Passar a maior parte dos meses de gravidez no inverno ou no verão? Essa dúvida certamente já rondou a cabeça de quem pensa em engravidar. E as imagens idílicas de mulheres que exibem aquele barrigão em biquínis, roupas leves e coloridas, caminhando por praias ou outros cenários paradisíacos podem ser bastante tentadoras. Mas longe das fotos, que, muitas vezes, nos enganam nas redes sociais, o que há de mito e de verdade em ser uma gestante durante os meses de maior calor em um país tropical?
A empresária Dhafyni Mendes Borges, 34 anos, mãe da pequena Sofia, 7 meses, experimentou a gravidez no verão recentemente. Ela conta que, apesar de alguns contratempos, viu vantagens. “Meu primeiro filho, Nicholas, 14 anos, foi gestado durante o inverno, então, com a Sofia, percebi melhor os benefícios do calor. Entre as coisas que mais gostei, estava a possibilidade de usar roupas leves, porque é bem mais fácil de se vestir”, diz Dhafyni. “Na minha outra gravidez, eu morava em uma região fria, então havia a dificuldade de colocar as camadas de roupa. Quando já se está acima do seu número, tudo aperta... Pôr uma meia, por exemplo, que é algo simples, eu nem conseguia mais. Sempre precisava de ajuda”, relembra. “No verão, usava chinelo, sandália sem salto, e podia me calçar em pé mesmo”, diz.
A exemplo da experiência da empresária Dhafyni, que você vai ler mais a seguir, o verão tem suas particularidades para as gestantes. Por isso, para descobrir como manter o bem-estar, a saúde e a beleza nos dias de calor, conversamos com diversos especialistas, que trouxeram os cuidados essenciais para se viver uma gestação confortável e saudável – em todas as fases – nessa época do ano.
Inchaços e pressão baixa, uma constante
Apesar de dhafyni ter curtido passar a gravidez no verão, nem tudo correu tranquilamente. Além de enfrentar os desafios da pandemia de covid-19, ela também se recorda que a alta temperatura a fez se sentir mais cansada e indisposta. E como a empresária sofre de pressão baixa, os cuidados foram redobrados: “Falando da minha experiência, porque cada mulher sente a gravidez de um jeito, posso dizer que tive bastante tontura, inchaço nas pernas e nos pés. Também senti enjoos muito fortes a partir do terceiro mês, e eles duraram quase toda a gestação. Fui salva pela ingestão de líquidos, em gelos de água de coco, algo que é mais fácil de consumir no verão”, afirma.
“As grávidas, em geral, têm uma diminuição da pressão arterial, principalmente no primeiro trimestre, por causa de alterações hormonais que provocam o relaxamento dos vasos sanguíneos e, como consequência, uma pressão mais baixa. Essa característica piora no calor, então, a gestante pode ter mais sensação de moleza, desmaio, turvação da vista e dor de cabeça”, explica a ginecologista e obstetra Carla Betarelli, do Hospital e Maternidade Santa Joana, em São Paulo (SP). Ela ressalta que a grávida, normalmente, já sente mais calor do que o habitual por causa das oscilações hormonais. “A temperatura corporal fica mais alta e, juntando isso ao calor típico do verão brasileiro, ela sente um pouco mais de incômodo”, diz.
A médica destaca que mulheres com problemas circulatórios ou que ganharam peso além do recomendado podem se sentir ainda mais inchadas, principalmente nos membros inferiores: “As pernas e os pés sofrem com o inchaço devido à gravidade — e ficar muito tempo em pé ou sentada piora esse quadro”, diz.
Alerta terceiro trimestre
De acordo com a obstetra Carla Betarelli, o calor afeta ainda mais as grávidas no último trimestre de gestação. Isso porque o crescimento do útero dificulta o retorno venoso das pernas – que é a taxa de fluxo sanguíneo que volta ao coração: “Como consequência, há piora no acúmulo de líquidos nas pernas e pés, além do ganho de peso”, afirma. “Há também um aumento progressivo do hormônio estrogênio, sobretudo após o segundo trimestre, o que favorece a sensação de calor”, diz.
