“Pai, a Rússia ganhou da Arábia de 3x0”.
Quando Julia chegou da escola no dia da estreia da Copa com essa informação, confesso que fiquei surpreso. Ela nem parecia tão empolgada assim antes de o Mundial começar... Já tinha até largado o álbum de figurinhas, sem completar. Mas claro que adorei saber que ela estava animada. E quando ela olha para a televisão e acerta os times que estão jogando? Aí são vários motivos para eu ficar feliz. Primeiro porque é a prova de que o álbum deu lá sua contribuição cultural né? Segundo porque já podemos dizer que Juju está alfabetizada! Se ela vê “COS x SER”, por exemplo, ela sabe que é Costa Rica contra Sérvia. Fiz esse teste várias vezes e ela acertou todas!
Mas fui entrar com Julia no clima da Copa mesmo no segundo dia do torneio. Sua professora me convidou pra ir na escola conversar com as crianças sobre Copa do Mundo por saber que trabalho com jornalismo esportivo. Cheguei lá achando que ia na sua sala falar com umas 25, 30 pessoas já contando as professoras... Acabei num auditório com umas 150 crianças de 6 e 7 anos sedentas por informação sobre a Copa. Durante uma hora fui sabatinado mesmo! Uma entrevista coletiva! O entrevistado: eu. Microfone passando de mão em mão entre as crianças e perguntas das mais variadas. E eu ali, suando mais do que quando entro ao vivo na televisão. “Tio, já entrevistou Cristiano Ronaldo? Messi? E o Neymar?”. Essas eram as mais repetidas. Também teve “Já entrevistou o Neymar junto com a Bruna Marquezine?”. “Já foi em quantas Copas?” Teve um me dando dura: “Quantas línguas você fala?”. Aí respondi que falava português, inglês e espanhol. Réplica dele: “Acho pouco, eu falo francês também”. Um outro me perguntou para quantos países eu já tinha viajado. Disse que não sabia mas que já tinha passado por todos os continentes e tal... Resposta dele: “Acho que a partir de agora você deveria contar certinho o número de países que visitou”. Curto e grosso assim.
Não bastasse falar do que mais amo para os amigos de Julia, ainda vi minha filha tão feliz e à vontade com aquilo tudo que essa foi, sem dúvida, a melhor parte. No fim, apareceram com o técnico da seleção brasileira, Tite, de papelão. A ideia das professoras era fazer uma brincadeira comigo como se eu o entrevistasse. Julia assumiu o controle da situação, pegou um microfone, se posicionou atrás do treinador de mentirinha e pediu pra eu começar a “entrevista”. Sabe quando você não sabe o que fazer, nem o que falar, muito menos o que pensar? Aonde estava a minha Julia, aquela criança de 6 anos, indefesa, tão dependente de mim? Havia sim uma Julia forte, desinibida, confiante ali na minha frente. Achando graça de tudo aquilo com aquela risada que é a mais saborosa do mundo! Não lembro muito bem o que perguntei pro “Tite”... Mas ela faz questão de descrever aquela conversa frase por frase, palavra por palavra. Achou o máximo ter respondido que ia “barrar” o Neymar na Copa. Estava na sua cara o quanto gostou daquilo tudo: me ver entre os seus amigos, me apresentar a todos, dividir o que é meu trabalho com eles... Quanto a mim, só posso dizer que foi daqueles dias que nunca vou esquecer na vida.
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Bruno Côrtes é pai de Julia, 6 anos. Já viveu um ano e meio longe da filha por causa do trabalho. Foi correspondente do SporTV em Nova York. Hoje, aproveita cada minuto ao lado dela. E tenta adequar a vida corrida de jornalista com a de pai.
from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Colunistas/Bruno-Cortes/noticia/2018/07/nossa-copa-do-mundo.html