Friday, May 22, 2020

Pandemia: escolas infantis de SP pedem ajuda para enfrentar crise

Escolas infantis enfrentam crise financeira (Foto: Getty)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Conforme a quarentena foi se estendendo e diante da falta de previsão de reabertura das escolas, Gilmara Guimarães, de São Paulo, tomou uma decisão: tirar a filha de 5 anos da escola. "Dois motivos me levaram a isso: financeiro e o fato de eu assumir o papel de professora. Com a pandemia de coronavírus, houve uma redução drástica nos nossos salários. Além disso, assumir o papel de professora implica em ir atrás de atividades e se empenhar diariamente para ensiná-la. Isso, somado as tarefas do dia a dia, deixou de valer a pena. Então, optamos por fazer homescholling", conta.

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Assim como Gilmara, muitos outros pais também estão sofrendo os impactos da quarentena e tentando equilibrar o trabalho com a educação dos filhos. Enquanto isso, as escolas já estão sentindo as consequências da crise causada pela pandemia. Marisa Santos, sócia e diretora pedagógica da escola Malabares Educação Infantil, em São Paulo, conta que tinha 22 alunos antes da pandemia, mas, hoje, são apenas 9. "De imediato, muitos pais solicitaram descontos. Com um mês de isolamento, vieram novos pedidos de redução. Nós fizemos reduções, oferecemos descontos, mas, ainda assim, muitos decidiram tirar os filhos da escola. Entendemos a situação das famílias, mas estamos numa situação bem crítica também. Entramos com pedido de redução de horas para todos os funcionários há mais de vinte dias, mas o pedido ainda está em análise. Até que seja aceito, precisamos arcar com os custos" conta.

Para ela, as empresas de pequeno porte precisam de ajuda. "Foi liberado um, mas não passamos na avaliação, assim como muitas outras empresas. Estamos mantendo oito funcionários, aluguel, impostos, contas de luz, água, internet, seguro obrigatório, alimentação, manutenção, material, entre outros. Sem ajuda governamental nesse momento é muito difícil continuar", lamenta. "Como profissional da educação que acredita na esperança, creio que irá acontecer o melhor. Porém, nesse momento, eu e minha sócia não conseguimos ver como manter a escola aberta. Nos resta a esperança, pois amamos o que fazemos e temos oito famílias que dependem diretamente da escola", finalizou Marisa.

"As solicitação de cancelamento são diárias"

Já Ana Lucia Fanganiello, mantenedora da Escola Free World-Anália Franco, de São Paulo, disse que as solicitação para cancelamentos de matrículas são diárias. "Também concedemos descontos, contudo, não conseguimos evitar alguns cancelamentos. Felizmente, a maioria dos pais que atendo estão sendo parceiros e compreendendo a situação, resta saber até quando. Pois, em maior ou menor grau, todos estão tendo sua renda afetada. Muitos pais, sobretudo da educação infantil estão sinalizando que se continuarmos sem a menor previsão de retorno não terão outra alternativa a não ser cancelar", disse.

"Existe uma crença equivocada de que as escolas tiveram grandes reduções de despesas, mas isso não procede. Nossa folha de pagamento, que representa a maior parte das despesas, junto com os alugueis, praticamente não reduziu. Em contrapartida, fomos obrigadas a investir e absorver os custos com ferramentas tecnológicas, treinamentos para toda equipe, além de compra e locação de equipamentos. A medida provisória publicada pelo governo de auxílio financeiro, parte não se efetivou e o restante não se aplica as particularidades das escolas", explicou. 

Ana Lucia faz parte do grupo Escolas em Movimento, que reúne mantenedores de 460 escolas de São Paulo. Em uma pesquisa rápida sobre os impactos da pandemia, de um total de 46, todas responderam que tiveram cancelamentos de matrículas. Pelo menos vinte já demitiram educadores ou outros funcionários e 45 afirmaram que a inadimplência cresceu — para a maioria, o aumento foi de cerca de 30%.

PEDIDO DE AJUDA AO GOVERNO

Diante do cenário, o contador Caio Contro, proprietário da Pense Consultores, escritório de contabilidade que trabalha exclusivamente com escolas particulares em São Paulo, decidiu ajudar. "Estamos vendo que as escolas de educação infantil são as mais afetadas, pois não têm conteúdo online. Isso tem feito os pais cancelarem matrículas, deixando as instituições em uma situação insustentável", explicou. 

O escritório criou uma petição online para arrecadar assinaturas. "Fica evidente que para o não fechamento das escolas, desemprego em massa de professores e auxiliares da educação se faz urgente e necessária a criação de uma linha de crédito ou um 'Voucher Educação' que garanta o faturamento, para que essas instituições possam continuar existindo", afirmou. O objetivo é reunir 20 mil assinaturas. Até esta quinta-feira (21), a petição reuniu pouco mais de 10 mil. "Nossa ideia é que é o governo garanta a mensalidade mínima para que as escolas possam continuar após a pandemia. Essas instituições estão numa linha muito tênue com a falência. O governo precisa olhar para essas microempresas", pediu.

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PALAVRA DE ÓRGÃOS LIGADOS À EDUCAÇÃO

Por email, o Ministério da Educação (MEC) disse que "mantém diálogo constante com o Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), além de outras entidades que representam as comunidades escolar e acadêmica, com o intuito de estabelecer medidas conjuntas que sejam as mais assertivas neste momento de enfrentamento à pandemia do coronavírus". E informou ainda que "criou o Comitê Operativo de Emergência (COE), em que fazem parte o próprio Consed e outras entidades e órgão vinculados ao ministério, para discutir, de forma integrada, as melhores soluções, dentro dos princípios da legalidade e da razoabilidade, visando o bem comum". 

Nossa equipe também entrou em contato com a Associação Brasileira de Escolas Particulares (Abepar). No entanto, por meio da assessoria de impresa, a Abepar informou que prefere não se pronunciar sobre o assunto nesse momento.

 



from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Criancas/Escola/noticia/2020/05/pandemia-escolas-infantis-de-sp-pedem-ajuda-para-enfrentar-crise.html