Tuesday, March 24, 2020

"A direção comunicou que é desnecessário o uso de máscara, mesmo tendo pacientes com coronavírus no hospital", denuncia auxiliar de enfermagem de hospital público, em SP

Hospital Heliópolis: funcionários denunciam falta de equipamento (Foto: Divulgação)

 

Os chamados EPis (Equipamento de Proteção Individual) são essenciais para proteger os profissionais da saúde contra o coronavírus, já que eles estão, diariamente, encarando o contato com infectados. No entanto, nem todas a redes de saúde estão abastecidas com os materiais necessários. É o que relata uma auxiliar de enfermagem que trabalha no Hospital Estadual de Heliópolis, localizado na capital paulista. 

Sem querer se identificar, a profissional diz que o hospital recebeu pacientes com coronavírus, mas não tem máscaras suficientes para os enfermeiros, médicos e técnicos atendê-los, sem risco. "Como somos um hospital especializado na área oncológica, nos disseram que não era preciso usarmos máscaras, diz. De acordo com ela, infelizmente, no último sábado (21), um dos pacientes com suspeita de coronavírus faleceu e três casos que tiveram seu exame positivo estão na UTI (Unidade de terapia intensiva). 

Confira o depoimento na íntegra 

Eu pedi uma máscara N95 (a mais adequada para proteger contra o coronavírus) para trabalhar. Primeiro me disseram que não tinham, após um tempo nos relataram que tinham apenas 80 dessas máscaras para o hospital todo. Nós temos a máscara cirúrgica, mas ela é muito fina. Como não somos referência no tratamento para pessoas com coronavírus, somos especializados em oncologia, a direção nos comunicou que é desnecessário o uso de máscara, mesmo tendo pacientes com Covid-19 no hospital. Um dos casos supeitos acabou falecendo (o hospital disse que ele não tinha a doença, mas vimos que ele estava com os  sintomas) e três casos confirmados seguem na UTI. Eu não tenho contato direto com eles, não sei como estão fazendo para tratá-los, mas a informação que temos é que não há máscaras adequadas suficientes. Eles dizem que da mesma forma que podemos ser infectados aqui, podemos ser em casa. 

No entanto, trabalhamos com o pronto-socorro de portas abertas. Não sabemos se as pessoas que chegam por lá estão com coronavírus. Se o médico avalia que o paciente está com sintomas da doença, encaminha para o Hospital Ipiranga (SP), mas até aí, a pessoa já passou pela recepção e pela coleta, no mínimo são quatro profissionais que ela teve contato, sem ter o diagnóstico do exame.

No hospital, nós temos funcionários com mais de 60 anos e inclusive pessoas com problemas pulmonares e imunidade baixa. Mas, no pronto-socorro as pessoas trabalham sem máscara e sem avental. Há falta de luvas para procedimentos cirúrgicos também. Semana passada, chegaram 10 caixas com 100 unidades, mas não é suficiente. Uma caixa não dura nem um dia, dependendo do procedimento que você vai fazer. Eu lavo muitos materiais e já uso pelo menos oito pares de luvas em um procedimento. Os profissionais estão apavorados e estocando as luvas, atitude que não é permitida. 

A situação está tão complicada que a esposa de um paciente se sensibilizou com a nossa causa e decidiu doar algumas máscaras para o hospital. Nós estamos com tanto medo também que estamos comprando os EPIs por conta própria. Eu comprei luvas de procedimentos para usar. Teve uma noite, que uma enfermeira precisou ir até ao hospital para dar a máscara N95 para os funcionários do centro cirúrgico, pois não tinha lá. Quem tem essa máscara está reutilizando, não é o recomendado, principalmente com o coronavírus, mas como esses materiais estão em falta, é o que podemos fazer. 

Esses dias, soubemos que é provável que um residente da neurocirurgia tenha contraído o vírus. Aparentemente, ele está em casa, esperando o resultado do exame. Estou apreensiva, principalmente porque já tive contato com ele. 

Nota da Secretaria da Saúde 

As orientações aos profissionais de saúde já têm sido amplamente comunicadas, por meio de webconferências e documentos técnicos de proteção aos profissionais, amparados nas diretrizes do Ministério da Saúde e da Anvisa. As medidas assistenciais também foram disseminadas entre os serviços de saúde, com base nos protocolos do SUS.

Com relação aos insumos, não há falta no Hospital Heliópolis. A Secretaria de
Estado da Saúde esclarece que realiza planejamento estratégico de compras, com base no consumo e mais uma margem de segurança para garantir abastecimento. Além disso, destaca que, na última semana, foi anunciado pelo Governador e Secretário o reforço dos estoques de insumos para profissionais de saúde dos hospitais estaduais, incluindo: 5 milhões de máscaras descartáveis, 15 milhões de luvas, 48 mil litros de higienizadores em gel e mil aventais, além de máscaras cirúrgicas e óculos descartáveis.

 



from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Criancas/Saude/noticia/2020/03/direcao-comunicou-que-e-desnecessario-o-uso-de-mascara-mesmo-tendo-pacientes-com-coronavirus-no-hospital-denuncia-auxiliar-de-enfermagem-de-hospital-publico-em-sp.html