
Hoje quero falar sobre um tema delicado, mas necessário: a obesidade infantil. Muitas vezes, quando pensamos nesse assunto, ainda surgem ideias simplistas como “é só fechar a boca” ou “falta brincar mais”. Mas a realidade é muito mais complexa e precisamos entender isso para cuidar de nossas crianças sem culpa e sem preconceito.
Obesidade infantil
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Quando o peso interfere na saúde
Hoje, uma em cada cinco crianças convive com obesidade, considerada a doença crônica mais comum da infância. E não se trata apenas de números na balança. Cada vez mais cedo, vemos meninos e meninas enfrentando problemas como diabetes tipo 2, hipertensão e alterações no colesterol, que antes eram restritos ao mundo adulto.
Infelizmente, a saúde da população pediátrica vem se tornando menos favorável a cada década, e muitos trabalhos científicos refletem essa realidade preocupante. Um estudo publicado no JAMA Network Open mostrou que, entre 2008 e 2023, a prevalência de obesidade em crianças e adolescentes aumentou de forma consistente. Ainda mais alarmante foi o crescimento da obesidade grave, que subiu 253% nesse período, estando associada a maior risco de disfunções metabólicas.
O diagnóstico é feito por meio do IMC para idade, mas só o médico pode interpretar o resultado. Afinal, cada criança está em fase de crescimento e merece um olhar individualizado.
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6 passos para prevenir a obesidade infantil
Por que isso acontece?
A obesidade infantil nunca tem uma causa única. É o resultado de uma combinação de fatores:
Ambiente: menos tempo para brincar ao ar livre, mais telas e uma enxurrada de propagandas de alimentos ultraprocessados.
Alimentação: porções maiores, refeições fora de casa, consumo crescente de refrigerantes e bebidas adoçadas que chegam a representar quase metade do açúcar que as crianças ingerem.
Atividade física: menos de 1 em cada 4 crianças pratica os 60 minutos de atividade física recomendados por dia.
Genética e família: filhos de pais com obesidade têm maior predisposição, mas o ambiente e os hábitos pesam tanto quanto os genes.
Condição socioeconômica: muitas famílias encontram dificuldade de acesso a alimentos frescos e a locais seguros para as crianças se exercitarem.
O peso do preconceito
Para além da saúde física, há algo que me preocupa profundamente: o estigma. Crianças com obesidade frequentemente enfrentam bullying, exclusão e comentários cruéis. Isso não só fere a autoestima, mas pode levar à ansiedade, depressão e transtornos alimentares. E aqui está um ponto fundamental: culpa e vergonha não curam. Pelo contrário, tornam o caminho ainda mais difícil.
Caminhos possíveis
O tratamento da obesidade infantil não se resume a “comer menos e se mexer mais”. Ele precisa ser pensado para cada criança, junto da família. Alguns passos importantes incluem:
Trazer a família para o processo: hábitos saudáveis só funcionam quando são coletivos, não impostos a uma única criança.
Transformar o movimento em prazer: seja na dança, nas brincadeiras, no esporte que desperta interesse.
Melhorar a relação com a comida: sem dietas radicais, mas com equilíbrio, apoio de nutricionistas e escolhas possíveis no dia a dia.
Cuidado integral: em alguns casos, pode ser necessário incluir tratamento medicamentoso ou até cirurgia, sempre em centros especializados e com suporte emocional.
Um convite ao cuidado
A obesidade infantil não é sobre estética, mas sobre saúde hoje e no futuro. Cada criança merece crescer em um ambiente que valorize escolhas saudáveis, mas também o afeto, o acolhimento e a liberdade de ser quem é, sem rótulos.
Se há algo que os estudos e a prática clínica nos ensinam é que, quando família, escola, profissionais de saúde e sociedade caminham juntos, as crianças não apenas alcançam melhores indicadores de saúde: elas florescem.
Um terço das crianças estará acima do peso até 2050: como prevenir a obesidade infantil?
Receita de Bolinho de Legumes no Forno (salgado e colorido)
Bolinho de legumes
Arquivo pessoal
Ingredientes:
1 cenoura ralada
1 abobrinha ralada
2 ovos
2 col. sopa de queijo branco ralado
3 col. sopa de farinha de aveia, temperos naturais (orégano, salsa, cebolinha)
Preparo:
Misture todos os ingredientes;
Coloque em forminhas de muffin;
Asse por 25 min a 180 °C.
Paula Pires é especialista em Endocrinologia, membro da Endocrine Society, Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e da Associação Brasileira para Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO). Também é idealizadora do projeto "Médicos na Cozinha" e editora do livro "Médicos na Cozinha"
Arquivo pessoal
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