"Não, não vai dar em nada. Mas eu preciso falar isso. Hoje, mais uma vez, passei por uma situação horrível. Pedi um Uber para levar a Clara para a escola. Quando o motorista chegou, eu andei em direção ao carro, ele olhou para ela e disse: 'Me desculpe, mas não vou levar essa criança'. Isso com o carro já descendo a rua e simplesmente foi embora sem justificar." Esse foi desabafo que a empresária e produtora de eventos, Luana Watanabe, 32, fez em suas redes sociais nesta segunda-feira (10).
Luana é mãe de Isadora, 2, Davi, 10 e Ana Clara, 7, que tem síndrome de Down. "Não existe pior sentimento do que esse. Além de tudo, Davi estava junto. Chorei, claro, pela Clara, pela vergonha, pelo Davi, que depois ficou com receio de entrar em outro carro com a gente, com medo de sermos rejeitados de novo. Absurdo que me destruiu hoje", lamentou. Segundo a mãe, ela costuma usar o serviço quase diariamente para levar a filha à escola porque, para ela, é complicado usar o transporte público. "Às vezes, ela só quer colo e já está muito grande", diz.
À equipe da CRESCER, Luana disse que essa não foi a primeira vez que ela e a filha foram "rejeitadas" por um serviço de transporte privado em São Paulo. "Não, não é drama! Porque isso não aconteceu dessa forma quando eu estava só com o Davi ou só com a Isadora, mas já aconteceram outras vezes quando eu estava com a Ana Clara. Outras duas ou três vezes, na saída da APAE, carros passavam pela gente, olhavam para a nossa cara e simplesmente iam embora. Como não tinha uma reação verbal, eu ficava chateada, mas deixava para lá. Mas ontem foi diferente. Ele olhou para ela e falou. E a forma como ele falou e se expressou foi horrível", conta.
BOLETIM DE OCORRÊNCIA REJEITADO
"Sim, para mim foi discriminação pelo fato de ela ter síndrome de Down. Ainda que a pessoa não saiba o nome da síndrome, ela sabe que se trata de uma criança diferente. E ainda que não tenha sido por conta disso, foi por algum motivo que só o motorista poderá falar. Houve preconceito, sim! A questão é que não dá para aceitar esse comportamento de preconceito por raça, cor, idade, síndrome, deficiência, etc", afirma Luana.
Na própria segunda-feira, Luana foi até a Polícia Civil, mas, segundo ela, teria ouvido da delegada que "não se trata de um caso criminal e que, por isso, não poderia fazer nada". "Ela foi estúpida e disse que, se eu quiser, devo contratar um advogado. Então, quando falo que as coisas ficam impunes, é isso! Você não é coberto por nenhum órgão, é desse jeito que você é tratado", desabafou a mãe.
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RESPOSTA DA UBER
Luana entrou em contato com a Uber. Por mensagens, a empresa disse que sentia muito em saber que a experiência não teria acontecido como esperado, e completou: "Já tomamos todas as medidas cabíveis em relação a este motorista parceiro para evitar que tais situações voltem a acontecer no futuro". A empresa disse ainda que é muito importante que os usuários informem sobre essse tipo de comportamento, pois a intenção é fazer parceria com os melhores motoristas".
Nossa equipe também conversou com representantes da plataforma, para saber quais foram as providências em relação ao motorista. "A Uber lamenta que essa situação tenha acontecido dentro da nossa plataforma. Levamos esse tipo de denúncia muito a sério e temos uma política de tolerância zero a qualquer forma de discriminação em viagens pelo aplicativo. Entramos em contato com a usuária e desativamos o motorista do aplicativo assim que recebemos a denúncia. A Uber defende o respeito à diversidade e reafirma o seu compromisso de promover o respeito, igualdade e inclusão para todas as pessoas que utilizam o nosso app", afirmou a empresa, por e-mail.
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