- Quer ver uma série ou um filme?
- Prefiro um joguinho de futebol.
- Mas está passando um jogo da Série-B...
- Não tem problema, quero ver mesmo assim...
O diálogo é entre mim e Julia, às 7 da manhã, antes de ela ir para a escola. Tenho 41 anos, adoro jogar bola desde sempre, já quis ser jogador profissional, jogo num time de veteranos e amigos e trabalho com futebol. Minha filha tem 7 e mal conhece as regras do jogo. Pode não parecer, mas quem está falando que quer assistir à tal partida na televisão, mesmo sendo entre dois times da Segunda Divisão, e mesmo não sendo ao vivo, é ela. O futebol definitivamente pegou Julia!
O curioso é que eu nunca quis forçar nenhuma barra. Pelo menos, essa era a ideia. Nem em relação a torcer para time A ou time B, nem a gostar do que é uma das minhas paixões.
Julia tem devorado futebol. Quer jogar toda hora em casa, já temos várias marcas de bola na parede. Passa quase todo o tempo que tem no recreio da escola jogando futebol. Gosta de falar de contratações, dos jogos que vão acontecer, de quem é artilheiro e de quem está machucado.
Quando pára em frente à TV para assistir a algum jogo, ela gosta de me perguntar o que ainda lhe gera dúvida. “Por que escanteio e córner são a mesma coisa? Por que o jogo parou? O que é impedimento mesmo?” são algumas das perguntas que ouvi ultimamente. Tenta acertar quem está jogando, de acordo com as abreviaturas do placar. “FLAxFLU” já é fácil de saber, mas e quando aparece um “CAM” (Clube Atlético Mineiro) e um “CAP” (Clube Atlético Paranaense)?
Ela adora fazer o sinal do VAR. E como o uso do árbitro de vídeo é uma novidade que tem quase o mesmo tempo de uso que o tempo em que Julia anda curtindo futebol, estamos quase empatados nesse assunto. Ela já sabe tanto quanto eu quando o assunto é VAR. Julia gosta de falar toda orgulhosa que, um dia desses, assistiu a uma partida entre Juventus e Tottenham. Fala para todo mundo ouvir que o Juventus é o time de Cristiano Ronaldo, e o Tottenham é o de Harry Kane!
Como escrevi lá no início, tentei não impor nada. Mas, no fundo, sei que é natural que nossos filhos carreguem em suas personalidades muito do que nós, pais, somos. E a verdade é que é uma maravilha poder falar e jogar futebol com ela!
Bruno Côrtes é pai de Julia, 7 anos. Já viveu um ano e meio longe da filha por causa do trabalho. Foi correspondente do SporTV em Nova York. Hoje, aproveita cada minuto ao lado dela. E tenta adequar a vida corrida de jornalista com a de pai.
from Crescer https://revistacrescer.globo.com/Colunistas/Bruno-Cortes/noticia/2019/09/julia-virou-boleira.html