Foi-se o tempo em que aprender uma nova língua em outro país era característica dos jovens e solteiros. Cada vez mais pais e mães têm viajado com os filhos para esse tipo de experiência, geralmente no período das férias escolares. Segundo a Belta,
Associação Brasileira de Educação e Linguagem, a procura pelo intercâmbio familiar vem crescendo nos últimos. “Entre as fortes motivações para isso está o fato de os pais quererem se reciclar e priorizar uma segunda ou terceira língua, mas sem abrir mão da companhia dos filhos”, conta Neila Chammas, diretora da Belta e diretora geral da ETC Intercâmbio, agência que disponibiliza esse tipo de experiência. Segundo Chammas, a procura pelo serviço teve um aumento de 200% nos últimos 5 anos.
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Se, por um lado, essa aproximação da família é boa para os pais, por outro, não deixa de ser uma oportunidade para que as crianças aprendam a valorizar a troca de cultura e o contato com pessoas de diferentes nacionalidades. Foi o caso do empresário Walter Sá Schimmelpfeng, 39, de Salvador (BA), que viajou com a esposa, Iara, e com os filhos, Lucas, 7, e Matheus, 11, para Londres durante 26 dias. “Estudávamos pela manhã e, durante a tarde, tanto nós quanto as crianças, colocávamos o que tínhamos visto em sala de aula em prática, nos passeios. O grande ganho é que, numa viagem dessas, até mesmo nas horas de lazer você está aprendendo uma outra língua sem nem perceber, o que por si só, já é um grande atrativo”, conta. A família escolheu se hospedar em um apartamento perto da escola em que todos estudavam, há uma quadra de distância. Nos fins de semana, ainda aproveitavam para fazer viagens mais longas. Walter conta que a turma da escola também era parceira para os passeios em grupo, o que facilitava a interação em sala de aula.
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Rotina sem peso
Com turmas e metodologias apropriadas para cada faixa etária e fase do idioma, as escolas que recebem pais com as crianças para o intercâmbio em família estão espalhadas por países em que a procura por esse tipo de turismo é alta. Estados Unidos, Canadá, Inglaterra e Espanha são os preferidos.
Por falar em metodologia, essa é a uma das partes mais importantes e que deve ser levada em consideração antes de fechar o pacote com a agência. Como o intercâmbio é feito durante o período de férias, vale lembrar que as crianças precisam tanto do tempo de ócio quanto das atividades livres em família. “As férias já são propostas para que as crianças saiam um pouco do ambiente escolar e do conhecimento formal. Elas funcionam como uma caixinha onde a criança guarda o que aprendeu até aquele momento e depois, só na volta às aulas, tem acesso novamente. Se o intercâmbio comprometer muitas horas diárias ou se a agenda ficar lotada de tarefas, considero prejudicial. Já se tiver atividades divertidas ou corporais e que sejam encaradas mais como lazer do que obrigação, aí sim o ganho pode ser grande”, salienta a pedagoga Maria Aparecida Correa, coordenadora pedagógica da escola de educação infantil EPCO (SP).
Atividades lúdicas, passeios e brincadeiras não faltaram durante as férias de Lucas e Matheus, filhos de Walter. “Os meninos aproveitaram a viagem com patinação no gelo, visitas aos museus e brincavam com os novos amigos ao ar livre”, conta. O procurador Leonardo de Medeiros Garcia, 40 anos, de Vitória (ES), que também optou pelo intercâmbio em família no início deste ano conta que os filhos, João, 6, e Davi, 8 (com 5 e 7 anos na época, respectivamente) conta que a maior parte das atividades do menor, que não tinha vivência com o inglês, era composta por brincadeiras. Já a rotina de Davi envolvia desenhos e exercícios que estimulavam a imaginação. Todos estudavam das 9 às 13 h, tendo lição de casa à tarde e também um bom tempo para descanso e brincadeiras entre os irmãos. “Às quintas-feiras, as crianças saíam para brincar na escola e, de sexta a domingo, aproveitávamos para conhecer os pontos turísticos dos Estados Unidos. Foi interessante notar o quanto eles aprenderam culturalmente nessa viagem. Além disso, a pronúncia do caçula no inglês ficou muito melhor”, diz. Tanto Leonardo quanto Walter embarcaram pela primeira vez nesse tipo de aprendizado e dizem que, assim que tiverem oportunidade, repetirão a experiência. "Meu filho mais velho passou a ter uma visão de mundo muito maior, ampliou os horizontes para muito além do aprendizado do idioma. É um investimento que vale a pena", diz Leonardo.
Tudo no mesmo pacote
De acordo com a gerente de produtos Cristiane Aleixo, da Experimento Intercâmbio Cultural, que oferece esse tipo de pacote, os cursos são estruturados para que pais e filhos estudem no mesmo período, possibilitando que tenham o mesmo tempo livre para o desenvolvimento de atividades extracurriculares e passeios pelos principais pontos turísticos da cidade. Dependendo do país, existe a possibilidade dos pais estudarem no mesmo prédio que os filhos. Nos Estados Unidos, por exemplo, é fácil de encontrar escolas para todas as faixas etárias. Outro ponto a ser considerado é o nível de inglês. Mesmo que a criança nunca tenha tido aulas do idioma em questão, é possível ter uma boa experiência. Para Lucas, filho caçula de Walter, a língua foi uma barreira no início. “A gente brinca que quem saiu aprendendo mesmo foi a professora, pois já falava português no fim das três semanas que estivemos por lá”, diz o pai do menino.
A idade mínima para a criança ingressar nessa aventura com os pais varia de escola para escola, mas é possível encontrar pacotes em alguns países para crianças a partir dos 5 anos. “Isso é definido de acordo com a estrutura da escola para receber crianças e também pela estação do ano. No inverno, por exemplo, as opções de atividades são mais limitadas”, explica Cristiane. O preço do pacote (que inclui acomodação) varia conforme a escola. O casal com um filho paga em torno de US$ 10 mil por um mês (o que equivale a R$ 40 mil) por quatro semanas de curso nos Estados Unidos, por exemplo. Se o destino for a Inglaterra, a mesma família desembolsa cerca de 15 mil euros pelo mesmo período (cerca de R$ 60 mil).
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