O uso das ervas e plantas medicinais nos cuidados com a saúde da mulher é uma prática milenar bastante comum entre povos originários. E esse conhecimento tem ganhado cada vez mais popularidade nos dias atuais, na medida em que se disseminam práticas integrativas no olhar às diferentes fases da vida da mulher.
No período do pós-parto – momento em que o corpo se recupera da intensa tarefa de gestar e parir um bebê – a vaporização pode ser uma grande aliada. É uma prática de limpeza, recuperação e um ritual de autocuidado. Nunca ouviu falar? Calma que a gente explica todos os benefícios, contraindicações e o passo a passo para uma vaporização eficiente e segura neste período tão especial.
Vale lembrar que a vaporização do útero pode ser usada além do pós-parto, em outros períodos da vida da mulher, mas sempre com cuidados e olhares específicos a cada ciclo. É fundamental procurar uma especialista no assunto para uma avaliação antes de definir um protocolo que funcione especialmente para você. "Por mais que seja um método natural, também tem indicação e contraindicação. É importante sempre conversar com um médico antes de fazer”, explica a ginecologista e obstetra Larissa Cassiano, da Clínica Theia (SP).
A vaporização uterina nada mais é do que o uso do vapor da água, sempre com a difusão de alguma ou algumas ervas, diretamente na vagina. A ideia é que o vapor leve ao corpo da mulher as propriedades das ervas escolhidas, para uma limpeza profunda e uma experiência de bem-estar.
Segundo Mariana Campos, facilitadora de Vaporização do Útero, formada pelo Peristeam Hidrotheraphy Institute, da Califórnia, após o parto, a limpeza do canal vaginal ajuda a reduzir as chances de inflamação e de problemas ginecológicos no futuro, e a vaporização garante que essa limpeza seja feita por completo, sem retenção de resíduos da gestação. "Além disso, ela ajuda o útero a contrair e voltar ao seu tamanho normal, alivia as contrações uterinas doloridas e, portanto, ajuda a suavizar o sangramento comum deste período", explica.
Mariana explica ainda que o vapor e o calor também fortalecem o canal vaginal - que atua na sustentação dos órgãos da região - diminuindo a chance de prolapso uterino e a incidência de incontinência urinária. A prática também diminui o inchaço na região da vulva, após o parto normal, age nas hemorroidas, quando é o caso, e diminui a retenção de líquidos.
“Após o parto, o cervix [ou colo do útero] fica aberto por 5 a 6 semanas, e essa é uma oportunidade de limpar tudo. É o que chamamos de janela de ouro para essa limpeza profunda”, explica Mariana.
A ginecologista e obstetra Larissa Cassiano reforça os benefícios da vaporização, embora aponte que não existam estudos comparativos de longo prazo para alguns métodos da ginecologia natural, entre eles a vaporização. "É difícil comparar uma mulher que fez a vaporização com outra que não fez. Percebemos que existe benefício, mas não temos muitos estudos falando sobre isso", afirma.
Um tempo de autocuidado e silêncio pode ser transformador no puerpério – que vai muito além dos 40 dias de resguardo da literatura. Por isso a vaporização pode também ter um efeito terapêutico potente. “É uma fase de muita doação, exaustiva, um tempo de disponibilidade dia e noite, então poder todos os dias, durante 30 dias, tirar um momento para cuidar de si é precioso. É uma oportunidade de promover autocuidado em um momento que precisamos tanto”, defende Mariana, que é também jornalista visual e Aromaterapeuta Clinica Integral em formação.
“A vaporização, além de ajudar na vascularização, traz um momento de relaxamento para o pós-parto. Parar para fazer a vaporização pode ajudar muito a combater a ansiedade e o estresse”, reitera Larissa Cassiano.
A recomendação da mentora é começar a vaporização logo após a descida do leite – período chamado de apojadura, que ocorre de 3 a 5 dias após o parto. Também é importante garantir que o sangramento após o parto já tenha começado a diminuir gradualmente (mas ele não precisa ter cessado).
O protocolo de pós-parto deve durar 30 dias seguidos, por 30 minutos por dia. Mas a duração ideal da vaporização pode variar de mulher para mulher. Segundo Mariana, a palavra-chave para saber o tempo certo para você é o conforto!
