A vida com filhos é composta por milhares de microdecisões ao longo de uma jornada completamente instável e imprevisível. Doido, não é? Você em cima do “Touro Bandido” elevado à máxima potência. Uma montanha-russa com tantos loopings que você já nem sabe quando levanta ou quando abaixa os braços. Mas segue lá, com milhares de decisões a serem tomadas.
Uma das mais cruciais: ter ou não mais filhos?
Quando se inicia essa discussão, uma pergunta recorrente costuma ser: “Mas você tem certeza?”. Tenho na mesma proporção da maioria das outras decisões: quase nenhuma. Mas em alguns momentos é preciso decidir.
Esta questão surge em diferentes momentos para os mais diversos casais. Alguns ainda muito jovens, outros já depois de vários filhos. Em comum, talvez toda a carga de estresse proporcionada por dias difíceis dessa longa caminhada. Se você tem pelo menos duas crianças talvez já tenha tido esta pauta com seu companheiro(a). E não é um assunto fácil.
A esterilização, seja ela feita no homem ou na mulher, traz inseguranças físicas e psicológicas que precisam ser respeitadas. É um procedimento cirúrgico e, como me parece razoável, sendo assim só deve ser feito a total contento de quem passará por ele. Seja o homem, seja a mulher.
O ponto que quero trazer aqui é sobre o respeito ao tempo do outro. Por mais que hoje em dia existam técnicas comprovadamente reversíveis, a decisão de “fechar a fábrica” passa por aspectos psicológicos importantes. Inclusive, em alguns casos, um laudo feito por um psicólogo é exigido. Por mais que você tenha todos os seus motivos e uma decisão clara em mente, não parta do princípio de que quem está ao seu lado pensa igual.
Ser autoritário, exigir que o outro faça tal procedimento é o primeiro passo para o fracasso. Saiba negociar. Coloque seus pontos, seus argumentos, mas também ouça muito o outro lado. Por mais que o que você vá escutar não seja exatamente aquilo que você gostaria.
“Mas e se perdermos um de nossos filhos e quisermos outro?”
“Mas e se nosso casamento não for adiante e, num possível novo relacionamento, a pessoa quiser outro filho?”
Passei recentemente por este processo que durou mais de ano e meio. Muita conversa, alguns atritos, idas e vindas. A pandemia veio atrasar um pouco, mas para mim foi um alívio para “pensar mais”. Procedimento feito. Recuperação em andamento. Por que eu? Porque sim.
Durante anos e anos a responsabilidade da prevenção costuma recair sobre a mulher, que na maioria das vezes se entope de hormônios. Na hora do consenso, do “vamos parar por aqui”, talvez valha a sinalização do lado do homem de que “agora é minha vez”. Mas não pense que é fácil. Negocie e faça as coisas no tempo certo.
Por aqui, vemos como um recomeço. Sem mais filhos.
from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Colunistas/Beto-Lima-EuPapai/noticia/2020/10/ao-final-tentativa-de-recomeco.html