Febre, dor de garganta e dificuldade para engolir são alguns dos sintomas recorrentes por aí? Saiba que, a cada ano, cerca de 600 milhões de pessoas em todo o mundo sofrem com amidalite. Mas para alguns, o problema volta com tanta frequência que acaba se tornando um verdadeiro pesadelo! Além de causar dor e desconforto, atrapalha o rendimento escolar, a rotina - não só da crianças, mas de toda a família - e faz com que o pequeno não consiga se alimentar adequadamente. Mas o que leva umas crianças a terem mais infecções na garganta do que as outras?
De acordo com um estudo realizado pelo Instituto La Jolla de Imunologia (LJI), nos Estados Unidos, uma combinação de fatores genéticos e imunológicos é o que torna alguns mais suscetíveis às bactérias que causam infecções na garganta. As descobertas foram publicadas recentemente na revista Science Translational Medicine. "Temos mais de 100 anos de experiência com esta doença, mas realmente não tínhamos nenhuma boa explicação sobre por que algumas crianças sofrem de infecções na garganta. Achamos que esta é a primeira evidência sólida de que existe um componente imunológico importante, bem como um componente genético que, em conjunto, contribui para a infecção recorrente da faringe. Vamos tentar construí-lo", explica o autor sênior do estudo, Shane Crotty.
A infecção na garganta é causada, principalmente, pela bactéria Streptococcus pyogenes, que também pode desencadear doenças como pneumonia, escarlatina, impetigo e fascite necrotizante. Mas, ao contrário dessas outras doenças, a amidalite é facilmente tratada com antibióticos. No entanto, se não for diagnosticada, também pode levar a sérias complicações. "A infecção recorrente na garganta é uma grande preocupação no mundo porque crianças que não tomam antibióticos têm um risco real de desenvolver febre reumática aguda ou doença cardíaca reumática, que é uma das principais causas de doença cardíaca adquirida entre jovens adultos no mundo", explica a infectologista e autora do estudo, Jennifer Dan.
ENTENDA A PREDISPOSIÇÃO
Para entender o motivo de algumas crianças terem uma maior predisposição à infecção na garganta, os pesquisadores se voltaram para as próprias amígdalas. Eles coletaram amostrar de tecidos de uma coorte de crianças de 5 a 18 anos que tiveram suas amígdalas removidas porque sofriam de repetidas crises de amidalite ou por razões não relacionadas, como a apneia do sono.
Ao comparar os resultados, eles notaram que as amígdalas de crianças com infecções recorrentes tinham areas de centros germinativos menores. "Essas crianças têm uma má resposta do centro germinativo. Curiosamente, está associada a uma resposta de anticorpos particularmente pobre à bactéria, que é um aspecto importante da imunidade protetora", explica o infectologista Jennifer Dan. Já as crianças do outro grupo apresentaram títulos elevados de anticorpos, o que indica que eles foram expostos à bactéria, mas não adoeceram.
Entre as crianças com amidalites recorrentes, a doença também era mais provável de ocorrer na família, sugerindo um componente genético. Testes revelaram duas variantes genéticas específicas, que determina como os patógenos interagem com o sistema imunológico, que foram associados com maior suscetibilidade a amidalites recorrentes e um que protegeu contra a doença. "Uma vez que a conexão imunológica, bem como a conexão genética estão ligadas a uma resposta insuficiente de anticorpos, sugere que reconhecer esse fator é realmente um problema fundamental para essas crianças", diz Shane Crotty.
"A repetição da faringite estreptocócica é a segunda indicação mais comum de remoção de amídalas em crianças. Como toda cirurgia, apresenta certos riscos, mas há dados recentes sugerindo que a amigdalectomia pode aumentar o risco de doenças do trato respiratório superior em longo prazo", alerta o pediatra, otorrinolaringologista e co-autor sênior Matthew Brigger. "Minha esperança é que, à medida que aprendermos mais sobre as causas por trás de infecções recorrentes por estreptococos, poderemos intervir antes que aconteçam", diz. "Ter uma vacina que treine o sistema imunológico com antecedência pode estimular uma resposta imune protetora que pode evitar crises recorrentes de amidalite", finaliza Crotty.
TIPOS DE INFECÇÕES NA GARGANTA
Para a pediatra Renata Di Francesco, presidente do Departamento de Otorrinolaringologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SP-SP), "há muitos tipos do que comumente chamamos de inflamação na garganta ou dor de garganta", explica. Segundo ela, as inflamações podem ser de origem alérgica, viral ou bacteriana.
"Há pacientes que apresentam amidalite de repetição, apesar do tratamento com os antibióticos corretos. Geralmente isso acontece por uma predisposição do paciente e, sim, provavelmente há uma associação genética, uma vez que é comum entre irmãos ou parentes próximos. E ainda há pessoas que são portadoras da bactéria, mas não desenvolvem a doença, pois é mais imunocompetente do que outros", explica. "Atualmente, alguns países, inclusive o Braisl, estão trabalhando no desenvolvimento de vacinas que, no futuro, poderão nos ajudará muito na prevenção destas enfermedades", finaliza.
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