A pequena Hadassa, 3 anos, estava pintando um desenho enquanto sua mãe preparava o almoço. A rotina tranquila na casa de Tatiane Páscoa, 31 anos, foi interrompida com um grito. A menina tinha se ferido com um lápis de cor de duas pontas, que atingiu um de seus olhos.
“Ela estava com o irmão mais velho - Caleb, 5. Os dois estavam pintando, sentados na mesa, e eu estava fazendo o almoço. Ela disse que se aproximou do papel para ver o desenho e a ponta de cima do lápis bateu no olhinho”, lembra a mãe em entrevista à CRESCER. “Na hora, ela gritava e eu me desesperei."
Tatiane estava sozinha em casa com os três filhos – de 1, 3 e 6 anos – e precisou ir com todos eles para o serviço de emergência. “Meu marido estava viajando. Eu sou de São Paulo e atualmente moro em Maceió, uma cidade onde não conhecia ninguém e sem suporte nenhum", explica. O caso ocorreu em janeiro deste ano, mas foi compartilhado esta semana pela mãe nas redes sociais.
No hospital, o diagnóstico foi tranquilizador, apesar do susto. O médico disse que por pouco a córnea não foi atingida e, por isso, depois de 24 horas de cuidados, a pequena estava recuperada. “Graças a Deus, no outro dia, ficou só a lição: lápis de duas pontas nunca mais. E agora estamos cada dia mais atentos. O conselho que dou é que os pais usem giz de cera em casa, dos mais grossos”, diz.
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Mas casos como o de Hadassa nem sempre têm desfechos tranquilos. Segundo a oftalmologista pediátrica Yessa Vervloet Bertollo Lamego Rautha, do Hospital São Cristóvão, acidente com objetos pontiagudos podem causar catarata traumática, deslocamento de retina, infeccções, podem inclusive levar à perda de visão. “As complicações dependem da profundidade da lesão. Quando ela é mais superficial, não há perfuração, pode cicatrizar completamente, apesar da dor e do desconforto. Já se a integridade do olho é afetada, pode haver perda visual”, explica.
A especialista alerta que, mesmo em caso de uma rápida recuperação, é importante acompanhar de perto o desenvolvimento do olho machucado. Qualquer lesão no período crítico do desenvolvimento visual, entre 0 e 7 anos, pode gerar sequelas que você não vai conseguir corrigir na vida adulta. Por isso, mesmo depois da recuperação, é fundamental acompanhar esse olho com frequência. A recomendação é que todas as crianças façam acompanhamento oftálmico anualmente. Quando houve lesão, o ideal seria avaliar pelo menos a cada seis meses”, diz.
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Como evitar acidentes?
A médica sugere que os pais evitem deixar as crianças com objetos pontiagudos, e reforça a importância da supervisão constante dos pequenos. Além disso, uma dica importante é nunca menosprezar queixas apresentadas pelas crianças. “O olho tem estruturas muito pequenas, e às vezes os pais não conseguem ver a olho nu uma lesão, por isso, em qualquer caso de queixa, é importante levar a sério e procurar atendimento médico. Há lesões que não são visíveis na superfície, mas podem causar alterações internas, então leve a sério uma reclamação do seu filho mesmo que você não consiga ver nada”.
Outra dica é evitar os lápis de cor para crianças pequenas, e dar preferência ao giz de cera. Mas cabe um alerta. “O próprio produto do giz, em contato com o olho, também pode dar alguma alergia. Então é importante prestar atenção”, reforça.
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O que fazer em caso de acidente?
A primeira orientação é não fazer uso de nenhuma substância caseira ou colírio. “Alguns colírios foram feitos para serem usados em olhos íntegros. Sem a certeza sobre uma suposta lesão, não administre nunca um colírio. Só o médico pode fazer isso”, explica a oftalmologista. Também não tente tirar nada que possa ter ficado grudado ao olho. O ato de puxar pode piorar a lesão.
Antes de sair de casa para procurar ajuda médica, também é importante fazer um curativo que não pressione o olho. “O ideal seriam os tampões de acrílico, mas esse não é um objeto que temos em casa. Então, os pais podem usar um copinho plástico de café, por exemplo, preso com um micropore. Isso evita que o olho seja pressionado, e ao mesmo tempo protege”, afirma.
Em caso de contato do olho com alguma substância, em que os pais têm certeza de que não houve alteração da integridade do olho, a recomendação é lavar com água filtrada por menos 15 a 20 minutos seguidos. E sempre procurar o atendimento de um oftalmologista.
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