- O bebê nasce pela boca? Perguntou o menininho para a sua mãe, provocando aquele riso gostoso que a gente dá quando o filho fala algo bonitinho.
Mas a questão é de se parar para pensar.
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Saímos do ventre materno. O parto é, oficialmente, o momento do nascimento. Mas nesse estágio a nossa existência é precária e depende dos que nos rodeiam. Nos é dado um nome, uma família e um contexto. Sem estes presentes, que nos são ofertados logo de partida, ficaríamos sem um fio da meada para construir nossa própria história, que por um lado é construída por nós, mas também nos constrói.
O processo que se inicia ali, no dia do nascimento, coloca esta questão: por onde a gente realmente nasce como sujeito? Sujeito desejante, que fala e se coloca no mundo. É pela boca? Não é por ela que saem os nossos pensamentos, ideias, vontades e recusas?
Engolimos o mundo vorazmente, como só os seres humanos são capazes de fazer.
Começa pelo nosso próprio corpo, cujas partes acessíveis vão direto para a boca, num ritual minucioso e incansável. Mãos e pés, como que numa coreografia, são capturados primeiro pelo nosso olhar sedento e depois pela boca num entra e sai sem fim. Chupamos, mordemos, destruímos para construir e observamos tudo como cientistas que dissecam um fenômeno. A descoberta das partes, gradativamente, vai formando o todo.
Uma porta de entrada é como podemos considerar a boca do bebê e nada passa incólume por ela. Os olhos bem abertos e atentos são como radares em busca de novas descobertas.
Tudo muito lindo e poético. E assim seguimos, construindo a nós mesmos e o mundo, dando-lhe cores e nomes.
Quem já segurou um bebê nos braços sabe, ele nos olha e nós o olhamos de volta hipnotizados por essa fome de relação. Uma avalanche de coisas acontece nessa simples troca de olhares!
Não é à toa que as mães cantarolam quando falam com seus bebês. A música embala e investe de significados os sons que ainda não fazem sentido para ele. E enquanto os lábios maternos se movem o bebê tudo devora.
Dali, daquele pequeno corpo onde só existiam a fome, o sono, o frio, o calor... Emerge um sujeito.
Aliás, como questionava o menininho, nasce alguém. É da boca que surgem as palavras, que representam seus sonhos, desejos, medos e receios.
Por isso tudo, e um pouco mais, podemos dizer que sim! É pela boca que nascemos!
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from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Colunistas/Chris-Nicklas-Amamentar-e/noticia/2020/07/chris-nicklas-por-onde-gente-realmente-nasce-como-sujeito.html