Tuesday, July 24, 2018

“Fiz três cirurgias no coração e surfei até o sexto mês de gravidez”

Carolina posa ao lado do marido Ricardo e do filho Ícaro, de 2 anos (Foto: Arquivo pessoal)

“Quando eu tinha 24 anos, passei uma temporada morando na Inglaterra. Na época, a libra esterlina estava alta e aproveitei para fazer uma graninha. Eu trabalhava muito, me sentia muito cansada e tinha dores no peito. Achava que era estresse. Mas quando voltei para o Brasil, vi que não era bem isso. Descobri que, na verdade, as válvulas do meu coração estavam bastante comprometidas - e eu nem tinha histórico de problema cardíaco na família. O que eu tinha era uma consequência da febre reumática, uma doença inflamatória provocada pela mesma bactéria que causa dor de garganta. Nunca apresentei nenhum sintoma antes, mas, mesmo assim, a abertura das minhas válvulas já estavam reduzidas e tive de ir direto para o cirurgião.

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Fiz duas cirurgias para implantar uma prótese e, pouco tempo depois, decidi que precisava mudar de vida. Deixei minha casa e meu emprego como produtora executiva em uma editora de revistas em São Paulo e fui morar na Praia do Rosa (SC). Comecei a fazer pilates e a praticar o surfe, para fortalecer os ossos e a musculatura. A minha vida estava tão bacana, estava curtindo tanto, que achei que aquela era a hora de aumentar a família. O engraçado é que, até eu conhecer o Ricardo, meu marido, eu não tinha vontade de ser mãe. Mas tudo estava fluindo tão bem que não tinha porque não tentar. Foi aí que, aos 33 anos, decidi procurar um cardiologista para saber se eu poderia engravidar

Carolina e a família (Foto: Arquivo pessoal)


Fui ao consultório, expliquei minha situação e, para minha surpresa, o médico disse que não, eu não poderia ficar grávida. Foi muito difícil ouvir um não. Mas ele teve tanta sensibilidade ao me confortar e me acolher nesse momento, que, apesar de tudo, me senti muito segura. A partir daí, encontrarmos juntos uma forma de tentar resolver essa questão. As próteses que eu tinha eram inadequadas para uma gravidez e, para ter uma gestação segura, eu precisaria trocá-las. Depois de seis meses, encarei outra cirurgia. Um ano e meio depois da primeira consulta, descobri que estava grávida.

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Por causa do meu quadro, a gravidez era considerada de alto risco. Lembro que a minha maior preocupação na época era com o meu bebê. Ele vai ficar bem? Ele não corre nenhum perigo? E, no fim das contas, mesmo com o meu histórico, não tive grandes problemas durante a gestação. Foi a melhor fase da minha vida, aliás. Amei todo o processo, o barrigão... Engordei quase 20 quilos. Eu saía de casa para passear, caminhar na praia e fazer meditação. Foi uma delícia. Surfei até o sexto mês, sem o aval do médico. Na época, ele pediu para que eu parasse de surfar e de fazer qualquer atividade física intensa, para não sobrecarregar as válvulas do coração. O que era esporte teve que virar só uma brincadeira, não teve jeito. Aos poucos, fui maneirando, mas não parei 100% no começo. Não ia mais todos os dias e nem entrava na água quando tinha onda grande. Às vezes, eu só subia na prancha e ficava remando.

Ícaro, 2 anos, em cima da prancha (Foto: Arquivo pessoal)


Fora a atividade física, o médico não impôs nenhuma outra restrição. Ele procurou me deixar bastante calma e segura. É claro, o acompanhamento era contínuo. Todos os meses, mesmo com o barrigão, eu saía de Santa Catarina, pegava o ônibus e ia para São Paulo para me consultar e fazer os exames. Durante a gestação, fui indicada a parto normal. Tentamos até quando deu, mas, no fim, tivemos que fazer uma cesárea e o Ícaro, meu filho, nasceu super saudável.

Ícaro ao lado do cachorro (Foto: Arquivo pessoal)

 

Aos poucos, nossa rotina foi voltando ao normal. Como moramos longe da família, não tivemos uma rede de apoio e meu marido e eu tivemos que nos virar sozinhos com o bebê, que era bastante chorão. Depois de quatro meses de ter dado à luz, voltei ao pilates e a fazer caminhada na praia, com o Ícaro no carrinho. Comecei a estudar Letras e hoje sou professora de inglês. Só voltei a pegar onda uns seis meses depois. Por incrível que pareça, só aprendi a surfar aos 32 anos, quando me mudei para Santa Catarina. Meu marido é oceanógrafo, já pegava onda e foi ele quem me ensinou. Antes de o nosso filho nascer, sempre íamos para o litoral de São Paulo surfar. A gente tinha o sonho de alugar um motor home e viajar por várias praias do Brasil com a prancha debaixo do braço. Mas o Ícaro chegou e precisamos adiar esse plano. Quem sabe um dia...”

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selo app crescer (Foto: Crescer)

 



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