Amava uma agenda. E a primeira coisa que fazia era marcar os feriados do ano inteirinho. E lá ia eu, toda metida, cobrar os meus pais sobre o que iríamos fazer em cada um deles. Agora, eu, olha lá, pagando meus pecados, na minha recém-adquirida versão "mãe", planejando cada um dos feriados para os meus três pimpolhos.
Vamos à parte prática. Respira fundo, que agora é comigo. Feriados costumam ser curtíssimos, porém, sempre muito aguardados pelas crianças.
Planos e sonhos para alguns dias que custam a chegar e, se não forem bem planejados, podem ser frustração total para filhos e pais, independente da idade. Atire a primeira pedra quem nunca passou um sufoco nesse período. Afinal, conciliar os prazos e horários do mundo adulto com o infantil é missão apenas para os fortes - ou para que tem muita ajuda e imaginação de sobra.
Na minha última experiência, separamos cinco dias do mês para viajar com a família e com os amigos. Hotel bacana com tudo o que se espera de um resort à beira-mar, acomodações superconfortáveis e seguras para os pequenos, clubinho infantil, piscinas mil, brinquedoteca e, inclusive, uma copa preparada para os bebês. Pesquisa feita com antecedência e uma dose extra de sorte para que as datas se adequassem para todos. Bingo!
É gostoso e uma boa dica é aproveitar esses momentos para introduzir as crianças a aulas a céu aberto, interagir com a natureza, conhecer pessoas de todas as regiões, correr descalço... Recomendo sempre que possível.
Escolhemos o nosso hotel por eles: barulhento, agitado, comida farta, risadas frouxas, aquele delicioso modelo de férias.
À noite, pequeninos dormindo. Ou melhor: capotados em sono profundo.
+ Não julgue o desespero de uma mãe à procura de um banheiro
Nós, adultos, resolvemos jantar no hotel ao lado. Primeiras impressões: decoração impactante, tochas, móveis impecáveis, cardápio para chef algum colocar defeito. E poderia continuar descrevendo tantos luxos. Seguimos tateando o modelo. Diante da ausência de ruídos, nós e nossas risadas eram claramente um incômodo grave. Sinal vermelho.
Na mesa ao lado, uma bebê começando a caminhar e os pais, orgulhosíssimos, envolvidos com seus primeiros passos. Até o primeiro tombo. Choro. Rapidamente convidaram a pequena atleta e os pais de primeira viagem a se acalmarem na área da piscina. Abafa. Sinal vermelho novamente.
Socorro.
A única saída em tempos de intolerância é tolerar. Dialogar.
Não fomos capazes. Sorrisos amarelos. Nada sinceros. Voltamos para nosso hotel em silêncio. Muito barulho. Ufa! Enfim estávamos de volta ao tão esperado feriado em família.
Anny Burdman Meisler é mãe de Nick, 5 anos, Tom, 3, e Chiara, 1, e vive no mundo da decoração desde sempre. Depois da maternidade, tudo ficou mais colorido e ela mergulhou de cabeça nesse universo. Ideias de como montar o quarto dos sonhos, combinando a realidade com a fantasia dos nossos filhos, são com ela mesmo! Escreva para Anny pelo e-mail redacaocrescer@gmail.com.
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