Tuesday, February 12, 2019

#MeuMomento: "Não me enxergava como eu era. Apenas me via gorda, feia, destruída"

Ligia Virdes com seus dois filhos: Lucas, de 2 anos, e Catarina, de 4 meses (Foto: Arquivo pessoal)

 

"Desde que o Lucas nasceu, passei a ficar muito tempo em casa. Havia decidido que me dedicaria estritamente à sua criação e, no caminho, abri mão de muitas coisas. Fui me entregando à maternidade, o que, em troca, foi minando a minha vaidade. Sempre gostei de estar com o cabelo arrumado e com a unha e a sobrancelhas feitas, mas esse meu lado adormeceu quando virei mãe. Ao sair na rua, meu filho estava sempre bonito e ajeitado, enquanto eu, literalmente, vivia me escondendo.

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Quando descobri que estava esperando a Catarina, que hoje tem 4 meses, logo pensei: “Eu preciso fazer diferente desta vez”. Me propus a levar a gestação de outra forma. No início, foi muito difícil. Meio que me afundei no primeiro trimestre por estar enjoada e mal humorada. Após essa fase, decidi que era hora de pensar em mim e que, quando a Catarina nascesse, eu precisava levar a maternidade de uma outra forma.

Ela nasceu e eu ajustei minha rotina com uma frase ecoando na minha cabeça: “Preciso pensar em mim”. Com isso em mente, comecei a organizar as mamadas — estamos em fase de amamentação exclusiva — de uma forma que sobrasse tempo para que as necessidades de ambas (as minhas e as dela) fossem atendidas.

Quando um bebê nasce, passamos bastante tempo cuidando só dele. Então, quando você se dá conta, já é meio-dia e você não conseguiu arrumar o próprio cabelo e trocar de roupa. Foi aí que eu comecei a pensar de outra forma: não tem uma fralda de cocô que faça com que eu não possa escovar os meus dentes, me arrumar, pentear o meu cabelo e começar o meu dia.

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Comecei a marcar coisas que eu não conseguia fazer mais há tempos: manicure, cabeleireiro, esteticista. Estou tentando cuidar mais da minha alimentação e (re)começar a fazer atividade física: fiz balé durante 18 anos. Parei um pouquinho antes de engravidar do Lucas, quando tive uma lesão no quadril. Tentei voltar algumas vezes, mas só agora estou conseguindo colocar isso de novo na minha vida.

Além disso, assim como foi com o balé, comecei a escrever para extravasar. Criei um perfil no Instagram para compartilhar textos baseados na minha experiência com os meus filhos. Para mim, esta é uma forma de colocar os pensamentos no lugar e refletir sobre a minha relação com eles.

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Parei de me preocupar apenas com a beleza e o bem-estar das crianças e passei a pensar mais em mim. Faz diferença, né? Não é apenas uma questão física, mas também (e principalmente) uma questão de olhar para si mesma além do espelho. No balé, vivemos muito isso. Cada movimento seu, harmônico ou não, é refletido no espelho. Acredito que parei de me enxergar no espelho há quase quatro anos, quando engravidei pela primeira vez. Não via como eu era. Apenas me via gorda, feia, destruída — mesmo que os outros me dissessem que estavam o contrário, porque, afinal, não estava destruída por fora, mas por dentro. Por isso, é necessário dar valor a essas pequenas coisas que fazem o dia ser mais nosso e nós sermos mais nós mesmas".

Lígia Virdes, mãe de Lucas, 2 anos, e Catarina, quatro meses.

Grave ou relate a sua experiência também e poste nas redes sociais usando a hashtag #MeuMomento. É falando sobre o assunto que conseguiremos desmistificá-lo e ajudar as mulheres a se enxergarem além da maternidade.

 



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