Tentem imaginar a seguinte situação: faltam 5 minutos para sair de casa para deixar seu pequeno ou pequena na escola. Você não tem muito tempo extra. A cena se repete quase todos os dias. No último segundo, seu adorável pequeno começa: “Não quero ir para escola. Estou com dor de estômago, ouvido, barriga, etc.” E mais: “Ninguém na escola gosta de mim!” A coisa não para por aí. Ele se desaba em lágrimas e implora para você deixá-lo em casa. Assim, o que deveria ser uma rotina matinal simples se transforma em um desafio assustador.
Diante dessa situação, você tenta de tudo: conversar, combinados, argumentos, histórias. Tenta assegurar que você virá ao seu encontro se algo acontecer para que se sinta seguro. Nada funciona. A essa altura, você recorre à raiva e dá um aviso sobre as consequências: se não sair agora, ficará uma semana sem iPad! Ele sai. Finalmente você conseguiu. Você o deixa no portão da escola e imediatamente você se sente invadida por um sentimento de culpa.
Se isso te parece familiar, saiba que você não está sozinha. A maioria dos pais moveria montanhas para aliviar a dor do filho. Pais de crianças com ansiedade moveriam montanhas, planetas e estrelas. Dói ver seu filho se preocupar com situações que, francamente, não parecem tão assustadoras.
O fato é que para algumas crianças, certas situações parecem ser genuinamente ameaçadoras. E as ameaças percebidas podem criar uma resposta real do sistema nervoso. Chamamos essa resposta de ansiedade. Obviamente, que estou expondo a coisa de forma bem simples.
O que aprendi enquanto profissional é que, embora não exista uma solução única para a ansiedade, há uma infinidade de ótimas técnicas baseadas em boas pesquisas cientificas que podem ajudar seu filho a gerenciar a ansiedade dele. Muitas dessas técnicas são bem simples de aprender e ser aplicadas.
Seu filho se preocupa. Você sabe que não há nada com o que se preocupar e começa a falar com seu filho sobre isso. Acontece que seu filho ansioso quer desesperadamente ouvi-lo, mas o cérebro não deixa que isso aconteça.
Durante os períodos de ansiedade, há uma rápida descarga de substâncias químicas e transições mentais executadas em nosso corpo que disparam o instinto de sobrevivência em nós. O córtex pré-frontal - ou a parte mais lógica do cérebro - fica em espera, enquanto o cérebro emocional mais automatizado assume o controle. Em outras palavras, é realmente difícil para seu filho pensar com clareza, usar a lógica ou até mesmo se lembrar de como executar tarefas básicas nesses picos de ansiedade. O que você deve fazer em vez de tentar racionalizar a preocupação para ele? Use a estratégia que chamo de a-CUDA.
• Congele - faça uma pausa e respire fundo com seu filho. A respiração profunda pode ajudar a reverter a resposta do sistema nervoso.
• Use de empatia - a ansiedade é assustadora. Seu filho quer saber que você entende isso.
• Deixa a culpa pra lá - deixe a culpa de lado; você é uma mãe incrível, dando ao seu filho as ferramentas para gerenciar suas preocupações.
• Avalie - assim que seu filho estiver calmo, é hora de descobrir possíveis soluções.
Ensine aos seus filhos que se preocupar realmente tem um propósito. Quando nossos ancestrais estavam caçando e coletando comida, havia perigo no ambiente, e a preocupação os ajudou a evitar ataques tigres com dentes de sabre à espreita no mato. Nos tempos modernos, não precisamos fugir de predadores, mas ficamos com uma marca evolutiva que nos protege: preocupação.
A preocupação é um mecanismo de proteção. A preocupação toca um alarme em nosso sistema e nos ajuda a sobreviver ao perigo. Ensine aos seus filhos que a preocupação é perfeitamente normal, pois isso pode ajudar a nos proteger, e todo mundo experimenta isso de tempos em tempos. O que não pode acontecer é termos uma preocupação que simplesmente nos paralisa e nos impede de realizar coisas em nossa vida.
Lembre-se de que a preocupação é a maneira do cérebro de nos proteger do perigo. Para garantir que realmente prestamos atenção, a mente geralmente exagera o objeto da preocupação (por exemplo, confundir uma vara com uma cobra). Você já deve ter ouvido que ensinar seus filhos a pensar de maneira mais positiva pode acalmar suas preocupações. Mas o melhor remédio para o pensamento distorcido não é o pensamento positivo e sim o pensamento preciso. É um exercício simples de fazer. Tente:
• Pegue um pensamento - imagine seu pensamento preso num balão de diálogo (como nas histórias em quadrinhos). Agora, pegue um dos pensamentos de preocupação de seu filho, como "Ninguém na escola gosta de mim".
• Colete evidências - Em seguida, colete evidências para apoiar ou negar esse pensamento. Ensine seu filho a não fazer julgamentos sobre o que se preocupar com base apenas em sentimentos. Sentimentos não são fatos. (Evidências de apoio: “Tive dificuldade em encontrar alguém para almoçar ontem.” Evidências de negação: “João e eu fazemos a lição de casa juntos – ele é meu amigo.”)
• Desafie seus pensamentos - A melhor (e mais divertida) maneira de fazer isso é ensinar seus filhos a ter um debate consigo mesmo.
Como você sabe, dizer aos seus filhos para não se preocuparem não os impedirá de fazê-lo. Se seus filhos pudessem simplesmente afastar seus sentimentos, eles o fariam. Mas permitir que seus filhos se preocupem abertamente, em doses limitadas, pode ser útil. Crie um ritual diário chamado "Tempo de Preocupação" que dura de 10 a 15 minutos. Durante esse ritual, incentive seus filhos a liberar todas as suas preocupações por escrito. Você pode tornar a atividade divertida decorando uma caixa de preocupações. Durante o tempo de preocupação, não há regras sobre o que constitui uma preocupação válida - vale tudo. Quando o tempo acabar, feche a caixa e diga adeus às preocupações do dia. Se eles ainda não sabem escrever, eles podem falar e você escreve.
Observar seu filho sofrer de ansiedade pode ser doloroso, frustrante e confuso. Não há pais que não se perguntem uma vez ou outra se eles seriam a causa da ansiedade do filho. A ansiedade geralmente é o resultado de vários fatores (genes, fisiologia cerebral, temperamento, fatores ambientais, eventos traumáticos passados etc.). Lembre-se de que você não causou ansiedade no seu filho, mas pode ajudá-lo a superá-lo.
Então vá em direção de um objetivo de vida emocional mais saudável e equilibrada para você e sua família, praticando a autocompaixão. Lembre-se, você não está sozinho(a) e não tem culpa. É hora de deixar de lado a autocrítica debilitante e se perdoar. AME a si mesmo(a). Você é o campeão ou a campeã do seu filho.
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