Basta surgir algum caso de morte pela covid-19 de alguém (personalidade ou anônimo) que já tomou as duas doses da vacina para os grupos antivacinas virem à tona nas redes sociais questionando a eficácia das vacinas. Afinal, a covid-19 pode ser fatal mesmo estando imunizado?
"Mortes, mesmo entre pessoas vacinadas, é um fenômeno que, infelizmente, está dentro do esperado", afirma Marco Sáfadi, infectologista e presidente do Departamento de Infectologia da Sociedade Brasileira Pediatria (SBP). Segundo ele, é importante lembrar que "não existe nenhuma vacina 100% eficaz". "Todas elas são muito úteis, mas existe o que chamamos de 'falha vacinal'. Casos graves e até mortes ocorreram e vão ocorrer ocasionalmente. Recentemente, os Estados Unidos reportaram 160 casos de mortes de imunizados com vacinas bastante eficazes. O risco existe, mas ele é pequeno, e é importante que se entenda que, para cada caso em que a vacina falha, há centenas de outros que ela funciona e previne. Isso acontece com todas as vacinas", lembrou.
É o que reforça a infectologista Rosana Ritchmann, do Hospital Emílio Ribas, de São Paulo: "Mesmo com duas doses, elas não são 100% eficazes para casos graves e mortes", diz. O pediatra, neonatologista e infectologista Renato Kfouri, presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), explica que a prevenção das vacinas para a forma grave da doença é muito boa, mas existem falhas, pois depende da reação de cada organismo. "Depende da resposta imune de cada um e de vários outros fatores, como a idade avançada", exemplificou.
Uma pesquisa do Info Tracker — plataforma de monitoramento da pandemia da USP e Unesp com dados do Ministério da Sáude — mostrou, inclusive, que os totalmente vacinados representam 3,68% das mortes por covid-19 no Brasil, entre 28 de fevereiro e 27 de julho. E entre as vítimas fatais, os idosos acima de 70 anos são maioria: das 9.878 mortes registradas, 9.734 eram desta faixa etária; 1.062 tinham entre 50 e 69 anos; apenas 75 entre 30 e 49 anos e sete entre 18 e 29 anos. "As vacinas falham, em especial, entre os grupos que respondem sabidamente pior à vacinação, que são idosos, principalmente acima de 80 anos, e aqueles com grau de imunidade mais baixo, como pacientes com câncer ou que fizeram transplante. Para esses, já há uma recomendação que vem se constituindo de revacinação de grupos vulneráveis. Então, além de responder mal à vacina, então, são os que perdem aquela pouca proteção que obtiveram com a vacinação, diferentemente da população adulta", explicou o infectologista.
"Vamos ter sempre falhas vacinais raras, mas são encaradas como exceção, principalmente quando há muitos casos sendo registrados, como estamos vendo. Se tivéssemos apenas cem casos por dia, não veríamos esses casos. Mas com cem mil diários, infelizmente, vão ocorrer", afirmou. Isso só reforça o quanto é necessária que uma maior quantidade de pessoas sejam vacinadas, para evitar a disseminação do vírus e suas variantes, assim como manter o distanciamento físico e usando máscaras, alertou.
Outro alerta fundamental é, enquanto não houver vacina contra a covid-19 disponível para os pequenos, manter o calendário de vacinação das crianças em dia, para eliminar o risco da volta descontrolada de doenças já eliminadas do país, que, aliás, são muito mais perigosas para elas se comparadas com o novo coronavírus.
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