A regra de distanciamento social de dois metros para conter a propagação do coronavírus é baseada em 'ciência desatualizada', afirmaram pesquisadores da Universidade de Oxford, Inglaterra, em artigo científico publicado nesta terça (25). Em vez de uma recomendação única de distanciamento social, os acadêmicos defenderam a criação de um guia com regras de rigidez variável de acordo com o risco de transmissão do ambiente.
No artigo publicado no Jornal de Medicina Britânico, os pesquisadores argumentaram que recomendações mais detalhadas proporcionariam maior proteção para pessoas em ambientes de alto risco e maior liberdade para quem está em locais mais seguros. De acordo com os cientistas, esse material “permitiria potencialmente o retorno à normalidade em alguns aspectos da vida social e econômica”.
Segundo os pesquisadores, os estudos que apontam dois metros como o distanciamento ideal para a proteção contra vírus são baseados em experimentos que começaram em 1897, se estenderam até 1940 e apresentam limitações de precisão. Eles argumentam que grande parte das pesquisas levava em conta o tamanho das gotículas, mas ignorava o potencial de transmissão do ar expirado.
No artigo, a equipe defende que as regras de distanciamento devem levar em consideração vários fatores que afetam o risco de transmissão, incluindo o tipo de atividade que será realizada, se será em ambientes internos ou externos, o nível de ventilação, o uso de máscaras protetoras e se as pessoas estarão falando ou em silêncio. Outros fatores importantes incluem a duração do contato com outras pessoas, a suscetibilidade de um indivíduo à infecção e a carga viral do transmissor, disseram os pesquisadores.
Estudos recentes descobriram que, em certas circunstâncias, as gotas de um espirro forte ou tosse podem se espalhar por até oito metros. “As regras atuais sobre distanciamento físico seguro são baseadas em ciência desatualizada”, disse em nota, Nicholas Jones, do Departamento de Cuidados Primários da Universidade de Oxford. “A distribuição das partículas virais é afetada por vários fatores, incluindo o fluxo de ar. As evidências sugerem que o Sars-CoV-2 pode viajar mais de dois metros em atividades como tossir e gritar. As regras de distanciamento devem refletir os múltiplos fatores que afetam o risco, incluindo ventilação, ocupação e tempo de exposição”.
Os pesquisadores defendem que são necessários mais estudos para determinas as distâncias apropriadas entre pessoas em diferentes ambientes. Eles concluem: “O distanciamento físico deve ser visto apenas como parte de uma abordagem mais ampla de saúde pública para conter a pandemia de Covid-19. Ele precisa ser implementado juntamente com estratégias de gerenciamento de pessoas-ar-superfície-espaço, incluindo higiene das mãos, limpeza, ocupação e gerenciamento de espaço interno, ventilação e equipamentos de proteção adequados, como máscaras.'
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