Não é de hoje que se fala sobre os riscos causados pelo uso diário de telas pelas crianças. Muitos estudos comprovam o impacto no desenolvimento do cérebro das crianças pelo contato contínuo com celulares, tablets, computadores e video games. “Hoje, sabemos que o funcionamento neurológico permite prestar atenção em mais de uma coisa ao mesmo tempo. Porém, em se tratando de crianças, que precisam aprender a focar, ter outros estímulos, como uma TV ligada no momento da brincadeira, atrapalha”, explica a psicóloga Vera Zimmermann, coordenadora do Centro de Referência da Infância e da Adolescência da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
O estudo do Centro Médico do Hospital Infantil de Cincinnati, nos Estados Unidos, avaliou o tempo de exibição em termos de recomendações da Academia Americana de Pediatria (AAP), que não levam em consideração apenas o tempo gasto na frente das telas, mas também o acesso a elas, incluindo dispositivos portáteis, conteúdo e com quem as crianças estão e como elas interagem quando olham para as telas.
Foram envolvidas 47 crianças (27 meninas e 20 meninos) entre 3 e 5 anos de idade e seus pais. As crianças realizaram testes cognitivos seguidos por tensor de difusão, que fornece estimativas da integridade da substância branca no cérebro. Uma das conclusões mostrou que as crianças que têm mais tempo enfrente às telas têm menos quantidade de substância branca no cérebro nas áreas responsáveis por desenvolver a linguagem e alfabetização. E tais criaças também tiveram pontuações menores nessas habilidades.
A neurocientista Maryanne Wolf, doutora em Desenvolvimento Humano e Psicologia pela Universidade Harvard, afirma que “os livros estimulam uma leitura mais demorada, com pausas para refletir, criando um circuito de pensamento cognitivo sofisticado que contribui para o desenvolvimento da memória e da imaginação. Já as telas, sempre em movimento, diluem o foco de atenção, estimulam a realização de várias tarefas ao mesmo tempo e privilegiam o processamento rápido de uma grande quantidade de informações sem profundidade”.
O uso de entretenimento com base nas telas tem sido predominante e vem aumentando em casa, nas creches e nos ambientes escolares em idades cada vez mais jovens. Os resultados dessa pesquisa reforçam a necessidade de compreender os efeitos do tempo de tela no cérebro das crianças, particularmente durante as fases de desenvolvimento da primeira infância.
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