Friday, January 24, 2020

Aplicativos de controle parental: entenda como funcionam e por que têm feito sucesso

O que as crianças são capazes de fazer com um celular nas mãos? (Foto: Thinkstock)


 

O uso do celular pelas crianças virou rotina na vida de muitas famílias brasileiras. Às vezes, os pequenos pedem um aparelho para assistir a um vídeo ou jogar um game específico, mas por causa do dia a dia acelerado dos pais, o que era pra ser só 10 minutos pode se transformar em meia hora e fica difícil controlar as atividades realizadas nesse tempo de tela. Os aplicativos de controle parental se vendem como uma solução para esse problema, permitindo que os adultos monitorem o conteúdo visto pelas crianças mesmo que não estejam ao lado delas. Mas será que isso é saudável?

Nas lojas online, os aplicativos de controle parental somam milhões de downloads e oferecem diversas funções. O Screen Time, por exemplo, cria um relatório mostrando os minutos que foram gastos com cada aplicativo durante o uso do celular e oferece uma função de bloqueio de tela caso a criança ultrapasse um limite de tempo predeterminado pelos pais.  Já o Google Family Link, que já foi baixado mais de 300 mil vezes na Play Store, permite que os pais acompanhem a localização das crianças em tempo real e escolham quais aplicativos os filhos podem ou não instalar no aparelho, entre outras funcionalidades.

Há também o aplicativo Bosco, que além das funções anteriores, exceto a de bloqueio de tela, envia um alerta para os pais sempre que uma mensagem ofensiva ou vídeo ou imagem impróprios forem exibidos no aparelho da criança. Em entrevista à Crescer, o israelense Enon Landenberg, criador do aplicativo e pai de três filhos afirmou que a ideia do produto veio do convívio com os pequenos. “As crianças estão enfrentando cada vez mais ameaças online, como bullying e pornografia, e não contam para os adultos. Acredito que os alertas são importantes para iniciar conversas em família sobre assuntos delicados. No nosso caso, os pais não tem acesso a todas as imagens ou mensagens enviadas e recebidas pelos filhos, apenas as que são inapropriadas, preservando a privacidade das crianças”.
 

Mãe e filha usando celular (Foto: Thinkstock)

 

Os aplicativos citados são apenas alguns exemplos de um mercado que conta com dezenas de produtos desse tipo e não para de crescer. Para a neuropsicóloga especialista em psicologia do desenvolvimento (USP) Deborah Moss, o uso de aplicativos desse tipo não é necessariamente negativo, desde que seja feito um acordo com a criança antes da instalação.

“Os filhos precisam saber exatamente o que está sendo fiscalizado e o motivo” afirma Deborah. “Para que não se torne uma ferramenta persecutória, os pais devem se esforçar para construir e fortalecer uma relação de confiança com as crianças. Não acredito que impor restrições por meio de aplicativos é efetivo na maioria dos casos porque os pequenos, que já nasceram nessa época tecnológica, vão encontrar uma forma de burlar qualquer trava. A principal ferramenta de controle continua sendo o diálogo”.

Deborah ressalta ainda que, no geral, é melhor esperar para dar o primeiro aparelho à criança. “O ideal é que isso aconteça depois dos 11 anos quando, do ponto de vista neurológico, a área frontal do cérebro, responsável pela autocrítica e controle da impulsividade, já está mais desenvolvida”, explica. “Entendo, porém, que existem algumas dinâmicas familiares que tornam necessário que a criança tenha um aparelho para se comunicar antes dessa faixa etária e, nesses casos, é importante, antes de qualquer coisa, negociar de forma clara como ele deverá ser usado, determinando quais aplicativos podem ser instalados e qual será o tempo de uso”.

No ano passado, a Organização Mundial de Saúde divulgou a recomendação de que bebês menores de um ano não sejam expostos a aparelhos eletrônicas e que crianças entre 2 e 4 anos não devem passar mais do que uma hora por dia em frente a telas, o que inclui celular, tablet, televisão e computador.



from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Criancas/noticia/2020/01/aplicativos-de-controle-parental-entenda-como-funcionam-e-por-que-tem-feito-sucesso.html