Imagine que ele ouviu os sons do seu corpo desde a vida intrauterina, ouviu sua voz, te acompanhou nos seus passos, seu gingado, seus repousos... Mas mais que isso, depois que nasceu passou a ser estimulado pelo seu olhar, suas mãos, o toque da sua pele, sua voz, e não só ela, mas também, e principalmente, o que ela carrega de significado. Muito mais que o som, o significado do que você fala faz dele o seu bebê. A relação que se estabelece do lado de fora do ventre materno, esta sim é constituinte do sujeito que um dia virá a ser um bebê.
Para entender a força deste processo, hipoteticamente, imagine que o seu bebê fosse parar nas mãos de outra família, outra mulher, você entende que seria outra voz, outro olhar, outro toque, com significados diferentes? E assim ele seria outro bebê, não o seu. Seria o bebê daquele núcleo familiar. O comportamento dele seria interpretado por outra pessoa, que não você, de outra maneira. Sua identidade se formaria através da interação com essa pessoa e essa outra família. Assim são os filhos adotados. Filhos das mães que os acolheram e assumiram.
Eu sei que a gente se cansa de ouvir a ciência falar da genética, da hereditariedade, que ok, está lá também presente, mas o ambiente onde crescemos e vivemos tem uma potência inegável.
O que faz de um filho “nosso” é a interpretação que fazemos de tudo que este expressa de forma tão precária especialmente no início de sua vida. Os sons, os reflexos do recém-nascido, tantas vezes repetidos no útero, que vão sendo substituídos por comportamentos e vocalizações. O bebê procura o rosto da mãe e de quem nele investe afeto.
Digo isso aqui porque sei que o que mais fazemos hoje é procurar pelo nosso bebê nos livros, sites, cursos e palestras. Queremos respostas sobre como ele é, ou será, sobre como se comportará, o que podemos esperar dele, como ele mamará, por quanto tempo, com calma, ou agitado? Afinal, no começo o recém-nascido é um estranho que, apesar de ter saído de nossas entranhas, não conhecemos ainda. Mas será que isso dá certo?
E ele está ali em nossos braços, ou seja, as respostas repousam em nossas mãos, mas as procuramos incansavelmente fora dali.
O seu bebê responde a você, a tudo que você enxerga nele, mesmo que o que você veja não esteja ali num primeiro momento, mas um dia estará, porque é assim que se constitui um ser humano: na relação, através dela. E a linguagem é um ponto chave, inclusive com seus intervalos de silêncio. Sim, porque há silêncios cheios de significado e palavras vazias.
Tem família que muito cedo diz que o bebê é birrento, divertido, mimado, brincalhão, caprichoso, preguiçoso, apressado, calmo, agitado, alegre, sério e as explicações são detalhadas! Cada reação do bebê, por menos carregada de significado que seja, leva a uma atribuição. O que eu diria para você é que para conhecer o seu bebê conheça a si mesma, se escute, ouça o que você diz à respeito dele e ouça também o que não diz.
O seu bebê registra cada gesto seu, seja sonoro ou não. O seu radarzinho está o tempo todo à procura de estímulos nos quais ele se enlaça e se constrói.
Um bebê é ativo neste processo, e cada vez que você o olhar, a cada semana que passar, você o enxergará com mais e mais clareza, este bebê que é o seu, que se enlaça no seu olhar e no significado das suas palavras.
É como uma dança, uma coreografia, que você compartilha com ele.
Mergulhe e divirta-se, as descobertas são infinitas!
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Chris Nicklas é apresentadora, criadora e gestora do site Amamentar é…, estudante de Psicologia e mãe dos gêmeos Luca e Nina de 15 anos.
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from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Colunistas/Chris-Nicklas-Amamentar-e/noticia/2020/01/talvez-voce-nao-tenha-ideia-de-o-quanto-o-seu-bebe-e-seu.html