Dezenas de olhares atentos e trocas de experiências dominaram esta manhã de quarta-feira (27) durante o evento “Empresas pela Primeira Infância”, evento realizado pela CRESCER e pelo jornal O Globo, com parceria da Globo e da Associação Brasileira de Recursos Humanos e apoio da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal. O encontro aconteceu na sala Ballroom, no centro de convenções Rooftop 5, no bairro de Pinheiros e reuniu executivos, médicos, psicólogos e especialistas em recursos humanos para discutir como o mundo corporativo pode contribuir para um desenvolvimento saudável das crianças, especialmente nos primeiros anos de vida.
Na abertura do evento, Mariana Luz, CEO da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, ressaltou que a primeira infância, que vai do nascimento até os 6 anos, é o período da vida em que o cérebro mais estabelece conexões neurais, processo que é estimulado por interações positivas com os adultos. “Os pais não podem ter vergonha de sair do trabalho um dia mais cedo para levar o filho ao pediatra ou assistir a uma apresentação musical. As empresas têm um papel importante de trazer o discurso da valorização da primeira infância como período essencial do desenvolvimento humano à prática do cotidiano”, disse.
Logo em seguida, Beatriz Azeredo, diretora do Centro Social da Globo, reforçou que as normas das empresas não têm impacto apenas na vida de seus funcionários, mas em uma rede muito maior de pessoas: “As boas práticas corporativas se multiplicam para toda a comunidade ao redor. Cabe às empresas inovar pensando na sociedade que queremos ser”.
Primeira Infância e o Cidadão do Amanhã
A defesa da primeira infância saudável como prioridade continuou no primeiro painel do evento, em que o psicólogo Alexandre Coimbra, o pediatra Daniel Becker - ambos colunistas da CRESCER - e a Diretora de Comunicação da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal Paula Perim refletiram sobre os desafios que ainda existem para muitos pais no ambiente de trabalho, mediados pela Diretora Editorial da Crescer Daniela Tófoli.
A responsabilidade das empresas de criar um modelo em que seja possível equilibrar a família e as demandas do cargo, foi citada por Paula Perim, como um fator determinante para o desenvolvimento infantil. “É preciso uma vila inteira para criar uma criança e as empresas fazem parte disso”, afirmou. Alexandre Coimbra também reforçou a importância do convívio entre filhos e pais nos primeiros anos. “Quanto mais íntimos somos dos nossos filhos, maior é a qualidade da nossa conexão com eles. Se existe uma mãe ou um pai exaustos demais para cuidar e brincar com o filho, existe uma sociedade responsável que está se omitindo e precisa mudar”, disse.
Já Daniel Becker criticou a conduta de empresas que demitem mulheres depois que tem filhos. “Quando a mãe tem um horário flexível, que permite que ela conviva com o filho, pode ser uma funcionária excelente. A maternidade faz com que uma mulher aprimore muitas qualidades que as empresas procuram como resiliência, capacidade analítica e liderança e isso precisa ser valorizado”, defendeu.
Desafios, iniciativas e boas práticas
O segundo painel do encontro, mediado pela Editora Executiva de O Globo, Maria Fernanda Delmas, trouxe a experiência de especialistas em RH de empresas que se destacam na promoção de uma primeira infância plena. Entre outras iniciativas, Veronika Falconer, diretora executiva de RH da Takeda destacou a folga que os trabalhadores da empresa recebem no dia do aniversário dos filhos. “É uma prática que motiva os funcionários e permite que construam ainda mais memórias especiais com as crianças. A empresa tem que ser sensível aos diferente papeis da vida do trabalhador e não ver apenas o profissional”, afirmou.
Já a diretora de RH da Whirlpool, Flávia Caroni, ressaltou, entre as práticas de sua empresa, o fato de ter berçários no local de trabalho. “Esses lugares permitem uma interação maior da mãe e do pai nesses primeiros anos de vida tão importantes”, contou. E, para completar, Guilherme Rhinow, da Johnson & Johnson, trouxe a experiência da empresa com licença paternidade de 40 dias úteis, além de outras iniciativas. “Temos a crença de que tanto o pai quanto a mãe devem estar presentes no desenvolvimento da criança. É uma oportunidade de desenvolvimento de carreira com mais igualdade de perspectiva”, disse Rhinow.
Daqui pra frente
Apesar do aumento da conscientização sobre o assunto ainda há um longo trabalho a ser feito pelas empresas, acredita Paulo Sardinha, presidente da ABRH-Brasil, que reforçou seu compromisso com a temática durante o evento: “Como parte da sociedade, o setor privado tem que abraçar algumas causas e a primeira infância, além do impacto imediato, tem efeitos duradouros nos indivíduos”.
A falta de apoio a mães no trabalho é sentida na pele pela administradora Daniele Marques, 30 anos, que foi ao evento para entender o que as companhias já estão fazendo para apoiar mulheres como ela, que estão tentando se reposicionar no mercado depois de ter passado um período dedicada aos cuidados da filha Lorena, 1 ano e meio. “Não sabia que já existiam empresas preocupadas com isso e vim conhecer para, quem sabe, propor mudanças no meu ambiente de trabalho quando for contratada”, afirmou.
Para Daniela Tófoli, diretora editorial da Crescer, eventos como o “Empresas pela Primeira Infância” são importantes para estabelecer uma conversa com os tomadores de decisão da iniciativa privada. “Conscientizar os empresários sobre a importância do apoio às famílias nesse momento tão importante da vida, que vai de 0 a 6 anos, é fundamental para a construção de uma sociedade melhor”, defendeu. No que depender do entusiasmo dos presentes, o primeiro passo já foi dado.
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