Thursday, November 28, 2019

Consistência é o segredo para dar limites

Mãe e filho conversando (Foto: Getty Images)

 

Vocês já se deu conta de que quando as crianças quebram regras, elas estão aprendendo a distinguir o certo do errado? Caso ainda não o tenha feito, é bom começar a pensar nisso. Até porque entender esse princípio vai te ajudar a compreender melhor seu filho e a maneira como vocês podem (e devem) agir diante de situações em que a orientação e intervenção do adulto sejam necessárias. O fato é que as crianças adoram testar limites. Quebrar regras e ver até onde podem empurrar esses limites é, em grande parte, a maneira como as crianças aprendem. Na verdade, essa é a tarefa dela. A sua, é agir como criador das regras, determinador de limites, aquele que as ajuda a diferenciar o certo do errado.

É claro que orientar a criança ou, no jargão mais conhecido, dar limites, não é a parte mais divertida da criação dos filhos, mas é a base sobre a qual bons cidadãos são construídos. Eu, particularmente, gosto muito de utilizar a palavra contorno ao invés de limites, porque contorno lembra colo, acolhimento e atenção. Essas três coisas juntas mudam sua relação com a criança e a forma dela ver o mundo. Mas nesse processo (de dar limites), é preciso ter em mente algumas coisas importantes para que ele não seja difícil nem para vocês nem para seus filhos. São três pontos chaves que gostaria de pontuar.

Seja consistente

Não importa quantos anos tenham, ao contrário do que alguns pensam, as crianças estão abertas às regras, mas os limites precisam ser claros para que se sintam confortáveis. Suas regras não precisam necessariamente ser escritas em pedra, mas devem ser basicamente as mesmas todos os dias. Esse é um assunto que sempre abordo em minhas palestras com os pais. Consistência é o segredo! Se você tirou os lápis de cera ontem quando seu filho começou a quebrá-los, eles devem desaparecer amanhã se ele começar a quebrá-los novamente. Este pode ser um pequeno exemplo, mas não importa qual seja a regra — lavar as mãos antes do jantar ou segurá-las quando forem atravessar a rua. Quando as crianças não sabem ao certo o que esperar — ou o que se espera delas — as regras parecem sem sentido e o incentivo para segui-las evapora. Mas quando eles sabem exatamente o que acontecerá se optarem por fazer x, y ou z, você quase garante que eles optarão por a, b ou c. Não se esqueça: consistência gera segurança, a falta dela gera confusão.

Ensine consequência à criança

Muitos pais acham que o castigo é a melhor saída para ensinar consequência às crianças. Posso te falar uma coisa? Não é! O castigo paralisa a criança, mas não ensina. A criança que não para quieta à mesa durante o jantar e acaba derramando o suco na mesa, aprenderá mais sobre consequências se tiver que ajudar a limpar a bagunça do que se for retirada pura e simplesmente da mesa. A consequência é mais eficaz porque ela consegue ajudar a criança a elaborar melhor o que está acontecendo com ela e o processo como um todo.

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Ofereça algumas opções

Essa é outra coisa que sempre falo para os pais. Por que entrar num jogo de queda de braço, se você pode limitar as opções para a criança e diminuir atritos? Dar opções é uma maneira inteligente de levar seu filho a fazer o que você quer, dando a ele a satisfação de sentir que a decisão partiu dele. O bom disso (pelo menos na maioria das vezes) é que você ainda decide o que acontecerá no final — mas é a criança que consegue escolher como é feito. Por exemplo, diga que é hora de se vestir: ofereça duas roupas aceitáveis e deixe-a escolher qual delas ela vai vestir. Depois, pergunte se ela deseja vestir suas roupas em velocidade regular ou super-rápida. Ela estará vestida em tempo recorde e, em pouco tempo, todos sairão pela porta sorrindo. É um processo de ganha-ganha!

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Como você pode ver, são princípios simples, mas que têm uma eficácia significativa sob a criança. Além disso, eles podem te ajudar muitono processo de orientar e dar limites aos seus filhos. Então, não perca mais tempo e coloque-os em prática já. Mas não se esqueça de ser persistente e consistente. Isso fará toda a diferença!

Mônica Pessanha é psicanalista de crianças, adolescentes e mães. É co-autora do livro "Criando filhos para a vida". É mãe de mãe de dois, um que virou “estrelinha” e da Melissa, 13 anos. (Foto: Arquivo pessoal)

 

 



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