Meu filho de 3 anos é alucinado por documentários sobre animais.
Nessa idade, acho que o mais comum é as crianças gostarem de desenhos animados, por causa da quantidade de cores, da velocidade, da trilha sonora... Eu mesma sempre caio
na sedução que as animações trazem. Se deixar, fico uma tarde inteira hipnotizada. Mas Rocco não liga muito.
Desde que o levamos para a Amazônia, no ano passado, ele voltou com essa ideia fixa em animais. Meu marido coloca na TV os documentários sobre tigres siberianos, as arraias lixas, passarinhos exóticos, e ali ele fica, durante horas, viajando e repetindo as falas do narrador, porque, de tanto assistir, já decorou.
O fundo do mar ou as geleiras, com imagens feitas por drones, são paisagens surreais, que deixam também os adultos de queixo caído. Eu acho incrível! É para ser algo tranquilo, mas, em quase todos os episódios, têm momentos de tensão. A vida selvagem está longe de ser relaxante. Todas as vezes a que estamos assistindo, eu fico atenta para pular essas partes, que mostram a chegada dos predadores.
Estão lá, as pequenas focas fofas, brincando com seus filhotes, imagens lindas dos bebês pulando até que um urso polar fêmea se aproxima. Este, por sua vez, era o mesmo urso bonitinho que, em outro episódio, também aparecia brincando com seu bebê urso polar. Rocco sempre fala: “Olha, é a mamãe e o filhinho!”. A música do documentário já traz o ar de tensão, e é nessa hora que eu pego o controle e pulo a cena em que o urso polar, em um momento não tão fofo, ataca o bebê foca e o leva embora, abocanhado. Enquanto isso, a mamãe foca chora sozinha na geleira. Evito ao máximo essas cenas.
Mas como você, que tem filhos, pode imaginar, na correria da casa, às vezes eu estou na cozinha ou recolhendo brinquedos no chão, o pai está respondendo um e-mail e, quando percebemos...
Ai, meu Deus! Ele viu todas aquelas imagens!
O gavião que leva um macaquinho, o macaquinho que come o ovo do ninho do passarinho, um búfalo que não correu o suficiente... e assim por diante. E agora? Como explicar?
Esses dias, meu filho soltou um: “ele matou o bebê”. Eu fiquei sem reação. A natureza é má?
Como proteger nossos filhos das verdades do mundo? Tentei explicar como funciona toda a cadeia alimentar, até chegar em nós, que (aqui em casa) ainda não somos veganos. Mas logo me veio um medo antecipado, de, daqui a alguns anos, ter de explicar as atrocidades do mundo. Como?
Como ver um jornal ao lado de uma criança que aprende que o mundo deve estar cheio de amor? Vocês, que são pais de crianças e adolescentes, vão precisar me explicar como lidar. Que missão é essa? Qual é a melhor maneira de construir um lugar de paz interior, enquanto, lá fora, o bicho pega? Literalmente.
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from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Colunistas/Rafa-Brites-Mae-na-real/noticia/2020/01/quando-o-bicho-pega.html