles. Farei transmissão do parto para a família e amigos." (Juliana Constantino, 37 anos, bancária, de Interlagos/SP

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QUAIS SÃO OS RISCOS?

Para esclarecer as principais dúvidas - e acalmar o coração das gestantes - os obstetras Alexandre Pupo, dos Hospitais Sírio Libanês e Albert Einstein (SP) e Geraldo Caldeira, membro da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH) e médico do Serviço de Reprodução Humana do Hospital e Maternidade Santa Joana, responderam aos principais medos e dúvidas. 

C: As maternidades estão preparadas para realizar partos em meio a pandemia?
A: Os hospitais todos estão se preparando para isso. Uma série de ações está sendo tomada para dimiuir os riscos de contaminação do vírus. Desde a triagem das pessoas que chegam ao hospital - todo processo de admissão da pessoa que vem da rua para dentro do hospital está muito bem planejado - e milhares de frasquinhos de álcool gel estão sendo espalhados para uma boa higienização. As equipes de atendimento estão bem conscientes à respeito da necessidade de manter uma boa higiene e tudo é desinfetado constantemente: elevadores, maçanetas e etc. Além disso, as pacientes precisam ter consciência de que os hospitais que lidam com coronavírus afastam esses pacientes, ou seja, mantem eles isolados. Portanto, toda parte de atendimento a pessoas com suspeita de infecção e infectados são feitos em áreas separadas. A maternidade é uma área pouco afetada diretamente pelo virus, já que não são os mesmos profissionais que atendem os dois casos. Casos de Covid-19 são tratados por especialistas como pneumologistas, infectologistas, intensivistas e clínicos gerais. Então, a frente de combate nesse momento são pessoas que atendem no PS e em unidades de internação dedicadas à Covid-19. Além disso, esses profissionais são monitorados de perto, qualquer um  com quadro gripal deve se afastar do trabalho. Então, o ambiente hospitalar é bastante seguro e está preparado e devidamente aparelhado para atender quem realmente precisa. Resumindo, as gestantes podem ficar bastante tranquilas. Quando chegar a hora, dentro do ambiente hospitalar, tudo estará muito bem planejado e organizado para a segurança em relação a infecções.

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C: Ter bebê em um hospital que é só maternidade é mais seguro que em um hospital geral, onde são atendidas outras especialidades?
G: Na minha opinião, uma maternidade é mais segura que em um hospital. A não ser que a maternidade do hospital seja separada, já que atualmente, os pronto socorros dos hospitais gerais estão atendendo muitos casos de pessoas gripadas e sem diagnósticos. Então, as unidades que são somente maternidade têm menos riscos.

C: O que mudou na rotina das maternidades com a Covid-19?
A: Chegando na área de atendimento, a gestante será orientada de acordo com cada serviço do ponto de vista de proteção individual. Tem sido indicado o uso de máscara no ambiente de convívio com outras pessoas. O parto, seja natural ou cesárea, será realizado normalmente. E está sendo estimulado ainda mais o alojamento conjunto entre mãe e bebê para evitar que o bebê circule pelos corredores, diminuindo, assim, o contato com outras pessoas. Além disso, quase todos os hospitais restringiram as visitas e a quantidade de profissionais na cena do parto. A presença de doulas, enfermeiras obstétricas, fotógrafos, por exemplo, está sendo cortada. Normalmente, agora, uma única pessoa fica com a gestante do parto até a alta. O tempo de internação também tenta-se restringir, dentro do possível. Mas, de fato, recomenda-se uma alta mais precoce.

C: As consultas e exames devem ser feitos normalmente até o final da gravidez?
G: No final do pré-natal, estamos espaçando as consultas para deixar menos pacientes nas salas de espera e dando prioridade para as gestas que estão na reta final. Elas também estão fazendo todos os exames no consultório para não fazer com que elas precisem ir até um laboratório e retornar ao consultório.

C: Muitas estão agendando a cesárea para antecipar o parto por meio do pico da doença, que deve ocorrer em abril. É mesmo necessário?
G: Por medo da pandemia, algumas pacientes estão pedindo para fazera antes. Antecipar muito, ou seja, tirar o bebê antes das 37 semanas por conta de neurose não é recomendado. Antes disso, ele é prematuro e corre o risco de ter que ir para a UTI. As pacientes precisam entender que apesar da pandemia, um parto precoce também representa riscos. Então, o tempo ideal deve ser muito bem avaliado com o obstetra que acompanha a gestante.

C: Existe um tipo de parto mais indicado ou seguro para este momento?
G: Seja parto normal ou cesárea, os riscos são os mesmos. Se a paciente estiver sem sintomas e não tiver riscos nenhum de estar contaminada, não muda nada o tipo de parto. O problema maior é ela estar com sintomas. Nesse caso, ela será encaminhada para isolamento e fará os exames de H1N1, coronavírus e influenza. A sala de cirurgia é isolada, toma-se todos os cuidados e depois ela vai para um andar de isolamento. Além disso, aparentemente, não temos nenhum caso comprovado de transmissão vertical, ou seja, de mãe para filho. Diferentemente, do zika e da sífilis. A gestante também não é grupo de risco, por isso, devemos ter poucas gestantes em estado grave. Então, dá para ficar tranquila.

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C: Após a alta, existe alguma recomendação específica?
A: A recomendação, após a alta da maternidade, continuam as mesmas. Se mãe e bebê saíram saudáveis, basta seguir a quarentena baseada nas premissas da população geral.



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