Uma conversa me intrigou muito, em 2009, quando fui empossado embaixador do Unicef (Fundo Das Nações Unidas Para A Infância). Eles tinham feito um projeto de diálogo com as comunidades das periferias do Rio de Janeiro, perguntando o que eles queriam. Para minha surpresa, um dos dados que apareceram foi a recusa de ter uma escola de segundo grau dentro de uma favela.
O Unicef foi averiguar um pouco mais e o argumento era: se aqui tiver essa escola, provavelmente virão os piores professores, teremos mais falta de estrutura e não vamos circular pela cidade. Porque queremos ter o direito de andar em todos os lugares, e queremos que as crianças andem por todos os lugares também.
Como é bom escutar! Esse tema também envolve o transporte escolar que, muitas vezes, meus filhos pedem. Em nossa casa, optamos por nós ou algum familiar levá-los e buscá-los todos os dias na escola. É aquela velha questão: para ter pai e mãe presentes, é preciso empenho porque o trânsito não ajuda, o trabalho até tarde faz com que, de manhã, às vezes, estejamos cansados. Mas, ainda assim, vale a pena.
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Explicamos para os nossos filhos que esse momento, quando batemos papo no trânsito, estimulamos as atividades deles na escola.
Na volta, quando perguntamos como foi o dia, descobrimos o que aprenderam ou não, as dificuldades e os possíveis problemas de relacionamentos. Isso, para nós, é muito precioso.
É claro que o transporte escolar é um grande auxílio na vida atribulada, mas espero que mantenhamos esse privilégio, que é levar os filhos para a escola. Circular com eles é fundamental. Muitas vezes, o que vemos nas ruas e no olhar da criança não permite que a gente ‘se cegue’ ao que acontece numa parada de farol, e faz com que tenhamos diálogos que têm a ver com a interação com a cidade.
Me lembro de quando era pequeno, sem ter carro, e minha tia-avó, Elenita, me levar a pé para a escola. Era um momento em que a insegurança que temos ao andar pelas ruas hoje não existia. Íamos conversando sobre diversos assuntos, desde as pessoas até as pedras ou as mudanças que encontrávamos no caminho até o colégio.
O assunto é fascinante e traz sempre novas pontas, como a inscrição nas escolas públicas e o direito de escolher entre estudar numa instituição próxima da sua casa para economizar o dinheiro do transporte ou estudar mais longe para circular pela cidade. Independentemente da solução que a sua família tenha encontrado, é importante sempre manter os olhos abertos e ocupar todos os lugares.
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