Um levantamento divulgado este mês pelo Instituto Desiderata concluiu que a média de mortes por câncer infantil no Brasil é quase duas vezes maior do que nos Estados Unidos. Enquanto aqui a média de mortes no período analisado (de 2000 a 2019) foi de 43,4 por milhão de jovens, nos EUA essa média foi de 22 óbitos por milhão. O estudo analisou dados de crianças e jovens de até 19 anos de idade.
Na análise por faixas etárias, a maior taxa de mortalidade é entre adolescentes (51,1/milhão), seguida de crianças de 0 a 4 anos (46,9/milhão). A faixa etária de 5 a 9 anos tem média de 37,9 mortes/milhão e para crianças de 10 a 14, a média é de 37,1 mortes/milhão. Outro dado destacado é a mortalidade de crianças e adolescentes indígenas: 67,7 por milhão, bem acima da média nacional. Foi observado também que pacientes das regiões Norte e Centro-Oeste eram mais propensos a se deslocar de estado, em busca de assistência médica. São Paulo é o estado que mais recebe crianças e adolescentes vindos de outros estados para o tratamento de câncer: 70,4%.
Ainda segundo o levantamento, o Brasil enfrenta mais dificuldades para realizar um diagnóstico preciso: 8,1% dos casos foram classificados como neoplasias não especificadas (quando há dúvidas sobre a natureza do tumor). Nos EUA, esse valor foi inferior a 1%. O estudo destaca também que 43% das crianças e adolescentes brasileiros com câncer receberam tratamento em hospitais sem habilitação em oncologia pediátrica, em desacordo com orientações nacionais e internacionais que indicam o tratamento em centros especializados para esse público.
O documento afirma ainda que cerca de 8.500 novos casos de câncer são diagnosticados em crianças e adolescentes anualmente no Brasil. A maior causa de morte entre o público infantil são as chamadas causas externas (ou seja, violência), seguida pelo câncer.
Durante o tempo de estudo, a taxa de mortalidade de jovens por câncer no Brasil quase não sofreu alterações: em 2000, a média era de 43 óbitos por milhão e em 2019 a média foi de 42 óbitos por milhão. Nesse mesmo período nos Estados Unidos, essas taxas diminuíram de 28 para 22 óbitos por milhão.
Para os pesquisadores, alguns dos fatores que influenciaram para esses resultados no Brasil são as dificuldades de acesso a diagnóstico e tratamento, diagnóstico da doença já em grau avançado, dificuldades financeiras das famílias e o abandono de tratamento.
O documento sugere que a melhora da estruturação da rede em nosso país é importante para garantir acesso ao diagnóstico, tratamento amplo e consequente melhora nos resultados. “O planejamento conjunto do cuidado possibilitará a otimização dos recursos da rede e contemplará o ciclo completo da atenção ao câncer infantojuvenil. Desta forma, será possível oferecer atenção multidisciplinar integral aos pacientes através da promoção de saúde, prevenção, tratamento curativo, reabilitação e cuidado paliativo”, escreveram os autores.
Além disso, o diagnóstico precoce e acesso a centros de tratamentos especializados são fatores fundamentais para que crianças e adolescentes possam ter melhores chances de cura.
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