Saturday, March 21, 2020

Coronavírus: precisa mesmo estocar papel higiênico (e outros itens do supermercado)?

Coronavírus: precisa mesmo estocar papel higiênico? (Foto: Pexels/ Anna Schvetts)

 

Se você mora em uma cidade como São Paulo e Rio de Janeiro - as mais afetadas por casos de coronavírus - e tentou ir ao supermercado nos últimos dias, já se deparou com um cenário bem diferente do normal. Corredores cheios de gente e prateleiras mais vazias, carrinhos transbordando e filas quilômétricas nos caixas e nos estacionamentos. Por conta da pandemia de coronavírus, começou uma verdadeira corrida para as lojas, no intuito de comprar produtos para garantir a despensa em caso de emergência. Um item em especial, além do álcool em gel, é claro, tem aparecido em uma quantidade que vai bem além da que as pessoas geralmente usam: o papel higiênico. Mas será que isso é mesmo necessário? 

Segundo Átila Iamarino, doutor em microbiologia e divulgador científico, que estuda o coronavírus, a questão é composta por camadas diferentes. "Uma delas é o pânico coletivo mesmo. A situação de incerteza gera uma ansiedade coletiva. Tem uma certa imitação do comportamento lá de fora, de pessoas de outros países que já passaram por furacões, terremotos...", compara. O papel higiênico, por exemplo, os japoneses começaram a estocar porque a matéria-prima para eles vem da China. Por isso, havia o medo da interrupção da produção. "Motivo real para estocar aqui no Brasil, não há", diz. 

Ao comprar excessivamente, sim, as pessoas colaboram para o aumento da demanda e aí, sim, é possível haver uma escassez de produtos ou um aumento de preços. Aliás, há quem faça isso de propósito para lucrar. "Há casos de pessoas que compram álcool em gel, máscaras e até sabonete líquido em grande quantidade porque sabem que são itens que serão muito procurados - e aí revendem mais caro", explica. 

Para Gustavo Fernandes, economista da Faculdade Getúlio Vargas - Escola da Administração de Empresas de São Paulo (FGV-EAESP), a produção e o abastecimento dos supermercados não devem ser interrompidos. "A agropecuária e as indústrias que seguiam as normas regulamentadas já tinham todos os cuidados recomendados de higiene. Os bichos não são afetados, há o maquinário. Pode haver alguns problemas de logística, por conta das determinações dos governos, dependendo do estado, alguma dificuldade de adaptação porque é uma maneira diferente de vender e consumir, mas falta de abastecimento é difícil, até pelo exemplo da Itália, onde a situação está muito mais avançada. Por lá, os mercados têm produtos. Há um racionamento, na verdade, no momento de fazer as compras, com poucas pessoas de cada vez, para manter a distância e evitar a transmissão do vírus, mas não faltam itens", explica.

A indicação para estocar, segundo Fernandes, não é por conta da falta de abastecimento e sim para o público, principalmente o de risco, sair menos vezes e diminuir as chances de exposição ao vírus. "Muda o jeito de fazer compras, não dá para ficar fazendo aos pouquinhos, pesquisar preços, ir a vários estabelecimentos. Pedir online é uma solução, embora as empresas ainda estejam com alguma dificuldade de atender toda a demanda", aponta. Para ele, além da questão econômica, há a questão da política pública, que, na opinião dele, faz as determinações, mas não orienta ou organiza antes, ajudando a população e até as empresas a agirem. "É um governo mais reativo do que ativo", define. 

 



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