Vamos aos fatos: o primogênito nunca precisou mendigar por atenção! Bastava abrir a boca que, antes mesmo de emitir um som, já entrava ali uma chupeta, uma mamadeira ou colher de papinha! Tudo isso era feito automaticamente, para só depois ver o que seria aquela boquinha abrindo!
“Ah, que delícia deve ser uma chupeta esterilizada”, pensa o caçula enfiado num daqueles andadores redondos com as perninhas raspando no chão ao ver o pai apenas dando um soprão e duas batidas na calça jeans antes de enfiar de volta na boca dele. Quem nunca?
Tudo bem que o Romeo nasceu prematuro e demorou um tempo para poder ir para casa, mas, quando foi, lembro que tinha um frasco de álcool gel na porta do quarto, uma caixa de protetores para sapatos e meias, lenços umedecidos antibacterianos e máscaras de cirurgia descartáveis. Sem contar os constantes pedidos para não falar muito perto da carinha do bebê, enquanto forrávamos a visita inteira com paninhos! Até o Sammy, nosso cachorro na época, foi passar uma temporada na casa dos avós!
Essa diferença no comportamento dos pais reflete diretamente nos caçulas. Por um lado, temos crianças mais independentes, que aprendem a se virar, afinal, como o dito popular prega, “se o caçula não grita, não come, pois ninguém lembra dele”! Coitadinho (risos) ! Mas, por outro lado, temos crianças com problemas de aceitação, de confiança – em si e nos outros –, de autoestima e dificuldades para criar e manter laços. Nada é mais triste do que uma criança que sente falta de amor. E isso não tem a ver com a quantidade de amor que nós, pais, damos, pois sempre oferecemos o máximo que podemos, mas, sim, com a quantidade de amor de que ela precisa.
Imagina o caso do Tefo, meu berebinha! Ele nasceu em uma família com uma criança especial, que já necessita de muita atenção, e com uma irmã (a definição a seguir ouvi de uma experiente profissional de educação, que trabalhou com os dois e me alertava de como as coisas poderiam ser difíceis para o Tefo) “superstar, destemida, talentosa, confiante, inteligente e esperta” – estas últimas duas características são bem diferentes entre si. É, as coisas nunca estão favoráveis pro caçula se impor.
Mas, observando o Tefo, aprendo. Ao mesmo tempo em que sente essas coisas, que poderiam colocá-lo para baixo, ele produz ainda mais amor! Como se estivesse embutida nele a sabedoria de que o amor quebra todas as barreiras. Que moleque doce, sensível, com uma alegria de viver e uma maturidade de transformar seu limitado espaço em algo alegre e incrível. Por exemplo, adivinha quem vai no último banco do carro de sete lugares junto com as cachorras ou com as malas? Tefo! E ele fez daquele o seu mundo, com seus livros, tablet etc… Poderia gritar e reclamar, sim. Mas ele me ensina que gritar não ajuda tanto quanto chamar a atenção por ser extraordinário!
Marcos Mion é apresentador de TV, ator, fisiculturista e empresário, casado com Suzana Gullo e pai de Romeo, 13 anos, Doninha, 10 e Tefo, 8.
from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Colunistas/Marcos-Mion-Pai-Nivel-Hard/noticia/2018/11/nao-e-facil-ser-o-cacula.html