A paulista Thamires Fernandes Thelles, 23 anos, já tinha passado por uma gravidez e, por isso, conhecia bem a sensação de gerar um bebê. "Na gravidez da minha filha, que tem 2 anos, tive todos os sintomas: enjoos, desejos, sentia ela mexer muito, além de cansaço e sono", lembra. No entando, dessa vez, ela foi "trolada" pelo caçula, que chegou de surpresa aos 7 meses de gestação. "Nada de enjoos, nada de azia, nada de dor. Não fiquei inchada, não tive desejo nenhum, não cresceu barriga e nem senti mexer", afirma.
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As fotos de Thamires poucos dias antes de dar à luz impressionam. Aparentemente, é impossível dizer que ela estava grávida de sete meses. Thamires conta que chegou a fazer dois testes de farmácia antes do parto, mas ambos deram negativo. "Não tive nenhuma mudança drástica no meu corpo. Como eu já sou hipertensa, é muito comum eu sentir tontura e dor de cabeça. Mas meus pés não incharam e não tive nenhuma contração antes de a bolsa romper", diz. Depois de passar mal no trabalho, finalmente veio a confirmação. "O Beta HCG deu positivo, mas achei que estava grávida de três ou quatro meses", lembra. Não deu nem tempo de iniciar o pré-natal. Quatro dias depois, no dia 30 de junho, para a surpresa da família, Lorenzo veio ao mundo. "Nasceu um menino de 40 cm e 2,098kg. Graças a Deus, nasceu grande e saudável e não precisou ficar internado", conta.
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Em entrevista exclusiva à CRESCER, Thamires relembrou em detalhes como foi a chegada do seu "bebê surpresa" que está prestes a completar 2 meses de vida.
"Na gestação da minha primeira filha, tive hipertensão e nunca mais melhorei. Desde então, tomo diariamente quatro comprimidos e, mesmo assim, é difícil controlar a pressão. Por conta disso, não posso tomar nenhum tipo de contraceptivo. Segundo o meu cardiologista, a combinação dos remédios pode aumentar o risco de AVC ou parada cardíaca. Então, meu marido e eu estávamos nos prevenindo apenas com preservativo. Mas minha menstruação estava normal, nunca havia atrasado. No mês de abril, eu apenas me senti um pouco mal, com dor no estômago. Fui ao médico e não deu nada. Logo passou e, para mim, estava tudo indo bem, trabalhando normalmente: nada de enjôos, nada azia ou dor, nenhuma dor. Não fiquei inchada, não tive desejo nenhum, a barriga não cresceu e nem senti o bebê mexer.
No mês de maio, meu marido disse que era para eu fazer um teste porque ele estava desconfiado que eu pudesse estar grávida. Ele suspeitou porque eu havia sentido muita dor no estômago. Eu achava que era gastrite, mas ele cismou que poderia ser gravidez. Eu disse que ele estava louco, minha menstruação estava normal, mas acabei fazendo o teste e deu negativo. Em junho, minha menstruação não veio no dia 17, como de costume. No dia 20, nada ainda. Então, fiz outro teste de farmácia e, novamente, deu negativo. Dia 25, estava na empresa que trabalho e comecei a passar muito, muito mal. Fui para o ambulatório e fiz um exame de sangue. Para a minha surpresa, o Beta HCG deu positivo! Acreditei que estivesse grávida de três ou quatro meses. Voltei para casa, falei com meu marido e, antes de começar o pré-natal, resolvemos já marcar um ultrassom e agendamos para o dia 1 de julho.
No dia 29, trabalhei o dia todo normalmente, fui buscar minha bebê, que estava na minha sogra, fiz o jantar e deitei. Por volta das 21h30, escutei um barulho estranho na minha barriga. Levantei correndo e era a bolsa que havia estourado. Bateu um desespero! Eu não tinha nada, nem um par de meias para o bebê! Nem o sexo a gente sabia!
Avisei meu marido e o coitado ficou doido. Pegou nossa filha e correu para deixá-la na mãe dele; quando voltou, já queria sair correndo para a maternidade. Eu, com toda a calma do mundo, tomei um banho, peguei alguns documentos e fomos. Chegando lá, eu já estava com três dedos de dilatação. Fiz um ultrassom e o médico disse que eu estava com aproximadamente 7 meses e 4 dias! Quase surtei! Estava de sete meses, SETE meses! Nada fazia sentido! Então, às 4h40 da manhã, nasceu um menino de 40 cm e 2.098kg. Graças a Deus, nasceu grande e saudável e não precisou ficar internado. Meu marido pediu ajuda para familiares e, assim, todo mundo foi comprando algumas coisinhas. Quando chegamos da maternidade, muitos amigos também trouxeram presentes. Então, ganhamos muitos roupas de vários conhecidos.
No momento em que descobri a gravidez — quatro dias antes de o bebê nascer —, eu me senti muito incapaz, não queria ter outro filho. Primeiro, porque não tínhamos condições financeiras nesse momento e também porque nunca foi meu sonho ter dois filhos. Então, quando a bolsa rompeu, eu chorei muito. Achei que estava com menos tempo de gestação e, para mim, faltou o contato com o bebê ainda na barriga. Eu me vi em constante luta de aceitação. Para falar a verdade até hoje minha ficha ainda não caiu. Às vezes, eu olho para o meu bebê e penso que só pode ser um sonho. Mas amo o meu bebê, meu milagre que veio para me mostrar que as coisas não acontecem quando queremos. Ele está com quase 2 meses, está se desenvolvendo muito bem: mama muito bem, dorme bem e não me dá trabalho nenhum."
Segundo o ginecologista e obstetra Gabriel Costa, da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), na maioria dos casos, a menstruação irregular é o que acaba dificultando o reconhecimento precoce da gravidez, porque a falta dela não causa desconfiança. Também pode acontecer de uma gestante não sentir a criança se mexendo, desde que, psicologicamente, ela negue aquela gravidez. "Existem casos em que ela até sente, mas atribui isso a outros fatores, como um movimento do intestino, por exemplo”, diz o ginecologista e obstetra Alexandre Pupo Nogueira, do Hospital Sírio Libanês (SP).
A negação é um mecanismo de defesa totalmente inconsciente. “É uma resposta àquela situação com a qual a mulher não consegue lidar naquele momento. Na tentativa de fugir desse conflito, ela acaba interpretando a realidade de um jeito distinto. Tudo o que possa levar a uma confirmação da gravidez é negado, rejeitado, relevado”, explica Cristiana Julianelli, psicóloga e psicanalista especializada no atendimento de gestantes (SP).
Independentemente de ser uma gravidez desejada ou não, após a descoberta, é importante que a mãe tenha acompanhamento psicológico e possa contar com uma sólida rede de apoio, afinal, é muita informação para assimilar em pouquíssimo tempo. Muitas delas se preocupam com a saúde do bebê, remoendo a ausência do pré-natal e culpando-se por terem seguido uma vida sem restrições, muitas vezes consumindo álcool, tabaco ou medicamentos contraindicados. “O pré-natal realmente previne uma série de complicações e reconhece situações de risco. Não fazê-lo, assim como não ter seguido as orientações médicas, pode ser muito grave para mãe e filho, mas, felizmente, a maioria dos casos evolui bem”, tranquiliza Gabriel Costa.
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