Foi o que aconteceu com a jornalista Melissa Adamo Rossi, 40, mãe de Francisco, 5. “Passei bem até o início do último trimestre, mas, no alto verão, meus pés incharam muito. Eu suava demais, estava pesada e lenta.” A experiência de Melissa retrata bem os efeitos da estação: “Tive episódios de pressão baixa, sem nenhum comprometimento, mas que me deixavam com a sensação de fraqueza”, lembra. Ainda assim, ela acredita ser mais desconfortável vivenciar os últimos meses de gravidez em temperaturas baixas: “Deve ser chato viver encapotada, cheia de roupa num corpo maior e mais pesado”, diz.
“O segundo trimestre seria ‘o melhor’ para passar durante o calor”, diz a obstetra. “Isso porque, mesmo nos três primeiros meses, ainda que a grávida não tenha ganhado peso ou exibido a barriga, é comum ela ter sintomas típicos desse período, como náusea, vômito ou falta de apetite. E, associados ao calor, eles requerem cuidados potencializados”, reforça.
Mas se é quase certo que inchaço, queda de pressão e maior sensação de moleza e cansaço podem acompanhar a gestante durante o verão, é possível se preparar para enfrentá-los? Para Carla, algumas medidas são essenciais, pensando na saúde como um todo: “Caso não haja nenhuma restrição à atividade física, a gestante deve manter uma rotina de exercícios. Eles só trazem benefícios por conta da movimentação do corpo e deixam a gestante mais ativa, além de auxiliarem na diminuição dos riscos de diabetes, hipertensão gestacional e controle do peso”.
A especialista também recomenda massagens de drenagem linfática e o uso de meias elásticas: “Ambas têm a função de estimular o sistema linfático e o retorno venoso. Isso diminui o inchaço no geral, mas principalmente na região das pernas”, diz. No mais, para enfrentar o calorão, vale o de sempre: banhos frequentes, buscar ambientes frescos e evitar ficar ao ar livre nos horários quentes.
Foco na dieta e na hidratação
Para a nutricionista Isabelle Albuquerque, do Centro de Medicina Integrativa do Hospital e Maternidade Pro Matre, de São Paulo (SP), o grande ponto de atenção da grávida deve ser a hidratação. “Durante toda a gestação, mas, principalmente, nos meses mais quentes, é importante prestar atenção à ingestão de líquidos”, afirma. Ela sugere, ainda, fugir dos produtos processados e ricos em conservantes, que colaboram com o inchaço e a sensação de mal-estar: “Recomendo não comer itens ricos em conservantes, corantes, sódio e glutamato. O excesso no consumo de sódio presente nesses alimentos pode alterar a palatabilidade da gestante e desequilibrar funções orgânicas, causando hipertensão e inchaço”.
Vale lembrar que a cafeína, por sua vez, é um estimulante do sistema nervoso central para a mãe e para o bebê, por isso deve ser consumida com moderação. Além do café, ela também está presente no cacau e em alguns chás e refrigerantes. Para a American College of Obstetricians and Gynecologists, grávidas devem evitar ingerir cafeína acima de 200 mg/dia – esse limite equivale a cerca de duas xícaras de café.
Outro item para passar longe são as bebidas alcoólicas, pois o feto não é capaz de eliminar o álcool que entra no sangue e passa pela placenta. Está comprovado que ele prejudica a evolução da gestação e a do próprio bebê, e pode causar danos irreversíveis a ele, como retardo mental e anomalias congênitas.
Para controlar os efeitos do calor de forma saudável, além da água, claro, há vários alimentos aliados: “Alguns itens podem até auxiliar no combate aos inchaços, quando incluídos em uma alimentação equilibrada. Esse é o caso do pepino, abacaxi, melancia, agrião e tomate, por exemplo, que são ricos em água, fibras e minerais – o que ajuda a fazer um detox no corpo. O mesmo vale para a semente de abóbora, abobrinha e espinafre, que também são ricos em fibras”, recomenda Isabelle Albuquerque.
S.O.S. melasmas e estrias
“A pele da gestante pode ficar mais sensível e ressecada por causa da gravidez e da revolução hormonal que acontece no corpo. Por isso, há risco de apresentar irritação e coceiras, além de ficar mais avermelhada, o que pode se intensificar no verão. A recomendação é se hidratar bastante – por dentro e por fora”, diz a dermatologista Luciana Maluf, do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo (SP), e do Ambulatório de Laserterapia da Faculdade de Medicina do ABC, em Santo André (SP).