Nem todas as mulheres devem fazer vaporização do útero no pós-parto. Em caso de qualquer sinal de infecção – hérpis, odor diferente, corrimento amarelo ou febre – é preciso esperar os sintomas passarem para iniciar o protocolo.
“A contraindicação é para mães que ainda estão com o sangramento vaginal um pouco intenso ou que tiveram alguma intercorrência no parto, como lesão ou infecção. Nesse caso, é indicado primeiro fazer o tratamento, para depois pensar na vaporização”, afirma a obstetra Larissa. “A vaporização misturada com o sangramento aumentado pode ser uma fonte de irritação e até causar infecções”, ressalta.
Mulheres que tiveram partos antes de 39 semanas (o que para a medicina chinesa pode ser um sinal de fadiga uterina), devem fazer a vaporização por apenas 10 minutos (e não 30 minutos, como o protocolo mencionado acima).
Você também precisa ficar de olho nas suas sensações durante a vaporização. Se não for agradável, suspenda a prática. Mulheres que levaram pontos no parto também precisam esperar o ponto cair para começar.
Sim, mas neste caso o protocolo é diferente do que no parto normal. Para mulheres que passaram por uma cesárea, o protocolo de 30 dias de vaporização deve começar apenas seis semanas depois do parto. Para este grupo, as ervas escolhidas devem ser mais suaves, para não estimular o retorno precoce da menstruação.
Nos primeiros 30 dias após o parto, se você teve um parto normal, é possível optar por ervas chamadas ervas emenagogas – que promovem uma limpeza mais profunda. Mas, neste caso, para saber quais delas são as mais adequadas para você, será preciso uma consulta com uma profissional qualificada, que poderá observar caso a caso.
Aqui nesta reportagem, vamos ensinar um blend seguro – mas também bastante eficaz. A sugestão é usar folhas de framboesa, Artemísia e camomila. Você pode misturá-las ou usá-las separadamente, uma em cada dia da sua prática, como preferir.
Comprou ou colheu suas ervas e está pronta para começar? Comece escolhendo um ambiente tranquilo, e um momento em que você possa dispor de alguns minutos para você, sem interrupções. Você pode colocar uma música ou fazer em silêncio, como preferir. Pode também ornamentar o espaço com velas, se desejar... Aproveite esse tempo de autocuidado.
Depois do cuidar do local, coloque a água para ferver - separe 1,5 litro de água. Depois que a água ferver, reduza o fogo e adicione as ervas (uma colher de chá de cada). Tampe e deixe em infusão por 5 a 10 minutos no fogo baixo. Coloque a água e as ervas em uma cumbuca e leve até o local escolhido para a vaporização.
Para a prática, você pode usar um banquinho próprio, que acomoda o corpo com conforto e possui uma abertura. Caso não tenha o banquinho, você também pode ficar de joelhos – com almofadas embaixo dos joelhos – e apoiar o tronco na beira da cama, por exemplo, como for mais confortável.
Envolva o corpo com um cobertor da cintura para baixo, para fazer como uma “tenda de calor”. Se não estiver usando o banquinho, você pode envolver a cumbuca em uma toalha, para evitar que a perna toque no material e você se queime.
Embora o protocolo sugira 30 minutos de vaporização, não esqueça de ficar atenta aos sinais do seu corpo. “Não é para queimar, é para ser um calor gostoso. Se não está agradável, abra o cobertor, deixe esfriar um pouco, e depois retorne. Ou diminua a duração do ritual. Você não pode ter a sensação de queimação. A vulva é sensível, a mucosa vaginal é sensível, por isso a referência é que a vaporização tem que ser um calor agradável”, conclui Mariana. Depois da prática, higiene a cumbuca e descarte a água – que pode conter sangue da
Dra Larissa Cassiano também reforça o cuidado com o vapor quente demais. “É importante que a água não esteja em uma temperatura muito quente, senão pode causar queimaduras. Se a vaporização causar irritação, dor ou incômodo, a mãe deve suspender e, se necessário, procurar auxílio médico. Toda a ginecologia natural tem diversos benefícios, só precisamos ter cuidado para saber quando utilizar", diz.
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from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Saude/noticia/2021/08/vaporizacao-do-utero-no-pos-parto-saiba-quais-os-beneficios-da-pratica-e-como-fazer-com-seguranca.html