Quando acreditamos que estamos fazendo algo por vontade própria, fazemos felizes, sem nos queixar, sem nem sentir o cansaço. Já quando cremos que fazemos algo porque alguém nos obriga, nos exige, porque nos pagam ou porque nos darão um prêmio se o fizermos, porque alguém, definitivamente, quer que o façamos, então executamos a atividade a contragosto, nos cansamos, tentamos evitar…
O importante, observe, não é o que ocorre de verdade, mas o que acreditamos que acontece. Durante anos, você deseja ser engenheiro, estuda, se esforça, supera todos os obstáculos. Mas agora que uma empresa pede para você trabalhar com isso, deixa de sentir que faz porque quer. Seu desejo é que chegue logo o fim do dia, o fim de semana, as férias, para poder assistir a alguma partida de um esporte do qual você gosta ou uma apresentação musical, o que, ainda por cima, você precisa pagar para poder aproveitar.
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Se quisermos enganar alguém, é preciso levar essa pessoa a acreditar que deseja, voluntariamente, fazer algo. Assim, ela fará. Para isso, serve a publicidade: para me fazer acreditar que não é o empresário que quer me vender um carro, mas, sim, que sou eu que quero comprá-lo.
Mas não é fácil fazer publicidade. Quem faz é especialista, planeja tudo com muito cuidado, e, ainda assim, a maioria das pessoas que vê o anúncio não compra o carro.
Seria muito difícil enganar nossos filhos para fazê-los acreditar que eles desejam estudar. Mas, felizmente, não é preciso fazer isso. Porque, na realidade, quase todas as crianças querem aprender. Se algo nos diferencia como espécie é o nosso profundo e insaciável desejo de saber das coisas. Por isso, criamos a civilização, a ciência, a arte. Por isso fazemos palavras cruzadas e sudoku; porque são difíceis.
O problema não é como estimular nossos filhos a estudar. Eles já querem aprender. Quase todos. E se alguma criança não quiser, provavelmente nada do que fizermos vai fazê-la mudar de opinião.
A questão é que, com nossas tentativas erradas de como fazê-los estudar, muitas vezes o que conseguimos é apagar essa chama. Nós os convencemos de que não estão aprendendo porque querem, mas porque seus pais ou seus professores obrigam, porque vão aplicar uma prova, porque vão ficar com raiva se forem suspensos ou porque vão ganhar uma bicicleta se forem aprovados. No final, muitos adolescentes parecem incapazes de se lembrar da história de seu país, mas têm na ponta da língua a escalação dos times de futebol e conhecem de cor a evolução dos Pokémons ou as genealogias e as batalhas de Game of Thrones. Eles concentram seu desejo de saber naquilo que ninguém os obriga a aprender.
Não obrigue seus filhos a estudar. Permita que eles estudem.
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