A especialista reforça que é comum a pele da grávida se tornar mais suscetível a manchas, inclusive ao melasma (que surge, principalmente no rosto, e costuma ser resistente a tratamentos). Uma pesquisa que avaliou artigos médicos publicados na Scientific Electronic Library Online (SciELO) mostrou que 90% das mulheres que engravidam sofrem com o aparecimento de alguma mancha na pele. E o melasma afeta entre 50% e 75% das gestantes. “Por isso, é fundamental passar protetor solar todos os dias e usar chapéus e roupas com proteção contra raios solares”, explica Luciana. Em ambientes fechados, a dermatologista recomenda FPS 20. Para quem tem mais chances de ficar exposta aos raios solares no decorrer do dia, FPS 50.
Outra preocupação para quem engravida é lidar com o surgimento ocasional de estrias e com a celulite. “Ambas têm causas multifatoriais. A estria pode apresentar maior incidência por causa do ressecamento da pele do corpo no verão, mas, mesmo se ela estiver muito hidratada, precisa se considerar o fator genético, o ganho de peso ou o crescimento rápido da barriga. Já a celulite pode ter uma piora por causa das questões de circulação na gravidez. Por isso recomenda-se a drenagem linfática”, diz Luciana. Para a dermatologista, o ideal é pensar na prevenção, o que significa caprichar na hidratação com cremes emolientes potentes, além do uso de óleos com vitaminas C, D e A, e de rosa mosqueta.
Para gestantes que têm a linha nigra – ‘marca’ que, por questões hormonais, surge e fica mais aparente e pigmentada na linha média do abdômen – atenção! “Ela pode escurecer com a exposição solar e piorar no verão. Assim, é essencial a fotoproteção adequada não só dessa região, mas do corpo todo, uma vez que a radiação solar estimula a pigmentação do corpo inteiro”, explica a dermatologista Aline Iglesias, da Clínica Adriana Cairo (SP).
Por fim, a acne também merece atenção. “Na gestação, em geral, ela ocorre por influência hormonal. No verão, a pele do rosto pode ficar mais oleosa e, se não for tratada adequadamente, tende a piorar. Importante saber que não é qualquer tipo de produto de skincare que está liberado para gestantes. Assim, é preciso seguir as orientações do seu dermatologista”, diz Aline Iglesias.
Gestante na moda!
Um dos pontos positivos de ver a barriga crescer na temporada de calor é abusar de roupas leves, sapatos que não precisam ser amarrados e não se preocupar com o corpo à mostra. Mas ser uma grávida no verão não significa deixar de lado o estilo próprio de se vestir: “Não abra mão do que você gosta. Adapte, busque alternativas. Sua autoestima vai agradecer”, afirma a stylist e consultora criativa Fernanda Ary (@fe_ary), que atua em São Paulo (SP) e também online. Ela adianta que, mesmo no início da gestação, pode ser que a mulher note o corpo se transformar, ainda que a barriga não apareça: “As roupas tendem a ficar mais justas e incômodas, por isso, uma boa solução é apostar em looks oversized (roupas mais soltas). É chique, atual e superconfortável”, reforça.
Entre as peças-chave para esse momento, Fernanda ressalta a versatilidade de looks no estilo quimono ou caftã por cima do que a mulher já estiver vestindo. Outra opção é usar a peça aberta sobre looks mais justos. “Nas minhas duas gestações, eu não quis investir em roupas de grávidas, já que não as usaria por muito tempo. Então, comprei algumas poucas peças para flexibilizar as minhas opções para o dia a dia, como um jeans neutro com elástico na cintura”, sugere Fernanda Ary. “Como sempre gostei de itens mais soltos e amplos, pude usar o que tinha no armário. Para quem quiser seguir esse caminho, o mood boyfriend também funciona: adote camisas e jeans do marido/namorado para fazer um look casual e descontraído.” Caso essa não seja a sua vibe, a estilista recomenda vestidos soltos com abertura ou abotoamento frontal. “Eles terão sobrevida no período pós-parto e são práticos para a amamentação”, diz.
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