O que a impede de cuidar mais do seu corpo e da sua mente? Para Flavia Palheiros, 43 anos — mãe de Alice, 10 anos, Ana Clara, 13, e Felipe, 4 — o problema era o medo. "O medo e a culpa de sair de casa e deixar as crianças para fazer algo por mim", afirma. Até que, em um determinado momento, ela foi obrigada a tomar uma atitude, pois estava colocando a própria saúde em risco. "Venci o medo e mudei meu estilo de vida. Eu era sedentária, estava acima do peso e a corrida me transformou. Hoje, cada vez que saio para correr, eu agradeço", afirma.
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Depois de mudar radicalmente, a fisioterapeuta — que largou a profissão para se dedicar exclusivamente aos três filhos — resolveu influenciar positivamente outras pessoas, principalmente mulheres e mães. E ela faz isso através do perfil @corro_pra_descansar no Instagram. Em entrevista à CRESCER, ela contou como saiu do sedentarismo e se tornou uma corredora de maratona rumo ao triatlo!
"Sou carioca, mas mudei para São Paulo há 14 anos. Na época, meu marido viajava muito. Sem rede de apoio, decidi abrir mão da carreira para cuidar dos meus filhos. Em 2013, com duas filhas — Ana Clara tinha 7 anos e Alice, 4 — e aos 37 anos, eu me vi com quase 20 kg acima do peso. Nessa época, a endocrinologista me falou: 'Flavia, você precisa fazer algo! Seus exames estão aletrados, seu colesterol está alterado, seu açúcar também'.
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Na infância, eu sempre fui a última a ser escolhida nos times da escola e era péssima com qualquer tipo de esporte. Não me sentia bem. Mas a médica insistiu que eu precisava fazer alguma atividade física, até por risco do diabetes retornar — eu tive diabetes gestacional. Lembro até hoje da frase dela: 'Cuidar das crianças é um trabalho e você precisa estar bem e saudável para fazer isso'. Aquilo ficou na minha cabeça. Na época, eu pensei: 'Meu Deus, qual esporte eu vou fazer?' Eu sempre via as pessoas na rua correndo e achava o máximo, mas não entendia nada disso. O que me impedia era o medo e a culpa de sair de casa e deixar as crianças para fazer algo por mim. Mas quando eu ouvia aquilo da médica, eu senti a necessidade de me cuidar, pois percebi que isso iria refletir diretamente nas crianças. Se eu estou feliz e com saúde, meus filhos também vão se beneficiar disso. Então, comecei a fazer caminhadas na praça, intercalando com corrida.
Aos poucos, eu comecei a aumentar os quilômetros de corrida e diminuindo a quantidade de tempo da caminhada. A cada dia, eu percebia que conseguia, sozinha, vencer o medo e fazer um esporte que me dava prazer. Vi que aquilo realmente poderia fazer parte da minha rotina. Paralelo a isso, fui melhorando também a alimentação. Foi assim que, no final do mesmo ano, fiz minha primeira corrida de rua. Quando cruzei a linha de chegada e coloquei a medalha do peito, me senti no pódio — e olha que eu estava muito longe de ganhar, devo ter sido a última. Mas me senti tão poderosa; eu sabia que seria capaz de ir mais longe. Então, não parei mais. Fui aumentando a quantidade de quilômetros, participando de mais provas e entendendo melhor o mundo das corridas.
Até que, em 2015, aos 39 anos, fiquei grávida novamente. Foi a melhor surpresa da minha vida! Afinal, eu sempre quis três filhos. Já tinha duas meninas e veio nosso menino, Felipe. Nessa época, estava no pique, mas cancelei algumas corridas. O complicado era a bexiga, tinha muita vontade de ir ao banheiro, mas contiuei correndo até os 6 meses. Para a minha surpresa, a terceira gravidez foi muito diferente das outras duas — quando era completamente sedentária e tive, além da diabetes, paralisia facial. Nessa, eu estava em um nível altíssimo de atividade física e, apesar de estar com 39 anos, não tive nenhum problema. Engordei 16 quilos na gravidez, e assim que o obstetra liberou, voltei a correr. Amamentei Felipe até 1 ano e meio, mas consegui conciliar os três filhos e minha rotina de treinos.
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Em 2016, entrei em uma assessoria de corrida e comecei a me dedicar ainda mais. Tanto que resolvi fazer minha primeira maratona — de 42 quilômetros, é muita coisa! Até então, eu só conseguia correr meia maratona, ou seja, metade dessa distância. Eu tinha medo de não conseguir. Então, dois anos depois, eu participei. Foi em Porto Alegre. Na época, eu treinava uma média de 50 a 60 km por semana. Quando cruzei a linha de chegada, passou um filme na minha cabeça, pois lembrei daquela pessoa que ficava no banco, chorando e era a última a ser escolhida na escola.
A corrida é um esporte democrático, maravilhoso, que mexe com o seu corpo, que transforma sua maneira de ver a vida e me ajudou a vencer o medo! Eu tinha uma autoestima muito baixa, tinha medo de perder, mas na corrida você não perde nunca. Você pode até não ficar em primeiro lugar, mas só ganha, pois se sente tão bem naquela consquista, que não importa o tempo, como você corre ou o corpo que você tem. O importante é que você trace uma meta e cruze a linha de chegada. É um desafio grande, a gente abre mão de muitas coisas, dedica-se meses antes, cuida da alimentação, faz fisioterapia... Mas quando termina, é incrível! Foi tão bom, que eu queria essa sensação de novo. Então, em 2019, fiz minha segunda maratona. Dessa vez, em Buenos Aires, na Argentina. Nessa, meu marido e meu filho foram comigo. Foi emocionante. Peguei meu filho no colo e cruzei a linha de chegada com ele.
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De uns meses pra cá, comecei também a nadar e andar de bicicleta. Ano que vem, quero me preparar para o meu primeiro triatlon — que une corrida, natação e ciclismo. Mas, até lá, ainda quero participar do aquathlon— que mescla natação e corrida — e outras maratonas. Paralelo a tudo isso, é claro, a prioridade continua sendo as crianças. Sei que não ganho dinheiro correndo — apenas endorfina, um estilo de vida saudável e muito alegria!"
from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Familia/Saude-e-Beleza-dos-pais/noticia/2019/12/eu-era-sedentaria-estava-acima-do-peso-e-corrida-me-transformou-diz-mae-de-tres.html