Dia desses, ouvi uma história interessante. Uma mãe contava à outra que, por mais que ela fizesse gosto de amizades do filho, ela ia tirar seu rebento de uma atividade extra qualquer. Até aí, nada de mais. É comum colocarmos e tirarmos nossos filhos de natação, aulas de desenho, oficinas de redação, judô. Especialmente quando eles não gostam ou perderam o interesse. Mas havia algo que me chamara atenção naquele caso. Talvez tenha sido o espanto da outra mãe que lhe perguntara, com uma dorzinha no peito, o motivo da desistência e ouvira de resposta o seguinte: “Simplesmente não vejo o que meu filho pode aprender com o grupo. Não há troca, quando somente a professora o desafia”, justificava a mãe, sem notar que a outra com quem falava era mãe de um dos meninos da turma e que, portanto, se sentira magoada com aquela fala.
+ Sob a luz dos olhos dos filhos
Feliz com a capacidade de o filho de se expressar e se posicionar diante da vida e sempre tendo excelentes notas, a mãe orgulhosa cometera uma gafe triste: sem querer, diminuiu o filho da outra. E mãe é bicho que se magoa. Fácil, fácil.
Mas, tirando a sensibilidade da mãe magoada, por que uma criança não pode aprender com a outra? De onde tiram isso que o único a trazer um desafio é o professor? Seriam os demais colegas tão bobos assim? Estaria a aula inadequada? Poderia a professora conferir novos desafios? Jamais saberemos.
Jamais saberemos o que se passa com aquela criança. Poderia estar triste naquele grupo, sofrendo algum bullying ou simplesmente não gostar da atividade oferecida? Seria o grupo inadequado, com crianças fora da faixa etária? Seria aula de física quântica e o jovem era louco por culinária? Jamais saberemos mesmo.
+ Por que dividem as brincadeiras entre menino e menina?
Porém, o que podemos inferir é que a delicadeza precisa estar mais no nosso dia a dia. Seja qual for o motivo de seu desinteresse, não podemos cair na velha armadilha de diminuir o filho do outro para enaltecer o nosso. Nossos filhos não precisam disso. E mais do que isso: precisamos urgentemente ensinar os nossos filhos a lidarem com as diferenças - não somente as diferenças com marcas visíveis em que nossas posturas éticas ou não são facilmente questionadas. Mas as diferenças de gostos, de notas, de interesses, de potências, de aptidões, de personalidades, para que possamos entender de uma vez por todas: sim, todos aprendem com todos.
Ciça Melo e Fabiana Ribeiro são jornalistas, mães de crianças com deficiência e co-fundadoras do Paratodos, que faz da inclusão uma bandeira real. Aqui, elas contam histórias e falam de demandas urgentes.
from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Colunistas/Incluir-para-Crescer/noticia/2019/06/gafe-da-mae-orgulhosa.html