Poderia ser apenas mais uma briga entre duas irmãs, mas a cena acabou tomando proporções enormes depois de viralizar nas redes sociais no último domingo (18). O vídeo começa com uma festa típica de aniversário infantil: a aniversariante, Maria Eduarda, está em frente ao bolo, e a irmã mais velha, Maria Antônia, ao lado, enquanto todos cantam parabéns. Ao final da música, a caçula se curva para apagar as velas, mas a irmã é mais rápida e apaga antes. Decepcionada, a pequena agarra os cabelos da irmã e a briga começa. A mais velha consegue se soltar e "dá de ombros", como se não se importasse com o que fez. Então, de novo, a mais nova revida, agarrando os cabelos da menina. O vídeo termina com a aniversariante tendo um ataque de raiva, gritando e batendo as mãos em si mesma.
As imagens rapidamente se tornaram virais. Em pouco tempo, virou meme e milhares de pessoas passaram a tomar partido, julgar e discutir o comportamento e relação das irmãs: "A mãe tem que ficar atenta porque a Maria Antônia precisa de uma terapia básica porque não é normal esse grau de deboche com a irmã", escreveu uma pessoa. "Gente parem de romantizar. Essa menina quando crescer vai fazer inferno na vida da outra", sugeriu outra. "Olha essa criança! Tenho até pena dos pais", escreveu mais uma. "Isso é inveja. Absmada como os adultos não tomaram providências. Assim que cresce adulto mimado e sem noção", criticou uma mulher. "Eu não achei engraçado o vídeo... É triste ver tão novinha e com um inveja tão grande", disse um homem.
O QUE DIZ A FAMÍLIA
"Para quem está dizendo que elas se odeiam, logo depois estavam cortando o bolo juntas. Só quem tem irmãos entende", escreveu uma prima das meninas nas redes sociais. À CRESCER, ela comentou: "Infelizmente, muitas críticas", em relação aos comentários nas postagens do vídeo. A mãe das meninas também se pronunciou pelas redes sociais: "Minhas Marias são doces, se amam, não incentivamos violência. A diferença é que criança transborda. Pensa em fazer e faz. Não tem maturidade para analisar, decidir, recuar, como nós adultos na maioria das vezes fazemos. Eu resumiria em uma palavra: ciúme de irmãs, que brigam, mas se entendem. Somente um desabafo de mãe para ficar registrado".
CRESCER tentou contato com a mãe das meninas, mas, até o momento, ela não respondeu as nossas mensagens.
CRIANÇA X AGRESSIVIDADE
Para a psicóloga perinatal e da parentalidade e psicoterapeuta Meyre Laias, com atuação junto à crianças, jovens e seus familiares, um dos maiores desafios dos adultos é lidar com a agressividade, principalmente quando se trata de agressividade infantil. "No vídeo, é possível observar uma frustração muito grande na pequena, mas devemos lembrar que a criança ainda está em desenvolvimento e não tem alguns aparatos prontos, principalmente ligados à subjetividade. Ela está aprendendo a lidar com tudo isso. Muitos conteúdos subjetivos para ela ainda são difícies de entender e lidar. Então, falta domínino da frustração, falta domínio para lidar com a raiva, com ressentimentos.... São sentimentos que vão levar a criança a uma desorganização, pois ela não tem repertório suficiente para enfrentar e lidar com a própria agressividade", explica.
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A especialista dá dicas de como os pais podem ajudar os pequenos a lidar com esses sentimentos. "Nós, como adultos, pais, educadores e responsáveis temos o papel de ensinar a criança a lidar com isso, e devemos fazer de forma muito prática: estabelecer limites claro do que é e do que não é aceitável. Ela precisa aprender a lidar com essa agressividade, que faz parte da nossa vida, mas de uma maneira eficiente, através dos limites claros. Devemos ensiná-las a controlar a agressividade através da fala, do choro, incentivando ela a se posicionar e não expressar esse sentimento com atos agressivos", diz. "Os adultos podem ensinar os filhos a se protegerem, mas não a revidar ou incentivar comportamentos agressivos", completou.
Além disso, ela lembra que os adultos são os exemplos das crianças. "A criança aprende através da observação. As pesquisas afirmam que a construção emocional e de comportamento veem através da percepção de um ambiente. Então, se conseguirmos promover um ambiente tranquilo, onde ela possa expressar sua alegria e raiva pelas palavras é algo que vai trazer para ela um refúgio. Se o adulto entender isso e conseguir oferecer esse local apropriado para a criança entender sua própria agressividade, ela vai expressá-la de uma forma mais eficiente e saudável", finalizou.
from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Educacao-Comportamento/noticia/2020/10/sao-doces-se-amam-nao-incentivamos-violencia-diz-mae-das-meninas-de-video-viral.html