Nos últimos anos, a introdução alimentar virou tema de debate entre especialistas e crenças que permaneceram por um longo tempo como verdades absolutas foram desbancadas pela ciência. Em entrevista à Crescer, o pediatra especialista em alergia alimentar, Jean-Christoph Caubet, da Universidade de Genebra (Suíça), falou sobre as novas recomendações da área. A conversa aconteceu pouco depois da participação de Caubet no X Simpósio Internacional de Alergia Alimentar Girassol, realizado pela Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI) no fim do ano passado. Confira:
Quais são as principais dicas para os pais durante a introdução alimentar em relação à alergia?
Primeiramente, não é recomendado atrasar a introdução de nenhum tipo de alimento, pois, de acordo com os estudos mais recentes, isso aumenta o risco de alergia. A partir dos seis meses, uma grande diversidade de alimentos deve ser oferecida para o bebê.
Não recomendo, porém, dar alimentos exóticos, que nunca fazem parte do cardápio da família porque se um bebê experimenta, por exemplo, camarão, e depois fica uma década sem comer até consumir o fruto do mar novamente, ocorre um aumento no risco de alergia.
A recomendação principal é cortar a comida que você consome no dia a dia em pedaços menores e oferecer para a criança. Quero ressaltar também que não existe uma norma fixa quanto a ordem em que os alimentos devem ser introduzidos, varia de acordo com a orientação de cada pediatra.
As nozes, castanhas e outras oleaginosas, a que muitas pessoas tem alergia, também devem ser introduzidas antes dos dois anos?
Recomendo que sim. O problema com esses alimentos não tem a ver com alergia mas com o risco de um bebê menor de dois anos aspirar uma pequena oleaginosa e ela ir parar no pulmão. Por isso, sugiro que os pais façam um mix das oleaginosas que mais consomem, batam no liquidificador e deem para o bebê em pequenas quantidades junto com a comida. Geralmente, oferecer essa mistura duas vezes por semana é o suficiente.
Ao introduzir o alimento pela primeira vez, porém, recomendo que o pó seja feito com apenas uma oleaginosa específica para avaliar se a criança já tem alguma reação alérgica inata aquele elemento.
Por que hoje em dia vemos um aumento tão grande da alergia alimentar em crianças?
Estamos pesquisando muito sobre isso, mas, na verdade, ninguém sabe. Talvez sejam heranças genéticas, alterações ambientais, mudanças nos hábitos alimentares... Há fortes indícios de que uma série de fatores está envolvida nesse fenômeno, mas ainda não conseguimos determinar exatamente qual o peso de cada um deles.
from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Bebes/Alimentacao/noticia/2020/02/3-perguntas-e-respostas-sobre-alergia-e-introducao-alimentar.html