Thursday, February 21, 2019

As mães também choram

Chorar na frente dos filhos: será que tudo bem? (Foto: Pexels/ Zun Zun)

 

A primeira vez que meus dois filhos mais velhos me viram chorar – um choro ardido, alto e com soluços – ficaram paralisados. Eles estavam me enlouquecendo e diante das dificuldades e mazelas momentâneas que não tinham nada a ver com eles, despenquei. O mais novo perguntou: "Onde tá doendo?". Coube ao mais velho responder: "Os adultos choram porque estão tristes. Meu pai já chorou".

A catarse teve fim e ficamos todos mais calmos depois disso. Mas chorar na frente dos filhos é sempre um dilema. Não porque chorar é feio ou coisa de gente fraca, mas porque não temos certeza se expor nossas tristezas mundanas aos pequenos é bom ou ruim. Depois de alguns choros em família, eu diria que baixar as muralhas das nossas fortalezas pode ser bom, mas também pode ser ruim.

Explico: mostrar que pais e mães também sentem dor e que o choro é uma expressão genuína de nossos sentimentos é bom. Mas exagerar na dose pode sobrecarregar quem ainda acha que choro é sinal de machucado ou de algum pedaço faltando.

Juntando meus dez anos de maternidade (meu mais velho tem 10 e minhas mais novas 6 meses) e as lembranças que tenho dos meus pais quando eu era pequena, percebo que, do ponto de vista da criança, pais e mães são um pouco super-heróis. Grandes, fortes, firmes e acolhedores. E manter esses status deixa as crianças seguras.

Claro que vestir a fantasia não vale. A ideia é que sejamos mesmo um tanto fortes para segurar a barra, mas, como bem sabemos, nem sempre dá. E ser a mãe que conseguimos é muito importante para não cairmos na vala da culpa eterna.

 

É nessa hora da balança, onde de um lado tem a firmeza que queremos passar e do outro a tristeza que nos corrói, que muitas vezes choramos. E daí a tristeza leva. Choramos a dor (qualquer que seja) e também aquilo que não estamos conseguindo fazer. Faz parte.
O que não faz parte, ou não deveria fazer (porque, né?) é cair na vala da tristeza e não encontrar o caminho de volta. Porque deprimir, se arrastar e ter dificuldade de lidar com algumas situações fazem parte da vida. Mas dar estrutura para as crianças também.

Por isso, tenho, cá para mim, que no momento em que qualquer coisa me faz desaguar preciso pedir ajuda. Ajuda de verdade: para cuidar das crianças (longe das lágrimas) e ajuda para mim (para secá-las ou contê-las em níveis saudáveis). Porque só consigo ser uma super-heroína se estou ancorada e bem acompanhada.

- Sim meu amor, os adultos choram quando estão tristes, mas abraço de filho é um santo remédio.

- Igual beijo de mãe em machucado?

- Exato!

Lia Bock topo (Foto: Arquivo pessoal)

 

Lia Bock é jornalista, escritora e mãe de 4 crianças. É autora do Meu primeiro livro, um diário inclusivo para registro dos primeiros anos de vida e do Manual do mimimi, com crônicas sobre relacionamento. Também é colunista do UOL e editora da Plataforma Hysteria. Na sua casa todos podem riscar a parede e comer a sobremesa na frente da TV '-)



from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Colunistas/Lia-Bock-Meus-filhos-minhas-regras/noticia/2019/02/maes-tambem-choram.html