Esta é a minha primeira coluna e, como se espera que aconteça nos primeiros encontros, é importante me apresentar. Estou há um tempo parada de frente ao computador sem saber exatamente por onde começo. Enquanto penso diversas primeiras frases que possam mostrar ao leitor e à leitora que essa é uma coluna que vale ser lida, Miguel, o meu filho mais velho, está no que convencionamos chamar de “homeschooling” ou ensino EAD e que, no final das contas, não é uma coisa nem outra, me fazendo perguntas sobre tubarões e bichos pré-históricos, além de pedir água e comida a cada dois minutos.
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Helena, a caçula, que nesse momento não está em aula, encara um sentimento humano do qual não podemos fugir: o tédio. E pequenos humanos com tédio reclamam, resmungam e também pedem água e comida a cada dois minutos. Depois da interrupção número 546, grito pedindo que o marido ajude o filho a encontrar a semelhança entre o titanic, um submarino e Netuno – que eu achei que fosse o Acquaman. Isaac, meu marido, chegou tentando fingir normalidade, mas no fundo sei que queria dizer que passou a manhã com as crianças sem me chamar e, portanto, a tarde seria minha.
A frase maravilhosa de apresentação foi formulada, reformulada e perdida na memória tantas vezes que não sei dizer. Então vamos começar, aqui pelo meio do texto, da casa cheia de brinquedos, da mesa de jantar que oscila entre escritório, oficina de construção de universos de massinha de modelar, anexo da escola e sala de comando de foguetes nas horas que sobram. Sou Elisama Santos, uma mulher negra, nordestina, abracenta – sofrendo de grave abstinência de abraços em tempos de pandemia – e que chora de gargalhar. Gargalho com corpo e alma e sustento as minhas lágrimas com o mesmo respeito e entrega que sustento o meu riso. Eis uma lição poderosa que aprendi faz um tempo: Jamais peça desculpas por se emocionar ou chorar. Então, não me desculpo pelos choros que tenho aprendido a libertar. Acolhê-los faz parte do meu compromisso de acolher a minha humanidade.
E por falar em acolhimento, esse será o foco das nossas conversas por aqui. Acolhimento de quem somos, do que sentimos. Acolhimento dos nossos filhos e sua complexidade. Acolhimento do que cabe e do que não cabe nos cartões de dia das mães e dos pais. Porque a vida real, aquela que foge a qualquer script, pede um exercício constante de acolhimento, compaixão e empatia.
Na Entre laços falaremos da construção de laços familiares fortes, saudáveis e que nos abraçam por toda a vida. Não trarei verdades ou um passo a passo pra que você consiga filhos calmos, tranquilos e obedientes, porque não sou afeita a promessas que não vou cumprir. Me comprometo, no entanto, a trazer novos olhares para as situações que nos afligem. Oferto, de coração aberto, a minha imperfeição e o que ela me ensina todos os dias. E quem sabe assim, entre lágrimas, risos e um colo de palavras amorosas, lidar com a criança que educamos e a que mora em nós se torne um caminho menos doloroso e solitário. Que os nossos encontros nos conectem, que a nossa troca traga um quentinho no coração. Até breve!
ELISAMA SANTOS É ESCRITORA, PALESTRANTE, PSICANALISTA, EDUCADORA PARENTAL E MÃE DE MIGUEL, 8 ANOS E DE HELENA, 6 ANOS.
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from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Colunistas/Elisama-Santos-Entre-lacos/noticia/2020/08/elisama-santos-sobre-apresentacoes-frases-maravilhosas-e-o-aquaman.html