Parecia um dia comum para a educadora Vanessa Caetano de Araújo Rosa, 39 anos. Ela é professora há um ano na Escola Municipal de Ensino Fundamental João Hornos Filhos, em Carapicuíba, na região metropolitana de São Paulo.
Por volta das 11h50, ela estava na sala de aula com os seus alunos do terceiro ano, à espera dos pais e do pessoal do transporte.
“De repente, surgiram duas crianças na porta e me disseram: `nós viemos buscar o João*’. Prontamente, eu disse que não permitiria, afinal, duas crianças não podem ser responsáveis por outra. Eles me contaram, então, que a moça que iria levar o João estava no andar de cima aguardando por eles. Eu avisei a eles que ela deveria descer até a minha sala.
Ela chegou na porta e chamou o João*: ‘pega suas coisas e vamos’. E olhei para o meu aluno e perguntei se estava tudo bem. Ele disse que a mãe havia começado a trabalhar. Eu convidei a mulher para entrar na minha sala e expliquei que não havia nenhum aviso sobre isso na agenda e que ela deveria subir e pedir autorização na Secretaria.
Ela falou: ‘É, eu sei, mas eu estou com pressa’. Entrou na minha sala e logo foi puxando o aluno. Eu estava sentada na minha mesa, levantei e avisei ao João que não pegasse a mochila e disse a ela que as coisas não funcionavam assim.
A criança ficou ali no meio, sem saber para quem obedecia. Enquanto ela puxava a mochila dele de um lado, eu tentava impedir que ela saísse segurando do outro. Então, ela me deu um tapa no peito. Eu comecei a gritar, pedindo ajuda, e ela me deu outro tapa no peito. Os outros pais estavam do lado de fora da sala observando, mas ninguém me ajudou. As crianças ficaram todas assistindo a cena em um canto da sala.
Ela me empurrou, puxou a criança, fez gestos obscenos, debochou da minha cara e saiu. Uma colega entrou na sala e me ajudou. Enquanto isso, a escola fechou os portões para impedir a saída dela, chamou a Guarda Escolar e Darliza Carvalho, supervisora das Escolas Municipais de Ensino Fundamental de Carapicuíba.
A mãe do aluno veio buscá-lo. Eu e a agressora, que é vizinha da mãe, ficamos na escola. Recebi todo o apoio da supervisora e fomos para a delegacia registrar um boletim de ocorrência. Lá, a mãe do aluno foi chamada, assim como a minha colega que testemunhou a agressão. Em nenhum momento, a mãe do aluno que defendi dirigiu a palavra a mim.
Hoje estava marcada uma reunião de terceiro bimestre na escola, que não aconteceu. Com muita dor, eu enfrentei mais um dia de trabalho para mostrar aos pais e aos meus alunos que a minha missão é olhar por eles sempre. Realizamos um debate no pátio da escola, em tom de protesto. A agressora, cujo filho estuda aqui, mas não na minha sala, estava aqui. Ficou me encarando. Coagida, pedi que a Guarda ficasse por perto. Estou aflita por tudo o que aconteceu por aqui”, finaliza Vanessa em entrevista exclusiva à revista Crescer.
Poucos minutos após o ocorrido, Vanessa usou as redes sociais para fazer um post: "Vc está trabalhando e apanha de uma mãe, pq estava protegendo a criança... Os pais tudo olhando, ninguém faz nada... A escola, também não faz nada.... Isso é um absurdo... Estamos abandonados... Ninguém olha por nós... O professor está largado.... Não somos nada.... Não valemos nada.... Profissão ingrata", disse ela. O post já tem mais de 9 mil compartilhamentos.
Em nota, a Prefeitura de Carapicuíba disse:
"A Prefeitura de Carapicuíba lamenta o caso ocorrido na Escola João Hornos.É importante esclarecer que a Secretaria de Educação está prestando todo auxílio à professora, oferecendo inclusive atendimento psicológico.
A Guarda Municipal esteve na escola em poucos minutos do ocorrido. Além disso, a própria secretária de Educação acompanhou a professora na Delegacia. Todos os envolvidos prestaram esclarecimentos à polícia, que está investigando o caso.
A Prefeitura ressalta que a conduta da professora de não liberar o aluno sem autorização prévia foi correta, pois os profissionais da educação prezam a segurança das crianças. Toda escola deve ser comunicada pelos pais, caso outra pessoa esteja autorizada a buscar o aluno. Vale a pena destacar que esse foi um caso isolado, que não reflete a conduta dos pais de alunos da rede pública municipal de Carapicuíba."
*O nome verdadeiro da criança não pode ser divulgado
from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Criancas/Escola/noticia/2019/10/professora-e-agredida-por-mae-ao-tentar-defender-aluno-em-sp.html