Desde quando engravidei, sempre quis fazer o tipo mãe desencanada. É comum termos algum modelo a seguir, não é? Fui para uma onda meio sem dieta restrita, sem diminuir o ritmo de vida por causa da gestação… Daquelas que querem subir no banquinho para guardar as roupas com a barriga de 8 meses já explodindo. Se desse, eu teria ido até a maternidade dirigindo.
Meu bebê nasceu e eu não fervia a chupeta quando caía no chão, queria sair mundo afora com ele no sling. Passear? Só com a bolsa de mão, com fralda e mamadeira. De resto, eu iria me adaptando, de acordo com a necessidade. Eu tinha vários exemplos de mães assim, algumas amigas com três filhos.
Quando via mães que tinham esse estilo, tudo parecia fluir tão bem... As crianças nunca ficavam doentes. No aeroporto, via esses pais viajando com os filhos numa boa, com livros e comidas que preparavam tranquilamente, depois de passar por uma feira orgânica. Achava tudo tão cool. E os brinquedos de madeira? Deus me livre desses de plástico! Babá para quê? Se eu não der conta de um bebê, do que vou dar?
Escolhi um modelo a ser seguido, algo que admirava e que, no início, copiava. Mas, cá entre nós: a mãe genuinamente desencanada não se programa para ser desencanada. Ela é. Hoje, me pego rindo desse meu projeto falido. Por algum tempo, acreditei que pelo fato de eu ter me programado milimetricamente para ser relax, isso se incorporaria ao meu jeito de ser. Mas não adiantou. Ao fazer a mochila para sair, levo repelente, soro fisiológico, três mudas de roupa. Quando faço a mala para uma viagem, parece que a criança vai ficar no destino um mês.
E o tal do sling? Meu filho sempre se debatia ali dentro. Eu suava inteira, toda enrolada. Não fervia a chupeta, mas isso acabou assim que ele pegou uma bronquiolite, com um mês de vida. Aí, comecei a querer limpar tudo. Os brinquedos de madeira são pesados para levar no passeio e não são tão fáceis de lavar. Minha ideia de que ele dormiria nos restaurantes, no carrinho, como acontece com as mães europeias, quase nunca rolou comigo.
Ainda tenho a esperança de acontecer com meu filho aquela cena que vivi muito na minha infância (sendo a terceira filha), de dormir nas festas juntando um monte de cadeiras e me cobrindo com o blazer do meu pai. Às vezes, uns guardanapos de pano. É engraçado que vejo vários adultos da minha idade romantizando essa cena! Vocês, não? Mas, sinceramente, não vislumbro um futuro promissor nesse aspecto, uma vez que meu filho é baladeiro e duro na queda. Ele se acostumou a dormir no berço dele e, até chegar em casa, não prega o olho.
Não consegui ser tão de boa. Não que eu me sinta como o oposto disso, a mãe noia, mas percebi que eu estava me estressando para ser zen. Juro que estou rindo aqui, me lembrando de algumas cenas! Eu, como mulher e ser humano, não sou assim. Saio da dieta, vou para o mato, mas adoro um belo ar condicionado. Sou a louca dos cheiros. Ando na bolsa com dois desodorantes e dois perfumes. Faço ioga, mas também amo muay-thai. Como eu queria ser hippie na maternidade, se não sou na vida? Falamos muito aqui na CRESCER sobre ser a mãe possível. Os melhores pais que podemos ser. E o que tenho notado é que não podemos nem colocar essa métrica de melhor ou pior porque, para isso, precisamos de um ponto de referência. Vale ficar de olho para saber se ele é possível ou utópico.
Namastê.
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