No Brasil, uma boa educação é, na maioria das vezes, relacionada ao ensino particular, certo? No entanto, um estudo recente contraria a ideia de que a quantidade de investimento está diretamente ligada à qualidade. O resultado revela que as melhorias na aprendizagem dos alunos não dependem, principalmente, do apoio financeiro. O dinheiro é importante, sim, mas não é determinante.
A pesquisa, publicada no Journal of Education for Students, foi realizada pela Universidade Estadual de Ohio, com o apoio de pesquisadores da Ball State University e também da Southern Methodist University. Mais 5 mil estudantes e professores de 78 escolas públicas foram selecionados aleatorimente para participar do estudo, em Michigan, nos Estados Unidos. A amostra é representativa da demografia de todas as escolas de ensino fundamental no estado.
Os professores preencheram um questionário que mediu os níveis de capital social em suas escolas. Eles avaliaram o quanto concordaram com declarações como "o envolvimento dos pais apóia o aprendizado aqui", "os professores desta escola confiam em seus alunos" e "o envolvimento da comunidade facilita o aprendizado aqui".
Dados estatais sobre gastos por aluno também foram usados para medir o capital financeiro em cada escola. Por fim, os pesquisadores usaram o desempenho dos estudantes em testes de leitura e matemática para medir a aprendizagem.
O que revelaram os resultados?
A pesquisa chegou à conclusão de que, em média, as escolas que gastaram mais dinheiro tiveram melhores resultados nos testes do que aquelas que gastaram menos. No entanto, o efeito do capital social foi três vezes maior do que o capital financeiro nas avaliações de matemática e cinco vezes maior nas notas de leitura.
"Quando falamos sobre os motivos pelos quais algumas escolas têm melhor desempenho do que outras, as diferenças na quantidade de dinheiro que elas gastam são frequentemente consideradas uma explicação", disse Roger Goddard, co-autor do estudo.
"Descobrimos que o dinheiro é certamente importante. Mas este estudo também mostra que o capital social merece um papel maior em nosso pensamento sobre maneiras econômicas de apoiar os estudantes, especialmente os mais vulneráveis", completou Goddard.
O estudo também descobriu que o dinheiro gasto com a aprendizagem dos alunos não estava associado aos níveis de capital social nas escolas. Isso significa que as escolas não podem "comprar" capital social simplesmente gastando mais dinheiro. As relações sociais exigem um tipo diferente de investimento.
Enquanto o capital social tendia a diminuir nas escolas à medida que os níveis de pobreza aumentavam, não foi uma diminuição significativa. "Percebemos em nossos dados que mais da metade do capital social a que as escolas têm acesso não tem nada a ver com o nível de pobreza nas comunidades que atendem", disse o co-autor. "Nossos resultados realmente falam sobre a importância e a praticidade de construir capital social em bairros de alta pobreza, onde é mais necessário", completou.
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Como cultivar o capital social nas escolas?
Segundo os cientistas, capital social é uma rede de relacionamentos entre funcionários de escolas, professores, pais e a comunidade que cria confiança e normas para promover o desempenho acadêmico.
Segundo Goddard, a iniciativa para construir um bom capital social pode partir das próprias escolas. Elas devem ajudar os professores a trabalharem juntos. "Pesquisas mostram que quanto mais professores colaboram, mais eles trabalham juntos na melhoria da instrução, melhores são os resultados dos testes de seus alunos. Isso porque o trabalho colaborativo constrói capital social, que fornece aos alunos acesso a um apoio valioso", disse ele.
Construir conexões com a comunidade é importante também. Programas de orientação escolar que conectam crianças a adultos na comunidade são uma ideia. "As interações sustentadas ao longo do tempo, focadas no aprendizado das crianças e nas práticas eficazes de ensino, são a melhor maneira de as pessoas construírem confiança e redes que estão no coração do capital social", disse. "Precisamos de esforço intencional das escolas para construir capital social. Não podemos deixar isso ao acaso", concluiu.
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