Com sua intepretação da valente e amorosa Lurdes na novela das nove, ‘Amor de Mãe’, Regina Casé, 65, tem conquistado mentes e corações de crítica e público. Há décadas no cinema e televisão, ela diz, em entrevista à Crescer, estar contente por participar de um projeto que contempla diferentes relações entre mães e filhos e reflete sobre o desafio de conciliar família e carreira. Confira:
A maternidade sempre esteve presente nas tramas das novelas, mas geralmente em papel secundário. Como você encara o fato desse tema ter sido trazido para o centro de uma narrativa?
Antigamente, a maternidade em uma novela estava confinada à um tipo de mãe, a um lado sofrido das mulheres. E agora, é um tema tão amplo, abrangente, não existe apenas um tipo de mãe. Elas podem até ter um denominador comum, mas são muitas mães, com dificuldades completamente diferentes, alegrias em relação aos filhos também diferentes. Acho que essa novela contempla bem isso.
Você é muito lembrada pela sua interpretação excelente como ‘Val’ no ‘Que Horas Ela Volta?’. Como você diferencia a Lurdes dessa outra personagem que ainda está tão viva na memória de quem assistiu ao filme?
Acho que nem é justo ter que fazer essa diferenciação. Milhares de artistas só representam cariocas e paulistas, mas pelo simples fato de Val e Lurdes serem pobres e nordestinas, acham que elas são idênticas. Existe um universo infindável de mulheres com características distintas. Para mim elas são muito diferentes, ao ponto de relaxar e deixar vir um pouco da Val pra Lurdes. Não me incomoda, acho até bom.
Como o nascimento dos seus filhos mudou as crenças que você tinha em relação à maternidade?
Eu não tinha aquele sonho de ser mãe. Quando você fica grávida, as pessoas te rogam uma praga, dizem “nunca mais você vai dormir”, “nunca mais vai fazer isso ou aquilo”. Eu continuei fazendo todas as coisas, viajando, trabalhando. Mas, ao mesmo tempo, a minha ilusão de que não ia mudar nada, é uma viagem. E que o fato de ser mãe é uma coisa realmente transformadora e que eu precisava passar por isso, é uma maravilha. E não mudou o que eu queria, eu continuei trabalhando, mas me abri para um monte de coisas que eu nem suspeitava. Acho que a gente tem que aproveitar a maternidade pra deixá-la ser transformadora no que a gente quer mudar, não permitir que ela te restrinja e você deixe de fazer coisas que antes você gostava.
A culpa materna é um tema muito forte em ‘Amor de Mãe’. Como sua personagem lida com isso? E como você lidou com esse sentimento?
Eu não sinto culpa. Às vezes tenho pena de não estar aproveitando mais certos momentos com meus filhos por causa de trabalho. Mas, ao mesmo tempo, a solução que dou para isso é unir a família e o trabalho. O Roque pequenininho ia comigo ao Esquenta. Ele aprendeu a andar nos bastidores do programa. Hoje em dia não dá pra ele faltar aula, claro, mas quando viajo a trabalho, vai todo mundo comigo. Com a Benedita sempre foi assim, ela fez todo o ‘Um Pé de Quê?’, ‘Brasil Legal’, e isso foi ótimo. Ela conheceu todo o Brasil, de ponta a ponta.
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