Apesar de o coronavírus parecer "poupar" as crianças — já que a maioria dos pequenos que contraem o vírus apresentam um quadro leve —, não se deve subestimar a doença, alerta a pediatra Ana Escobar, colunista da CRESCER. "Este cenário ficou mais preocupante nos últimos dias, quando começaram a surgir relatos, principalmente vindos da Inglaterra e dos Estados Unidos, de crianças que apresentaram um quadro grave relacionado ao Coronavírus", disse ela, referindo-se à síndrome de Kawasaki. "Este fato gerou muita preocupação entre os pais e merece um esclarecimento maior", completou.
De acordo com a pediatra, a minoria das crianças com Covid precisa de internação hospitalar e, mesmo dentre estas, a grande maioria se cura sem nenhuma sequela. No entanto, o motivo para isso ainda não está totalmente esclarecido. "Uma das principais razões apontadas é que as crianças naturalmente apresentam, em suas células, uma quantidade bem menor de receptores para o coronavírus. É mais ou menos assim: o vírus, para infectar uma pessoa, precisa 'invadir' suas células. Para isso, carrega uma espécie de chave para abrir as células humanas. As 'fechaduras' seriam estes receptores. As crianças, muito provavelmente, têm um número menor destas 'fechaduras'. Desta forma, o vírus não tem como invadir as células dos pequenos. Quando a invasão é menor, a infecção é mais branda", explica.
SINAIS DE QUADRO GRAVE
Os primeiros sintomas de Covid em crianças são muito parecidos com os dos adultos: começa com febre, dor no corpo, mal-estar, prostração alternada com irritação, dor de cabeça, dor de garganta, coriza clara e tosse seca. Algumas crianças, como alguns adultos, podem apresentar diarreia. "Estes sintomas são mais intensos nos primeiros dias e, em geral, vão se atenuando de tal forma que a imensa maioria das crianças se recupera até o décimo dia", diz a pediatra. "Algumas crianças, no entanto, podem apresentar quadros mais severos, com dificuldade para respirar. Este é um sinal de alerta muito importante e, se for identificado, deve-se levar a criança para um Pronto Socorro para que seja avaliada", alerta.
"O cansaço para respirar e/ou a baixa oxigenação são sinais de alerta importantes. Além destes, há também os que podem caracterizar a síndrome parecida com a de Kawasaki e que está sendo associada ao Covid 19. Ela se caracteriza por febre prolongada, manchas vermelhas na pele, conjuntivite não purulenta, língua bem vermelha, lesões ao redor da boca e perianais, edema de mãos e pés, diarreia e aumento dos gânglios do pescoço. Com a evolução, pode aparecer uma descamação característica dos dedos das mãos e pés", explica. O grande problema, segundo a especialista, é que a síndrome de Kawasaki pode causar uma “dilatação” das artérias, principalmente das coronárias, que ficam no coração. 'É o que se chama de 'aneurisma de coronária' e pode também ocorrer em outras artérias. Este é o grande problema, pois se este aneurisma romper, pode agudamente levar crianças a óbito", afirma.
+ Quais crianças são mais suscetíveis complicações do Covid-19? Estudo aponta
O diagnóstico deve ser feito por um médico e exames laboratoriais podem avaliar o estado geral do paciente. A síndrome de Kawasaki não tem um tratamento específico. "Mas a boa notícia é que quando se faz o diagnóstico precoce, é possível atenuar e/ou evitar as complicações cardíacas da síndrome", conta.
CRIANÇA COM COVID: QUAIS OS CUIDADOS?
Importante lembrar, no entanto, que o período de contágio é o mesmo: 14 dias. "Portanto, se o seu filho apresentar sintomas de gripe e testar positivo, mesmo que melhore antes, deve guardar o tempo de quarentena de 14 dias, a contar desde o primeiro dia do primeiro sintoma", alerta. Vale lembrar também que, os testes podem ser realizados tanto em adultos quanto em crianças. "Quando alguém em uma casa testa positivo, é importante que esta pessoa fique isolada do convívio comum, de preferência em um quarto. Se tiver que frequentar áreas comuns da casa, que seja com o uso de uma máscara. Este tipo de 'isolamento caseiro' é considerado o ideal, mas sabemos que na realidade, muitas vezes, isso não é viável. Portanto, a melhor solução possível deve ser aplicada individualmente, fazendo uma avaliação que pode variar de família para família", orienta.
"O primeiro a fazer é ver se há alguém do grupo de risco na mesma casa. Se houver, Deve-se avaliar se esta pessoa pode ficar com outros familiares ou amigos. Se não puder, uma solução seria que esta pessoa do grupo de risco ficar isolada em outro cômodo, fazendo o possível para manter uma distância social do pequeno", diz. "Mesmo assim, idealmente e se possível, a criança doente deve ser estimulada a permanecer em um espaço limitado da casa. Importante lembrar que a limpeza das superfícies deve ser bem rigorosa para que outras pessoas não se contaminem", completa.
from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Bebes/Saude/noticia/2020/06/covid-em-criancas-pediatra-ana-escobar-fala-sobre-os-sinais-de-alerta-para-quadros-mais-graves.html