O adoçante está sendo cada vez mais consumido por crianças, mas é preciso ter cuidado. É o que alerta a Academia Americana de Pediatria (AAP). Publicado na revista Pediatrics, um artigo sobre a dieta norte-americana aponta que 25,1% das crianças relataram consumir esse tipo de produto, de acordo com dados da National Health and Nutrition Examination Survey (Programa de Pesquisa Nacional sobre Exame de Saúde e Nutrição).
A maioria da ingestão vem das bebidas. Os dados mostram que a porcentagem de crianças que consomem bebidas adoçadas artificialmente aumentou de 1% para 7%. Os adoçantes foram introduzidos com o intuito de imitar o sabor do açúcar sem aumentar o valor calórico das bebidas e alimentos.
A Food and Drug Administration (FDA) dos EUA aprovou o consumo de adoçantes como sacarina, aspartame, acessulfame de potássio, sucralose e neotame. No entanto, para Academia Americana de Pediatria, ainda faltam estudos que comprovem a eficácia deles na dieta das crianças.
Para a pediatra Virgínia Weffort, presidente do Departamento Científico de Nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), o consumo de adoçante pode levar as crianças a comerem mais.
"Alguns trabalhos têm mostrado que o adoçante não produz a sensação de saciedade no cérebro (pelo fato de fornecer ao sistema nervoso central a percepção do sabor doce sem, contudo, fornecer as calorias)", explica. Esse cenário poderia confundir o metabolismo, levando ao desequilíbrio na homeostase glicêmica. Dessa forma, o indivíduo continuaria comendo e, com isso, a criança ou o adolescente comeria em maior quantidade.
A especialista também aponta que até o momento não há evidências consistentes ou conclusivas de que o uso de adoçantes permita reduzir a ingestão calórica total e consequentemente a perda de peso.
"No artigo da AAP, tem vários trabalhos conflitantes. Ainda são necessárias mais pesquisas para saber se tem algum efeito em diminuir a obesidade. Os trabalhos mostram que a ingestão de adoçantes pelo obeso está associada a taxas mais altas de síndrome metabólica, intolerância à glicose e diabetes", explica Virgínia.
A especialista destaca que não conhece nenhuma pesquisa nacional no Brasil sobre o consumo de adoçantes. "Mas observando as pesquisas do IBGE sobre hábitos alimentares da população, podemos observar o grande consumo de bebidas adoçadas artificialmente. A informação que o uso do adoçante emagrece, que é errada, faz com que grande parte da população consuma alimentos adoçados artificialmente sem necessidade", diz.
Virgínia orienta que o adoçante só deve ser usado no caso de crianças diabéticas e mesmo assim é essencial variar o tipo de produto para melhorar os estímulos das papilas gustativas, já que cada produto tem um potencial de sabor doce (ou doçura).
A pesquisadora explica que em crianças e adolescentes, a exposição precoce e prolongada a adoçantes pode alterar o paladar. "Só deve usá-lo quem for diabético que não tem como metabolizar a glicose. As outras crianças devem consumir o suco natural (da fruta) e se for usar suco artificial ou refrigerante, usar o normal", diz.
Segundo a médica, é importante que, desde o primeiro ano de vida, as crianças consumam frutas que tenham vitamina C e fibras, que contribuem para o funcionamento intestinal adequado. Além disso, é importante tomar água. "Alguns trabalhos têm mostrado a falta do consumo da água, algo que é importante para hidratação, funcionamento renal e intestinal.", afirma.
Tem adoçante?
O estudo da AAP apontou também que muitos pais têm dificuldades de identificar se um produto possui adoçante, 53% dos responsáveis afirmam que procuram apenas itens com açúcar reduzido, mas a maioria não reconhece que o sabor doce é proporcionado por um adoçante.
Para Virgínia, no caso do Brasil, os rótulos são de dificil entendimento para o público leigo. "Eles precisam ser mais claros. A SBP, o Idec e outras entidades da sociedade civil estão lutando pela implementação de novas regras", diz.
from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Criancas/Alimentacao/noticia/2019/11/25-das-criancas-consomem-adocantes-artificiais-alertam-pediatras.html